Em 2020, o Brasil ainda é o país que mais mata transexuais no mundo, segundo levantamento da ONG Transgender Europe (TGEU). Apesar de inúmeras conquistas de direitos, como o reconhecimento da transfobia como crime (2019) e a presença e vitória de mulheres trans nas corridas eleitorais, ainda foram assassinadas 175 mulheres trans apenas em 2020, o equivalente a uma morte a cada dois dias. Esses, no entanto são apenas os dados coletados a partir de reportagens e relatos, visto que o país não conta com dados oficiais sobre o assassinato de transsexuais, sendo provável que esse número seja ainda mais alarmante.
Para além da misoginia e da transfobia, o Brasil ainda se configura como um país marcado pelo racismo. Desde o genocídio colonizador operado pelas grandes nações europeias e seus respectivos sistemas de escravidão, aos assassinatos em massa nas comunidades pobres e majoritariamente negras do país que ocorrem nos dias de hoje, fica claro que o Brasil não vive de forma alguma uma democracia racial.
Os mesmos conflitos se aplicam a outras nações da América, como os próprios Estados Unidos. Apesar de pioneiro na luta pelos direitos civis da comunidade LGBTQ+ e negra, com movimentos como Stonewall e nomes como Angela Davis e Malcolm X, o país ainda mata um número alarmante de transexuais por ano, sobretudo aquelas pertencentes a comunidades negras e latinoamericanas. Como forma de sensibilização e também homenagem, segue uma lista de cinco mulheres trans negras que fizeram história no Brasil e no mundo.
- Erica Malunguinho
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Educadora e artista plástica, Erica Malunguinho foi eleita deputada estadual de São Paulo em 2018, recebendo o título de primeira mulher trans da Assembleia Legislativa de São Paulo. Nascida em Pernambuco, a deputada veio a São Paulo com dezenove anos, onde ela continuou sua pesquisa em artes performáticas e iniciou sua carreira como educadora, ramo no qual ela começa a propor a “ampliação do universo cultural”. Mestra em estética e história da arte pela USP, Erica cria, em 2016, o quilombo urbano Aparelha Luzia, um dos mais proeminentes e influentes espaços culturais do Brasil, um centro de resistência que une arte e política em uma comunidade que acolhe democraticamente pessoas negras de diversas identidades de gênero e sexuais.
- Marsha P. Johnson
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Uma das figuras mais importantes da luta por direitos trans, Masha P. Johnson foi uma travesti e ativista americana, fundadora da Frente de Liberação Gay dos Estados Unidos e personalidade de suma importância para a Rebelião de Stonewall, marco da luta por direitos LGBTQ+. Em junho de 1969, a Nova York de Marsha viu a revolta que marcaria o movimento LGBT em uma revolução resultante da violência que a polícia da cidade insistia em perpetrar contra frequentadores do bar Stonewall, frequentado majoritariamente por membros da comunidade marginalizada. A drag queen e ativista estava na linha de frente da rebelião, e nesta permaneceu por toda a sua vida, tendo se transformado e perpetuado como símbolo do movimento. Além de inúmeros outros protestos, Marsha organizou em sua carreira como ativista a Street Transvestite Action Revolutionaries (S.T.A.R.) – Ação Revolucionária das Travestis de Rua –, que oferecia abrigo, comida e medicação a jovens trans das ruas de Nova York. A morte de Marsha P. Johnson segue um mistério, havendo sido classificada como suicídio pela polícia, versão contestada por amigos próximos da ativista.
- Madalena Leite
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Vereadora da cidade de Piracicaba, ativista feminista e líder comunitária, Madalena Leite foi pioneira na região, tendo sido a primeira transsexual eleita no interior do estado. Líder social e presidente do centro comunitário da Boa Esperança, em Piracicaba, Madalena agiu em prol dos direitos humanos mesmo em momentos de agressões racistas e homofóbicas, extremamente constantes em suas redes sociais até o momento de sua morte. No dia 7 de abril deste ano, Madalena foi encontrada morta, com marcas de violência indicando mais um caso de violência e homicídio de transsexuais no país.
- Sir Lady Java
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Personagem de extrema importância para a luta por direitos de transsexuais desde os anos 1960, Sir Lady Java é caracterizada como a primeira transsexual negra da história dos Estados Unidos, sendo a primeira a lutar pelo direito de mulheres transsexuais e de drag queens de ganhar dinheiro próprio. Dançarina na Los Angeles da década de 60, Lady Java foi inúmeras vezes vítima da violência da polícia local, o que a instigou a organizar protestos contra a polícia de Los Angeles e pela igualdade entre pessoas trans e cis. Java fazia grande sucesso nos clubes noturnos da cidade, mas, apesar disso, ainda se via privada de direitos básicos, tendo sido constantemente assediada por policiais que a ameaçavam, visto que até aquele momento havia nos Estados Unidos leis que proibiam travestis e a não conformidade de gênero. Em resposta a essas leis, a dançarina “uniu a comunidade LGBT em comícios públicos e protestos,” rendendo o fim dessa lei.
- Erika Hilton
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Erika foi eleita, em 2020, a primeira vereadora transgênero da cidade de São Paulo, além de ter sido a vereadora mais bem votada do país. De família evangélica, Erika sofreu durante sua adolescência extrema violência psicológica por conta de sua expressão de gênero, tendo sido forçada a fé cristã e uma “cura” divina, até sua expulsão de casa aos quinze anos de idade. Morando nas ruas do interior de São Paulo e recorrendo à prostituição como modo de sobrevivencia, Erika é resgatada pela sua mãe e retoma os estudos, ingressando na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Durante sua vida, Erika continuou sofrendo discriminação por conta de sua identidade de gênero, havendo por isso iniciado e obtido êxito em inúmeras campanhas em defesa aos direitos trans, o que lhe rendeu filiação ao PSOL e eleição como co-deputada no estado de São Paulo.
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The article above was edited by Safira L.M.
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