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As Paralimpíadas Chegaram: Entenda Como O Brasil Se Tornou Potência Nos Esportes Paralímpicos

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

As Paralimpíadas de 2024 chegaram e o Brasil veio com tudo para reafirmar sua posição de destaque no cenário mundial dos esportes paralímpicos. O país chega em Paris com 280 atletas, a maior delegação brasileira em uma edição do megaevento fora do Brasil, disputando 20 das 22 modalidades do programa e em busca do seu 400º pódio no evento!

Participante assíduo dos Jogos Paralímpicos desde a edição de Heidelberg, na Alemanha Ocidental, em 1972, o Brasil já conquistou 373 medalhas (109 de ouro, 132 de prata e 132 de bronze) na competição. Entre esses pódios, os atletas brasileiros se destacaram em três principais modalidades: 170 medalhas vieram do atletismo, 125 da natação e 25 do judô.

Mas, como o país, que até algumas décadas atrás ainda lutava para estruturar um esporte inclusivo, se transformou em uma potência global? A resposta está em uma combinação de história, conquistas, políticas públicas e a incansável determinação dos atletas. 

O COMEÇO

Os esportes paralímpicos têm suas raízes no período pós-Segunda Guerra Mundial, quando houve um aumento na população de pessoas com deficiência devido aos ferimentos de guerra. No Brasil, o movimento começou a ganhar força na década de 1950, impulsionado por iniciativas de profissionais de saúde e educadores, que enxergavam no esporte uma ferramenta de reabilitação física e social.

No dia 1º de abril de 1958, o cadeirante Robson Sampaio de Almeida, em parceria com seu amigo Aldo Miccolis, fundou o Clube do Otimismo, no Rio de Janeiro. Meses depois, em 28 de julho, o também deficiente Sérgio Seraphin Del Grande, criou o Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP). Os pioneiros resolveram trazer o esporte paralímpico para o Brasil enquanto faziam tratamento hospitalar nos Estados Unidos, e tiveram a oportunidade de presenciar a prática esportiva de pessoas em cadeiras de rodas, principalmente no basquete.

Em 1959, o ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, foi palco do primeiro jogo de basquetebol em cadeira de rodas no Brasil, quando os paulistas do CPSP venceram os cariocas do Clube do Otimismo por 22 a 16. Dez anos depois, em 1969, o Brasil participou dos Jogos Parapan-Americanos de Buenos Aires, na Argentina, e essa foi a primeira competição internacional do movimento paralímpico nacional. Com estrutura recente e pouca informação, o objetivo inicial da delegação era conhecer as modalidades que integravam o quadro de esportes paralímpicos e possibilitar aos brasileiros a integração com atletas do resto do continente.

1970 

A década de 1970 foi um período de consolidação do movimento paralímpico no Brasil, e em 1972, o Brasil foi representado pela primeira vez em uma Paralimpíada, realizada na cidade alemã de Heidelberg. Embora os resultados esportivos ainda fossem modestos, a presença do Brasil nesse evento representou um marco importante para o movimento.

Foi somente em 1975, que uma falha de comunicação entre as maiores entidades paralímpicas de São Paulo e Rio de Janeiro fez com que Stoke Mandeville, berço das paralimpíadas, localizada na Inglaterra, exigisse a fundação de uma associação nacional. Assim, foi criada a Associação Nacional de Desporto de Excepcionais, considerada uma das precursoras do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que viria a ser fundado 20 anos depois. A entidade pretendia agregar os esportes praticados por atletas com qualquer tipo de deficiência.

No ano seguinte, durante as Paralimpíadas de Toronto, o Brasil conquistou sua primeira medalha olímpica. Robson Sampaio de Almeida e Luis Carlos da Costa  ficaram em segundo lugar na modalidade lawn bowls, uma variação da bocha praticada em campos de grama, sendo a única medalha da nação verde e amarela durante a competição. 

1980 

Nos anos 1980, o esporte paralímpico brasileiro passou por uma fase de expansão. Com o crescimento do número de atletas, as modalidades passaram a ser categorizadas.

Em 1984 foram fundadas a Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC) e a Associação Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas (ABRADECAR), já em 1989, foi criada a Associação Brasileira de Desportos de Deficientes Mentais (ABDEM). Um ano depois, foi a vez da Associação Brasileira de Desporto para Amputados (ABDA) começar suas atividades.

O primeiro grande destaque do Brasil em Jogos Paralímpicos ocorreu em 1984, em Nova York e Stoke Mandeville, quando o país conquistou sua primeira medalha de ouro com Márcia Malsar, na prova de 200 metros C6 do atletismo. Nesta edição, o país finalizou na vigésima quarta posição geral, conquistando, ao todo, 28 medalhas (7 de ouro, 17 de prata e 4 de bronze). Essas conquistas foram um estímulo importante para o crescimento do movimento no país nos anos seguintes.

