Cerca de 214 milhões de mulheres não tinham acesso a métodos contraceptivos no mundo em 2017, de acordo com estudo do Guttmacher Institute. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde anunciou que, todos os dias, foram registrados mais de 1 milhão de novos casos de infecções sexualmente transmissíveis e tratáveis.
Essas estatísticas escancaram a importância dos direitos sexuais e reprodutivos, que também são direitos humanos. Todas as pessoas deveriam ter os seus direitos de exercer a sua sexualidade livremente garantidos, além de ter acesso ao planejamento familiar e à informação sobre sexualidade e reprodução.
O livre exercício da sexualidade só é devidamente garantido com o acesso à informação de qualidade e aos métodos de proteção e contracepção, que evitam a gravidez e as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
A Dra. Ilza Maria Urbano Monteiro, ginecologista e vice-presidente da Comissão Nacional Especializada de Anticoncepção da Febrasgo, é forte defensora da boa orientação contraceptiva antes da escolha final do método.
Em sua atuação clínica, ela observou que a principal preocupação das mulheres é a eficácia. “Essa é a primeira pergunta. ‘Esse método é bom mesmo? Não falha?’. A gente orienta quais são as taxas de falha que a gente observa em cada método. Outra coisa que se pergunta é sobre efeitos colaterais”.
Segundo a doutora Monteiro, muitas mulheres vem apresentando preocupações com o risco de trombose, apesar de sua ocorrência ser baixa. Essa doença está associada ao estrogênio, presente em alguns métodos hormonais – que hoje em dia possuem menores quantidades da substância.
Além disso, métodos que contém essa substância não são indicados para mulheres que têm pressão alta, tendência a pressão alta, enxaqueca, diabetes descompensadas, doenças no fígado, entre outras condições, por ser uma substância que aumenta a pressão sanguínea.
Na hora de escolher um método com as suas pacientes, a primeira coisa que a doutora leva em consideração é o risco de gravidez. Nesse momento, é importante ter em vista a frequência das relações sexuais – quanto mais recorrentes, maior o risco – e a idade da paciente – quanto mais jovem, maior a fertilidade. Com maior risco, é necessário um método com maior grau de eficácia.
Em segundo lugar, é importante saber o funcionamento do ciclo menstrual de cada mulher. Mulheres que têm um fluxo mais intenso podem não se adaptar com o DIU de cobre, pois ele tem a tendência de aumentar o sangramento. Mulheres que sofrem com muitas cólicas, ou que têm endometriose, podem ter o alívio dos sintomas utilizando métodos que reduzem o fluxo menstrual.
Antes de qualquer escolha, na opinião da doutora, é importante que o profissional de saúde investigue se a mulher pode ou não usar o método, em razão de questões de saúde.
Alguns exemplos são tumores benignos, pressão alta ou casos de trombose na família. O mais importante é escolher um método eficaz que respeite as condições de saúde e as vontades da mulher.
No Brasil, é possível ter acesso a oito tipos de métodos contraceptivos gratuitamente por meio das unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). São eles: anticoncepcional oral combinado, minipílula, injeção mensal ou trimestral, DIU de cobre, camisinhas feminina e masculina, diafragma, pílula do dia seguinte, laqueadura e vasectomia. Entenda um pouco mais sobre eles abaixo.
Lembre-se: antes de começar a usar um método anticoncepcional, é essencial conversar com seu médico ou ginecologista de confiança. Assim, é possível ter certeza de que o método não apresenta nenhum risco para a sua saúde.
Anticoncepcional oral combinado e minipílula
Popularmente conhecido como pílula, o anticoncepcional oral é um método do tipo hormonal. Trata-se de um comprimido composto por estrógeno e progesterona sintéticos, substâncias que impedem a ovulação e a liberação do óvulo.
Esse é o método mais popular entre as brasileiras. Segundo pesquisa do IBGE de 2019, 40,6% das mulheres preferiam utilizar a pílula. A taxa de falha é de 0,1%.
Já a minipílula contém apenas a progesterona, e é tomada diariamente, diferentemente da pílula, que geralmente possui um intervalo de alguns dias. A minipílula costuma ser utilizada por mulheres que sofrem com os efeitos colaterais da pílula, ou que estão em amamentando.
Ela tem um efeito menos eficaz que a pílula de duas substâncias, tendo uma taxa de falha de 3 a 5%.
injeção anticoncepcional
Outro método hormonal é a injeção, que também contém estrógeno e progesterona. A injeção pode ser feita mensal ou trimestralmente, e é aplicada na região dos glúteos. É o método escolhido por 9,8% das mulheres.
Ele também impede a ovulação, diminui o fluxo menstrual e alivia a dor das cólicas. A injeção tem uma taxa de falha de 0,1% a 0,6% para a opção mensal, e 0,3% para a trimestral, e é semelhante à eficácia da ligadura de trompas.
diu (de cobre ou hormonal)
O Dispositivo Intrauterino é o terceiro método mais usado no mundo, atrás apenas da laqueadura e da camisinha masculina. Ao todo, são 159 milhões de mulheres, segundo a ONU, mas no Brasil é utilizado por 4,4% das mulheres.
O DIU é uma pequena estrutura em formato de T, que é inserida no útero. Então, por sua composição química, o DIU impede que os espermatozóides alcancem as trompas, onde ficam os ovários e acontece a fecundação.
Esse método tem uma taxa de falha entre 0,1% e 0,2% e pode ter uma duração de até 10 anos. Além disso, ele pode ser usado durante a amamentação. É um dos métodos mais seguros e, ao contrário do senso comum, não é abortivo.
camisinha masculina e feminina
A camisinha masculina é o segundo método mais utilizado no mundo, correspondendo a 20,4% das mulheres. Ela é uma capa de plástico ou de látex, que é inserida no pênis antes da penetração.
No mercado, ela pode ser encontrada em uma variedade de tipos, inclusive com espermicida e lubrificante. Já a camisinha feminina tem um formato bem maior, e é introduzida na vagina.
As duas impedem a passagem do sêmen para o canal vaginal, evitando assim que os espermatozóides entrem em contato com a vagina e impedindo a ovulação. Ambas são descartáveis e possuem uma taxa de falha entre 8% a 20%.
São os únicos que, além de evitar a gravidez, também protegem contra as ISTs. Por isso, e também pela alta taxa de falhas, é muito recomendada a utilização de um método combinado com as camisinhas para garantir maior segurança durante o sexo.
diafragma
O diafragma é um anel flexível de silicone, látex ou borracha, que também atua como um método de barreira. Isso quer dizer que ele impede que o sêmen chegue até o ovário.
O método tem um formato de cúpula, e é inserido no canal vaginal sobre o colo do útero. O diafragma pode chegar a uma taxa de falha de 10%, e pode ser usado por até 2 a 3 anos. É recomendável que o método seja utilizado juntamente com espermicida.
PÍLULA DO DIA SEGUINTE
Diferentemente de outros métodos, a pílula do dia seguinte é um método contraceptivo de emergência. Trata-se de um composto de hormônios combinados, utilizado após uma relação sexual desprotegida ou quando o método usado apresenta alguma falha – por exemplo, quando uma camisinha rasga.
Ela atua dificultando a movimentação dos espermatozóides, além de atrasar ou inibir a ovulação da mulher. A pílula deve ser usada o mais rápido possível, após a relação sexual desprotegida – conforme o tempo passa, ela apresenta menor eficiência.
Possui uma taxa de falha entre 5% a 20%. Podem ser usadas entre 3 a 5 dias após a relação, dependendo de sua composição química.
laqueadura e vasectomia
A laqueadura, ou ligamento de trompas, é o método mais utilizado no Brasil, com 17,3% das mulheres. No mundo, são 219 milhões de mulheres.
É uma cirurgia simples de esterilização, na qual é feito um corte ou uma amarração das trompas, que são os “caminhos” que ligam os ovários ao útero, e servem de passagem para os espermatozóides até os óvulos.
Ela é reversível em alguns casos, e é comum entre mulheres que já tiveram filhos e não desejam mais engravidar. No entanto, o procedimento também é realizado por muitas mulheres que nunca engravidaram.
A vasectomia é o método cirúrgico de esterilização realizado pelo homem. Nessa cirurgia, a circulação de espermatozóides é impedida por meio de cortes nos canais que os transportam dos testículos ao pênis.
A taxa de falha de ambos os procedimentos é de 1%.
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The article above was edited by Maria Luiza Dantas.
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