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This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Em nove meses, a pandemia do novo coronavírus já mostrou que inúmeras problemáticas vieram à tona. Algumas de forma inédita, por conta do contexto atípico da doença, e outras oriundas de desafios e temas já discutidos no passado. E uma delas foi o desafio do cyberbullyng, que, agora, ocupa o espaço das aulas online.

De forma não natural, milhares de estudantes se encontram em contato com ambientes virtuais de ensino, nos quais o diálogo com professores e outros alunos são feitos de forma remota e mediada por plataformas digitais.

Dentro deste contexto, a Organização das Nações Unidas levantou recentemente um alerta para pais e professores a respeito do aumento de casos de cyberbullying nestes espaços virtuais de aprendizagem.

Em muitos casos, situações de humilhação, difamação e constrangimento podem estar acontecendo sem que o grupo possa identificá-las. E é justamente sobre isso que falaremos neste post.

Você sabe o que é cyberbullying?

Original Illustration in Canva for Her Campus Media
Assim como o bullying, o cyberbullying implica em um comportamento no qual uma ação possui o intuito de humilhar, ofender, intimidar ou ameaçar um indivíduo.

Um dos principais estudos qualitativos sobre o tema identificou os aspectos de “vingança, tédio, ciúme, experimentar uma nova persona ou redirecionar sentimentos” como as principais motivações para o ato de violência.

“São ataques maciços à autoestima que, em muitos casos, estimulam na vítima sentimentos de rejeição, dificuldades de inserção no grupo, medo de ir à escola, crises de angústia, estados depressivos e, em casos mais graves, tentativas de suicídio.”, explica a mestre em psicologia clínica, escritora e palestrante, Maria Tereza Maldonado, em seu texto “Bullying e Cyberbullying – O que fazemos com o que fazem conosco?”.

Enquadrados no ambiente escolar, ambos são marcados pela repetição do agressor para com a vítima. Porém, o cyberbullying possui o diferencial de ser praticado nos espaços virtuais e, a partir disso, conta com características específicas.

A imprevisibilidade do ataque, o anonimato do agressor e a rápida disseminação das violências pela rede são os principais aspectos que singularizam o cyberbullying.

 “Ao contrário da vítima de bullying, que sabe que será atacada quando chegar à escola ou teme pela hora do recreio, uma vítima de cyberbullying pode receber mensagens de texto com ameaças inclusive enquanto estiver dormindo”, ressaltam os pesquisadores Guilherme Welter Wendt e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa, no artigo “Agressão entre pares no espaço virtual: definições, impactos e desafios do cyberbullying”.

O caráter de ilimitação do ambiente virtual, somando à falta de fiscalização sobre os comportamentos dos usuários, contribui para a formação de indivíduos ausentes de uma visão empática.

“O fenômeno bullying pode ser resultado da sociedade contemporânea, individualista, competitiva e que reforça a banalização de valores éticos e noções de respeito”, afirmam os pesquisadores Fernando Cesar de Castro Schreiber e Maria Cristina Antunes, no artigo “Cyberbullying: do virtual ao psicológico”.

Dessa forma, o ato envolve aquilo que os acadêmicos João Marcelo Rondina, Julia Lucila Moura e Mônica Domingues de Carvalho identificam como “desinibição e desindividualização do outro”, já que há uma “menor oportunidade de empatia e remorso porque o agressor não tem contato direto com a vítima e seu sofrimento”.

Segundo uma pesquisa de setembro de 2019 feita pela UNICEF e pela Representante Especial da ONU sobre Violência contra Crianças, uma em cada três crianças em 30 países foi vítima de cyberbullying, comprovando que, apesar de efetuado em diferentes culturas e tradições, o cyberbullying pode ser considerado como uma problemática de alcance global, podendo causar sequelas psicológicas permanentes nas vítimas.

Como é sofrer cyberbullying

“Foi horrível. Eu tinha 17 anos na época, eu não conseguia parar de chorar. Fiquei agoniada por uma semana, passando mal mesmo. Era um sentimento de revolta e de injustiça, e, claro, o ‘por que isso está acontecendo comigo? ’”, relata L., que preferiu não se identificar, sobre um episódio de cyberbullying que sofreu quando estava no Ensino Médio.

Assim como L., um em cada três estudantes brasileiros declara já ter sido alvo de cyberbullying pelo menos uma vez na vida, em diferentes graus. L. passou por uma situação na qual um professor estimulou outros alunos a ofenderem e xingarem a estudante através de comentários em um post na rede social. “Ele me perseguia desde então, mas como eu estava no terceiro colegial, resolvi deixar de lado para não ter dor de cabeça a mais. Até acontecer tudo isso.”

Na maioria dos casos de cyberbullying, o agressor pode assumir a figura de não apenas um indivíduo, mas de vários usuários. Assim, o ato de violência adquire uma carga muito maior, causando consequências das mesmas proporções nas vítimas. 

Segundo os pesquisadores Fernando Cesar de Castro Schreiber e Maria Cristina Antunes, “autores do bullying costumam agir com dois objetivos: primeiro para demonstrar poder e segundo para conseguir uma afiliação junto a outros colegas”.

Além disso, o cyberbullying inclui um terceiro participante: o espectador. Mesmo não estando ativa e diretamente no ato de violência, aquele que assiste a situação contribui – e muito – para sua legitimação. “Alguns amigos ficaram do lado do professor e vieram me insultar. Apenas uma amiga ficou ao meu lado. E alguns professores também estavam envolvidos”, relatou a estudante.

Inúmeros conflitos internos podem surgir na vida de quem sofre, porém, apenas 25% buscam ajuda e atendimento especializado, como afirma o levantamento de Price & Dalgleish. “Só meus pais souberam de tudo. Eles ficaram possessos, mas colocaram panos quentes para tentarem me acalmar. Eu era muito envolvida com o colégio, e o que aconteceu me desestruturou emocionalmente”, conta L.

E no contexto de isolamento social, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, o cyberbullying ocupa a totalidade dos espaços escolares, já que as aulas estão sendo ministradas no ambiente virtual.

O que muda na pandemia?

covid-19 wall graffiti
Photo by Adam Nie?cioruk from Unsplash
Muitos dos estudantes estão tendo o primeiro contato com ambientes virtuais de ensino e, consequentemente, maneiras de se relacionar com outros indivíduos de forma online.

Transferidas para os espaços digitais, as relações passam a enfrentar outros desafios de comunicação e trocas, que podem ser tanto negativas ou positivas.

Porém, ao mesmo tempo, antigas situações que já continham o bullying como núcleo de comportamento são transferidas para o virtual e, neste caso, transformam-se em casos de cyberbullying.

Quais atitudes tomar?

Como medida de combate e prevenção ao bullying e cyberbullying, a legislação brasileira possui a Lei 13.185, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática ao Bullying em todo o território nacional.

O artigo 2º lei considera o bullying quando há intimidação; humilhação; discriminação; ataques físicos; insultos pessoais; comentários sistemáticos e apelidos pejorativos; ameaças por quaisquer meios; grafites depreciativos; expressões preconceituosas; isolamento social consciente e premeditado e pilhérias.

Podendo ser tipificado como moral, físico, patrimonial, constrangimento legal e sexual, envolve e gera uma série de crimes previstos no Código Penal ou em outras leis federais. No caso do cyberbullying e cyberstalking – que é a perseguição feita na internet – o Decreto-Lei 2.848/40 fica responsável pela identificação.

O Programa de Combate define a ação de professores e equipes pedagógicas em desenvolver campanhas e programas de prevenção, discussão e orientação como a principal a ser estimulada e tomada.

Mesmo tratando o bullying como algo proibido, o Programa não institui nenhuma punição específica e estipula a fiscalização estadual e municipal a partir de relatórios de ocorrências de bullying nas escolas.

No final das contas, o principal comportamento que deve ser fomentado em casos de bullying e cyberbullying – principalmente agora com a ausência do contato físico dos alunos e equipe pedagógica – é o trabalho conjunto entre famílias e escolas. “Quando a escola adota uma postura clara de não tolerância ao bullying, pode elaborar um “contrato de convivência”, a ser apresentado à família no ato da matrícula e a ser trabalhado com todos os alunos e a equipe no cotidiano da escola.”, pontua a psicóloga Maria Tereza Maldonado.

Por ser um processo que muitas vezes assume caráter de sutilidade, o tema exige um debate específico desde os níveis primários de ensino. “Abordar o tema com a turma é importante, especialmente nos casos de apelidos depreciativos e de exclusão, que ocorrem com frequência. São oportunidades de estimular a reflexão: ‘E se fosse com você? ’”, finaliza Maria Tereza.

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The article above was edited by Helena Figueroa. 

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