No dia 25 de maio, comemora-se o Dia Nacional da Adoção. Nessa data, milhares de adotantes e adotados celebram a união e promovem a causa do processo no Brasil.
Mais de 33 mil pessoas ou casais estão na fila de espera para adotar uma criança, enquanto quase 5 mil menores estão buscando um lar, segundo um levantamento feito pelo Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA).
A pergunta que se instala com dados gritantes de maiores pretendentes a adotantes é: por que essas crianças já não foram adotadas?
Uma pesquisa feita pelo Estadão demonstra que 86,7% dos adotantes não desejam crianças com mais de seis anos de idade, e 91,9% das crianças disponíveis se encaixam nesse quadro.
Adoção tardia
Adoção tardia é o termo que se refere ao acolhimento de crianças após os 3 anos de idade, em que o adotado já tem certa independência: consegue se comunicar, se alimentar e se locomover sozinho.
Por não ser um bebê e conseguir entender a si mesmo, ao outro e ao mundo, a maioria dos pais não tem interesse em adotá-los.
Leslie Esper Scaggion, de 43 anos, reside em Paulínia, São Paulo, e atua como enfermeira no Sistema Público de Saúde. Ela e o marido, Evandro, abriram a possibilidade da adoção tardia após conhecer o projeto ‘Adote um boa noite’, iniciativa do Tribunal de Justiça de São Paulo.
A iniciativa dá nome, rosto e descrições às crianças acima de sete anos que desejam uma família. Esse e outros projetos como ‘O Ideal é Real’, no Rio de Janeiro, desmistificam o estereótipo de adoção.
“Esse site me chamou atenção, e eu trouxe isso para o Evandro. O nosso desejo não era de gerar filhos, e isso já tinha passado há uns bons anos. O nosso desejo era partilhar”, disse ela. A enfermeira e o marido são pais de Eduardo, de 8 anos, e Joyce, de 10.
Ideal e Real
Leslie também disse que o que impede as crianças mais velhas de serem adotadas tardiamente é o ideal colocado pelos pais quando buscam a adoção. “Nós não tínhamos um ideal, então partimos para o real, para o desejo de partilhar nossa vida com quem precisasse”.
Leslie e Evandro, em plena pandemia, seguiram em frente com o processo de adoção dos irmãos Eduardo e Joyce, naturais do Paraná.
Após mais de um ano de videochamadas para se conhecerem e de visitas guiadas ao abrigo em que as crianças residiam, oito horas de distância de suas casas, o processo de adoção foi concluído.
Entretanto, desafios e novas experiências vieram. “O partilhar não é só financeiro. No começo a gente acha que é, mas é emocional, espiritual, financeiro, físico e afetivo. Não é fácil, mas facilita não ter um ideal. A pessoa que idealiza um contexto, sofre mais quando o contexto é diferente. Nós não tínhamos um contexto idealizado”.
Compromisso
A mãe de Eduardo e Joyce também aconselhou aqueles que buscam a adoção tardia, e o que devem ter em mente. “O mais importante na adoção tardia é o compromisso de querer que dê certo”, disse. “Um conselho que daria é que vida não é o ideal. Apegue-se ao que é real e em quem precisa de acolhimento”, completou.
A conta de adotantes com adotados não fecha devido ao ideal que leva os pretendentes à adoção: ideais irreais e expectativas que não condizem com aqueles que esperam por um lar.
No dia em que a adoção é colocada em evidência, essas crianças também deveriam ter visibilidade: e mais ainda, deveriam ter alguém para desejá-las um “boa noite”.
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O artigo acima foi editado por Giullyana Aya Lourenço.
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