Her Campus Logo Her Campus Logo
Culture > Entertainment

Dia do Cinema Brasileiro: clássicos do Cinema Novo para conhecer o audiovisual no país 

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Para celebrar o Dia do Cinema Brasileiro, comemorado em todo 19 de junho, a Her Campus Cásper Líbero te convida a conhecer um pouco do Cinema Novo, movimento importantíssimo na história do audiovisual do país.

O que é o Cinema Novo e como surgiu?

No final da década de 1950, o cinema brasileiro encontrava-se em um momento de paralisação, dominado por produções escapistas como comédias e romances, falhando em retratar a realidade do país. Nesse contexto, um movimento liderado por nomes como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Ruy Guerra e Paulo César Saraceni propôs romper com os padrões tradicionais, construindo uma nova linguagem cinematográfica.

 Um grupo de jovens cineastas, insatisfeitos com a superficialidade da cena cinematográfica, desejava uma mudança radical. Inspirados por movimentos como o Neorrealismo Italiano e a Nouvelle Vague Francesa, buscavam criar um cinema autoral, fora dos grandes estúdios, e comprometido com a realidade social do Brasil, diferente das produções hollywoodianas. Não demorou muito para esse movimento ganhar fama internacional.

 Assim, nasceu o Cinema Novo, que embora tenha chegado ao fim na década de 1970, marcou para sempre a história do cinema brasileiro e mundial.

Glauber Rocha

 Entre os cineastas do Cinema Novo, Glauber Rocha se destaca como a figura mais emblemática e influente. Poeta, roteirista e cineasta, Glauber tornou-se a voz do movimento, lutando por um Brasil mais justo e igualitário. Seus filmes, como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra em Transe” e “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, são grandes símbolos marcados por essa era inovadora, pela crítica social clara e pela linguagem poética. O poeta não se contentava em apenas mostrar a realidade brasileira; ele também a questionava.

As Três Fases do Cinema Novo

 Apesar de manterem os mesmos ideais ao longo de todos os filmes do movimento, o Cinema Novo é dividido em três fases:

1ª Fase (1960-1964): Marcada por filmes que retratam a vida real do povo brasileiro, com foco no sertão, na miséria e na exploração. Obras como “Vidas Secas” de Nelson Pereira dos Santos e “Cinco Vezes Favela” de um coletivo de diretores se tornaram clássicos dessa fase, eternizando essa luta no celuloide.

“Os cineastas brasileiros, principalmente no Rio, na Bahia e em São Paulo, levaram suas câmeras para as ruas, o país e as praias em busca do povo brasileiro: o camponês, o trabalhador, o pescador, o morador das favelas”, descreveu Cacá Diegues, um dos líderes do movimento.

2ª Fase (1964-1968): Uma resposta à ditadura. Com o golpe militar de 1964, o Brasil entrou em um período de repressão e censura. O Cinema Novo respondeu com filmes mais metafóricos, buscando formas de escapar da censura e expressar suas críticas ao regime. Filmes como “O Bravo Guerreiro” de Gustavo Dahl e “O Desafio” de Paulo César Saraceni refletem a angústia e a repressão do período, utilizando metáforas e simbolismos para burlar a censura e transmitir suas mensagens.

3ª Fase (1968-1972): A influência do Tropicalismo. A terceira fase foi quando começou a época mais sombria da ditadura militar, quando temas políticos não podiam ser diretamente abordados nos filmes sem risco. Então a temática mudou, inspirada pelo movimento tropicalista, utilizando novas formas de expressão, incorporando elementos da cultura popular brasileira e da vanguarda artística. Filmes como “Macunaíma” de Joaquim Pedro de Andrade e “Iracema” de Carlos Diegues exploram a identidade brasileira com cores vibrantes, humor e questionamento dos valores tradicionais do país.

6 filmes do Cinema Novo para assistir

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1961) – Glauber Rocha

“Deus e o Diabo na Terra do Sol” segue a jornada de Manuel e Rosa pelo sertão nordestino após matarem seu patrão opressor. Eles se refugiam em uma comunidade messiânica liderada por Sebastião, enquanto são perseguidos pelo matador de aluguel Antônio das Mortes. O filme aborda temas como messianismo, violência e conflito social, terminando em uma narrativa impactante e violenta que reflete a luta do povo contra estruturas opressivas. Assista aqui.

Os Fuzis (1964) – Ruy Guerra 

“Os Fuzis” é ambientado no árido nordeste do Brasil, acompanhando soldados em uma simples missão de entregar fuzis, que se transforma em um retrato vívido das desigualdades sociais e da brutalidade enfrentada pelos mais pobres. Ruy Guerra explora temas de poder, desumanização e resistência, desafiando o espectador a refletir sobre justiça e moralidade. Assista aqui.

Vidas Secas (1963) – Nelson Pereira dos Santos 

Dirigido por Nelson Pereira dos Santos, “Vidas Secas” é um clássico do Cinema Novo brasileiro. O filme também se passa no sertão nordestino, e apresenta a vida de uma família de retirantes. Baseado no romance de Graciliano Ramos, o filme segue a jornada desesperançosa de Fabiano, Sinhá Vitória, e seus dois filhos em busca de condições melhores de vida. Com uma das melhores fotografias, “Vidas Secas” nos mostra a luta pela sobrevivência e a dignidade humana. Assista aqui.

A Entrevista (1966) – Helena Solberg

“A Entrevista”, filmado no início do golpe militar no Brasil, faz parte da segunda fase do Cinema Novo e foi lançado dois anos depois, gerando polêmicas devido aos temas abordados. O curta-metragem de 19 minutos é um compilado de entrevistas realizadas com várias mulheres entre 19 e 27 anos, discutindo temas considerados femininos como o casamento. Helena Solberg, a única diretora mulher reconhecida do Cinema Novo, e nesse curta ela nos põe para refletir padrões de feminilidade, valores burgueses e principalmente,  a relação entre gênero. Assista aqui.

Macunaíma (1969) – Joaquim Pedro de Andrade 

Representando a terceira fase do movimento, “Macunaíma” de Joaquim Pedro de Andrade é uma adaptação cinematográfica da obra de Mário de Andrade que mostra o espírito do movimento tropicalista e do Cinema Novo brasileiro. O filme segue as aventuras de Macunaíma, um “anti-herói” preguiçoso e malandro, da floresta amazônica para a cidade urbana. Pode-se dizer que o filme  mistura folclore e crítica social de uma maneira provocativa. Assista aqui.

O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969) – Glauber Rocha

Mais uma obra marcante para o Cinema Novo dirigida por Glauber Rocha. O filme narra a história de Antônio das Mortes, um matador de aluguel contratado para eliminar os seguidores de um líder messiânico, Coronel Jesuíno. Sim, o mesmo de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”! A trama nos mostra as tensões sociais e políticas da região nordestina, ainda de maneira violenta. Assista aqui.

Gostou desse conteúdo? Veja mais em Her Campus Cásper Líbero.

Texto editado por Gabriela Antualpa.

Manuela França

Casper Libero '27

apaixonada por comunicação, especialmente quando se trata de cultura pop :)