No final de abril, a morte do publicitário Yuri Castro, de 23 anos, desencadeou uma onda de pânico na região central de São Paulo. Segundo as autoridades, o jovem permaneceu desaparecido por seis dias após deixar uma sauna gay, próximo ao Largo do Arouche. O caso, que gerou comoção nas redes sociais, levantou relatos sobre a possível existência de outros homens homossexuais desaparecidos na região, até então não confirmados pela polícia.
Como Yuri desapareceu?
Yuri Henrique Gabriel Santos de Castro estava hospedado no Hotel Chilli – localizado no Largo do Arouche, em Vila Buarque – quando desapareceu na madrugada de segunda-feira, 22 de abril. Conforme registrado no boletim de ocorrência, ele foi resgatado por uma ambulância do Samu, a 900 metros do local de partida, na rua General Osório. Não foram fornecidos detalhes sobre seu estado no momento do resgate.
O jovem chegou a ser levado para UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Vergueiro, porém veio a falecer logo depois. Em contrapartida, o estabelecimento negou qualquer relação com a morte do rapaz, “não tendo havido qualquer agressão ou ação contundente em face do hóspede”.
Por meio de uma nota, o Hotel Chilli informou que Yuri deixou as dependências da sauna às 04h25 do dia 22, “vindo a falecer horas depois”. Em nota divulgada no X, a casa mostrou condolências pela vítima e acrescenta que o hotel e os seus funcionários não têm responsabilidade sobre o ocorrido – além de estar contribuindo com as investigações.
A morte de Yuri despertou a atenção dos movimentos LGBTQIA + sobre a possibilidade de um crime por homofobia, juntamente com outros supostos desaparecimentos de homens gays por crimes de ódio.
Outros casos de desaparecimento não são confirmados pela polícia
O caso de Yuri gerou postagens especulativas no X, antigo Twitter, causando pânico e preocupação na comunidade LGBTQIA+. Segundo relatos de internautas, o número de desaparecimentos de homens LGBTQ+ no centro da capital paulista seria significativamente maior, muitos dos quais estariam seguidos por crimes de ódio na área do Largo do Arouche, o mesmo local onde Yuri desapareceu.
A repercussão do episódio chamou a atenção de figuras importantes do ativismo LGBTQIA+, como da deputada federal Erika Hilton (PSOL), que solicitou informações ao secretário de Segurança Pública de São Paulo sobre os supostos desaparecimentos de homens gays na cidade. “Estou extremamente preocupada com os relatos e denúncias de possíveis desaparecimentos e mortes de homens gays na região central de São Paulo nos últimos dias”, afirmou
A Polícia Civil, por outro lado, não confirmou os rumores sobre os sete desaparecimentos de homens gays, afirmando que o único caso em investigação era o de Yuri. Ela solicitou que qualquer outra denúncia fosse registrada como ocorrência oficial por meio de um boletim.
Em 19 de abril, um outro registro de desaparecimento foi feito envolvendo um homem de 36 anos, que supostamente se envolveu em uma briga dentro de uma casa noturna, também localizada na região central da capital. Logo depois, ele foi encontrado no Conjunto Hospitalar Mandaqui e, após receber alta médica, retornou para a sua residência. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a vítima alega não se lembrar do ocorrido.
Investigações da morte de Yuri e a relação do Hotel Chilli
O responsável pelo hotel, Douglas Drumond, disse que Yuri era um frequentador assíduo do local. Em um áudio divulgado pela BandNews FM, o segurança do Hotel Chilli conta que Yuri deixou a sauna às 04h25, após relatar aos funcionários que estava sendo perseguido dentro do espaço. Ele pediu a conta, porém não tinha condições de pagá-la. A dívida era de quase R$800,00.
O publicitário, então, saiu correndo em direção ao Terminal Amaral Gurgel, e o segurança foi atrás para abordá-lo com um vigia do terminal. O homem alega que segurou Yuri pelo pescoço e pelo braço para guiá-lo de volta ao estabelecimento. Já próximo ao local, Yuri se tornou agressivo e perturbado, resultando em um confronto físico no qual ele foi derrubado. O funcionário afirma ter conseguido segurar o roupão de Yuri, mas o cliente o tirou e fugiu novamente, deixando para trás seu celular e a chave do quarto.
Ainda no áudio, o funcionário também mencionou um “procedimento” do hotel caso o cliente não pagasse. Douglas Drumond, proprietário do estabelecimento, disse ao UOL que a sauna aplica uma “pressão” sobre os funcionários para que fiquem atentos em seus postos e evitem que clientes inadimplentes deixem o local.
Desfecho e causa da morte de Yuri Castro
O caso de Yuri deixou de ser classificado como homicídio após a Polícia Civil obter imagens que comprovam a causa de sua morte. Pela câmera de segurança, é possível ver o jovem caindo nu de um prédio de seis andares, na região da Santa Ifigênia – local onde foi resgatado –, no Centro de São Paulo.
Ivalda Aleixo, delegada encarregada do caso e chefe do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), disse que a queda foi de dez metros de altura e não há a possibilidade de ter sido empurrado,- pois o local é um comércio e estava vazio. Uma perícia foi feita, mas a investigação ainda permanece. Segundo o laudo do Instituto Médico Legal (IML), Yuri morreu de politraumatismo e teve “hipoxemia” (falta de oxigênio no sangue) e “choque hipovolêmico” (perda, em grande quantidade, de líquidos e sangue).
Autoridades ouviram testemunhas, fizeram apreensões e trabalharam com a hipótese da causa da morte ter sido acidental. Apesar disso, a família ainda não acredita nessa versão. “Ele [amigo] deu essa versão, que o Yuri saiu correndo, os seguranças foram atrás, trouxeram ele de volta e logo em seguida ele fugiu de novo. Só que é muito ilógico, como é que você, segurança, deixa uma pessoa fugir duas vezes, do mesmo local? Tem muitas pontas soltas, ninguém sai correndo nu no meio da rua, desaparece e aparece morto”, afirmou Larissa Cristine Santos de Castro, irmã de Yuri.
O Brasil continua a liderar o ranking de país que mais mata pessoas LGBTQIA + no mundo, segundo os dados da ONG GGB (Grupo Gay da Bahia). Mas afinal, quando vamos sair dessa posição?
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O artigo acima foi editado por Camila Iannicelli
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