O sucesso do Brasil nos esportes paralímpicos não é fruto do acaso. Desde a década de 1990, o governo federal, em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), vem implementando políticas públicas voltadas para a inclusão e o desenvolvimento do esporte para pessoas com deficiência. A criação da Lei Agnelo/Piva, em 2001, que destina uma porcentagem das loterias federais para o financiamento do esporte olímpico e paralímpico, foi um marco nesse processo. Além disso, programas como o Bolsa Atleta, que oferece apoio financeiro direto aos atletas, foram fundamentais para garantir que os esportistas paralímpicos pudessem se dedicar integralmente ao treinamento e à competição. 

2000

A partir dos anos 2000, o Brasil passou a figurar entre as principais nações paralímpicas do mundo! A criação do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), em 1995, e a maior visibilidade dada ao esporte paralímpico foram fatores que contribuíram para esse crescimento.

Durante as Paralimpíadas de Pequim, em 2008, o Brasil deu um salto ainda maior, conquistando 47 medalhas, das quais 16 foram de ouro, 14 de prata e 17 de bronze. Esse resultado colocou o Brasil na 9ª posição no quadro geral de medalhas, alcançando pela primeira vez o Top 10 na competição, lugar do qual permaneceu firme nas edições seguintes, consolidando sua posição como uma potência paralímpica.

Os Jogos Paralímpicos de 2016, realizados no Rio de Janeiro, representaram um momento histórico para o movimento paralímpico brasileiro. Como país-sede, o Brasil contou com uma delegação numerosa e altamente preparada. O evento teve grande repercussão nacional e internacional, aumentando a visibilidade do esporte paralímpico. No Rio 2016, o Brasil conquistou 72 medalhas (14 de ouro, 29 de prata e 29 de bronze), ficando em 8º lugar no quadro de medalhas. Esse resultado foi o melhor da história do país até então, destacando atletas como Daniel Dias, o atual maior medalhista paralímpico brasileiro com 27 medalhas, somando suas 4 participações em Jogos Paralímpicos: 14 ouros, 7 pratas e 6 bronzes.

Nos anos seguintes, os atletas paralímpicos brasileiros continuaram a brilhar, como foi visto nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 (realizados em 2021 devido à pandemia de COVID-19), onde o Brasil conquistou 72 medalhas (22 de ouro, 20 de prata e 30 de bronze), terminando em 7º lugar no quadro geral de medalhas, o melhor desempenho da história.

Os Jogos de Paris marcam a primeira participação de um aluno da Escola Paralímpica de Esportes em uma edição do mega evento paralímpico. O maranhense André Martins foi formado a partir do projeto idealizado e realizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro, e vai competir na bocha pela classe BC4. A Escolinha, como é carinhosamente chamada, surgiu em 2018 e tem como objetivo promover a iniciação de crianças com deficiência física, visual e intelectual na faixa etária de 7 a 17 anos, em 15 modalidades paralímpicas. Além disso, os Centros de Referência fazem parte do Plano Estratégico do Comitê Paralímpico Brasileiro, elaborado em 2017 e revisitado em 2021. O objetivo do projeto é aproveitar espaços esportivos em estados de todas as regiões do país para oferecer modalidades paralímpicas, desde a iniciação até o alto rendimento. Atualmente, o CPB conta com 72 Centros de Referência, espalhados por 26 unidades federativas do Brasil

A história dos esportes paralímpicos no Brasil é de superação, resiliência e conquistas. Desde os primeiros passos na década de 1950 até o status de potência mundial nos dias atuais, o movimento paralímpico brasileiro se consolidou como um dos mais importantes no cenário esportivo global. Com o apoio contínuo e o comprometimento de atletas, treinadores e instituições, o Brasil tem potencial para continuar a crescer e inspirar futuras gerações de atletas com deficiência. O caminho até aqui foi longo, mas o futuro promete ainda mais conquistas. As Paralimpíadas de Paris 2024 começaram na última quarta (28) e serão mais uma chance para o Brasil mostrar ao mundo a força do seu esporte paralímpico, e o poder de transformar vidas através do esporte! E aí, vai assistir?

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O artigo acima foi editado por Júlia Salvi.

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Beatriz Venancio

Casper Libero '26

Completely into world of entertainment I'm an audiovisual student at Cásper Líbero. As a person who likes to know a little about everything, hope you find something you are interrested on my writing journey. (: