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Doutor, Me Explica! | O Que É A Ansiedade E Como Lidar Com Ela?

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

O artigo abaixo foi escrito por Isadora César Pacello e editado por Carolina Grassmann. Gostou desse tipo de conteúdo? Confira Her Campus Cásper Líbero para mais!

Coração acelerado, mãos suando frio, sensação de que o perigo é iminente — assim estou me sentindo antes de escrever esta matéria, em meio às inúmeras tarefas do final de semestre. Todo mundo já se sentiu assim, e, no contexto da pandemia de Covid-19, essa foi uma realidade muito mais frequente. E quanto a você? Você é uma pessoa ansiosa ou apenas está ansioso? Quais as causas disso? O que fazer para enfrentar esse problema? Essas e outras questões foram respondidas pela psiquiatra Fernanda Romano, em entrevista exclusiva à Her Campus Cásper Líbero.

AFINAL, O QUE É ANSIEDADE?

“Aquela sensação de desconforto, uma preocupação relacionada à antecipação de uma ameaça, previsível ou não, e que vai indicar um perigo iminente” — é assim que Romano descreve a ansiedade. Essa sensação vem acompanhada de sintomas físicos: taquicardia, respiração rápida e curta, sensação de falta de ar, sudorese, ondas de calor, tensão muscular, alteração gastrointestinal (diarreia, perda de apetite), alteração de sono e até de pressão. Em casos mais graves, também pode haver despersonalização (o indivíduo não se reconhece) e desrealização (o ambiente fica estranho, mesmo que seja um ambiente conhecido). Nem todos os sintomas são experimentados pelo sujeito ao mesmo tempo.

Segundo a psiquiatra, a ansiedade está relacionada à evolução dos seres humanos. Em certos momentos, é muito bem-vinda, já que prepara nosso organismo para se defender das ameaças — um confronto com um animal feroz, nos primórdios da humanidade, ou a apresentação de um trabalho, nos dias atuais. “A ansiedade melhora a atenção e prepara o organismo para agir”, explica Romano. “Indivíduos com ansiedade muito baixa não são funcionais, porque tendem a não se prepararem para grandes compromissos”.

Quando a ansiedade se torna um problema? “Quando vem fora de hora, sem necessidade. O indivíduo se sente ansioso grande parte do tempo e não tem motivo para isso, não está se preparando para nada e esse sentimento vem, essas reações vêm”. Nesse caso, trata-se de uma patologia, não da ansiedade fisiológica, benéfica. Se esses sintomas perdurarem por mais de seis meses, fala-se em Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Segundo Romano, estudos mostram que, em São Paulo, a prevalência de ansiedade é de 20% — ou seja, uma em cada cinco pessoas sofre desse transtorno.

Quando a crise de ansiedade atinge sua máxima potência, passa a ser chamada de crise de pânico. É um episódio agudo e curto (duração de cerca de alguns minutos), e o paciente pode experimentar a sensação de que vai morrer ou enlouquecer, motivo pelo qual, em muitos casos, precisa ser levado ao pronto-socorro.

CAUSAS

Romano afirma que, como toda doença psiquiátrica, o transtorno de ansiedade é multifatorial. Pressupõe uma base genética para ocorrer, além de gatilhos ao longo da vida, como fatores estressores na infância, eventos negativos, baixa renda, baixa escolaridade, etc. “Mas esses são fatores de risco. Nenhum deles, isolado, vai, necessariamente, levar a um transtorno de ansiedade”, aponta Romano.

Segundo a psiquiatra, mulheres e jovens adultos são o público que costuma ser mais suscetível ao TAG. É possível que, no início da vida, a pessoa apresente traços ansiosos, mas só desenvolva o transtorno posteriormente, graças a uma combinação entre novos desafios e personalidade.

TRATAMENTO

A boa notícia é que o transtorno de ansiedade possui tratamento. Romano afirma que o ideal é combinar o uso de medicamentos antidepressivos com psicoterapia. A terapia cognitivo-comportamental é a que possui mais evidências de sucesso, pois trabalha o controle dos pensamentos disfuncionais, técnicas de relaxamento e respiração e mindfulness. Além disso, bons hábitos de vida, como prática de exercícios físicos, higiene do sono e alimentação saudável, são indispensáveis.

No entanto, a psiquiatra reconhece que, muitas vezes, a psicoterapia pode não ser uma opção, dependendo da localidade do paciente, ou o acesso à medicação pode ser limitado. Nesses casos, é possível que haja uma adaptação, mas ela reforça que o ideal é a associação de ambas as medidas, sobretudo nos quadros mais graves.

Segundo Romano, o TAG tem um curso flutuante. “Vai haver períodos de melhora, em que o paciente pode ficar sem medicação e receber alta. E, às vezes, em outros momentos da vida, o estresse fica maior e essa ansiedade se exacerba de novo. Não sentir ansiedade é impossível, a gente vai sentir ansiedade em vários momentos da vida”.

DICAS

Já que não é possível banir a ansiedade de nossas vidas para sempre, precisamos encontrar formas de lidar com ela. Mas como fazer isso em meio a um mundo agitado, às redes sociais e a notícias ruins nos bombardeando o tempo todo? De fato, no contexto da pandemia de Covid-19, pode parecer impossível manter a ansiedade sob controle. Mas Romano dá algumas dicas para nos auxiliar nessa empreitada. Confira!

1. Controle o estresse. A psiquiatra reconhece que o estresse é parte de nossas vidas. O problema é quando ele foge de controle e passa a nos dominar. Procure incluir em sua rotina uma atividade prazerosa que sirva de válvula de escape.

2. Pratique atividade física. Mover o corpo é essencial para administrar o estresse, regular os hormônios e garantir o bom funcionamento do organismo. Escolha uma atividade que você goste e inclua-a na rotina.

3. Cultive bons relacionamentos. Estar com pessoas de que gostamos nos ajuda a extravasar e sempre rende momentos felizes. Reserve tempo na semana para encontrar os amigos ou ligar para um parente querido.

4. Tenha uma alimentação saudável. Beba bastante água e diversifique a alimentação, procurando incluir carboidratos, proteínas, vegetais e boas gorduras no cardápio. Açúcar, álcool e fritura não precisam ser banidos, mas certifique-se de que venham pontualmente e em doses moderadas.

5. Durma bem. Diariamente, reserve oito horas para o sono. Além disso, faça do seu quarto um local tranquilo, escuro e confortável. Evite cafeína após as 15h e atividades estimulantes pouco antes de dormir.

6. Desenvolva um olhar crítico em relação às redes sociais. Não precisa excluir o Instagram ou o Tik Tok,: basta ter um comportamento mais seletivo e realista em relação às redes. Lembre-se de que a maioria das pessoas só posta o que é conveniente, portanto, faça um esforço para evitar comparações. Administrar o tempo de utilização dessas mídias também ajuda no controle da ansiedade — que tal incluir mais vida real no seu dia a dia?

7. Informe-se com parcimônia. Estar por dentro do que acontece na sua cidade, no Brasil e no mundo é muito importante, mas não faça disso a sua única razão de viver (nem se você trabalha com comunicação!). Escolha um veículo confiável e moderado e consuma-o uma vez ao dia. Para os comunicadores, pode ser mais difícil se desligar, mas evite veículos sensacionalistas e não deixe de separar ao menos um momento do seu dia para não consumir notícias. Evitar o bombardeio de notícias alarmantes é fundamental para o controle da ansiedade.

8. Procure ajuda profissional. Quando se trata de saúde, toda ajuda é bem-vinda. Um psicoterapeuta pode contribuir muito para a melhora da sua saúde mental.

Dra. Fernanda Romano é médica psiquiatra pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Tem formação em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo – Amban. Possui aprimoramento em medicina psicossomática pela Associação Médica Brasileira de Medicina Psicossomática – regional SP. É médica psiquiatra assistente na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e professora convidada do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

I’m a writer and Journalism student at Cásper Líbero. Besides writing and reading, I’m fascinated by culture, arts and wellness.