O ano de 2024 marcou uma edição histórica para o Brasil nos Jogos Paralímpicos. Paris e todo o mundo acompanharam os 89 pódios alcançados pelo país que, pela primeira vez, chegou no top 5 do quadro de medalhas.
Os 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes são reflexo de uma comitiva de atletas muito bem preparados, centrados em superar limites e quebrar recordes. Porém, mesmo com frutos tão positivos, pode-se dizer que esse resultado também é consequência de investimento público e apoio midiático no evento? Que fatores explicam o sucesso do Brasil no esporte paralímpico?
INVESTIMENTO DE QUEM?
Como dito, em Paris 2024, o Brasil fez história nas Paralimpíadas. Trata-se da melhor campanha realizada pelo país em todas as edições da competição, quebrando o recorde de Tóquio 2021 – com 72 pódios e a sétima posição no quadro geral de medalhas. No entanto, a maior dúvida levantada não é em relação ao nível dos atletas, as posições no pódio ou número de bronzes, pratas e ouros. O grande questionamento é: afinal, por que (e como) o Brasil é uma potência?
Jairo Marques, editor e colunista da Folha de S. Paulo, em entrevista para o podcast Café da Manhã, diz que a captação de talento dos jogos ocorre nacionalmente através de olimpíadas escolares para pessoas com deficiência, por exemplo. A intenção é buscar talentos em todo o país.
Em 2016, a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa inaugurou o Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, no estado de São Paulo, com investimento estatal e federal somados em R$ 654,2 milhões. O complexo reúne quinze modalidades e inclui zona residencial, laboratórios e áreas de condicionamento físico, como quadras, piscinas e academias. O objetivo é criar melhores condições aos atletas em competições nacionais e internacionais.
Apesar de haver investimento, ele, além de insuficiente, limita-se ao centro-sul do país. Em 2016, ano em que o Rio de Janeiro foi sede dos Jogos Paralímpicos, o Instituto DataSenado lançou dados que demonstravam a insatisfação de 83% dos atletas e ex-atletas quanto à insuficiência de investimentos no Brasil. A dificuldade em obter patrocínios e apoio financeiro era comum a 62% dos entrevistados, o que levou um terço dos aposentados que participaram da pesquisa a abandonarem o esporte.
A falta de homogeneidade na distribuição de dinheiro para o desenvolvimento do desporto paralímpico também é um grave fator. Mizael Conrado, presidente do Comitê Paralímpico do Brasil (CPB), afirma sobre a região Norte: “É a região com o maior número de pessoas com deficiência e o menor número de oportunidades. Temos um centro de referência em cada estado, mas é muito pouco. Será preciso maior investimento financeiro.”
VISIBILIDADe na mídia
Com o avanço das redes, veículos de comunicação têm dado maior visibilidade para pautas relacionadas à diversidade, incluindo a de pessoas com deficiência. Na edição de Paris 2024, os Jogos Olímpicos ganharam atenção do público devido, principalmente, às transmissões da CazéTV pelo Youtube e à repercussão de atletas em aplicativos como Instagram e TikTok.
No entanto, nas Paralimpíadas, foi diferente. Com a compra dos direitos de imagem do evento pelo grupo Globo, nenhum outro canal foi autorizado a transmitir a competição, nem mesmo o Comitê Paralímpico Internacional, que divulga todas as partidas ao vivo no Youtube.
Dessa forma, caso a audiência não contentar-se em saber apenas dos melhores momentos em um formato de giro de notícias, precisa assinar streamings como o Globoplay ou a televisão a cabo para ter acesso ao SporTV 2. Limitar o público a acompanhar o evento paralímpico de forma acessível contribui para o estigma de que as Paralimpíadas são menos importantes ou não merecem tamanha repercussão.
A LUTA CONTRA O CAPACITISMO
O esporte paralímpico é a maior ferramenta de inclusão, o que mais tem o poder de elevar as vidas de pessoas com deficiência. No entanto, inclusão não é sinônimo de superação, dó ou anormalidade.
Deve-se, portanto, redobrar a atenção com termos capacitistas. É comum se referir aos atletas paralímpicos como guerreiros por realizar suas atividades, ou chamá-los de deficientes ou pessoas portadoras de necessidades especiais. Os atletas não são coitados, devem ser cobrados e, se necessário, criticados – com respeito, claro!
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O artigo acima foi editado por Camila Iannicelli
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