O terror é um dos gêneros mais fascinantes do cinema, sendo capaz de provocar emoções duradouras e nos deixar grudados na tela. Desde o começo, enfrentaram resistência da indústria, muitas vezes vistos como menores ou descartáveis, principalmente em grandes premiações. No entanto, alguns deles conseguiram romper essa barreira e deixar sua marca no mundo cinematográfico.
A origem e os subgêneros
O início do cinema de horror remonta ao final do século XIX, com filmes como Le Manoir du Diable, de Georges Méliès. Desde seus primórdios, o gênero tem se adaptado às mudanças, oferecendo novas formas de nos assustar e emocionar. No entanto, foi com o expressionismo alemão e a criação de monstros famosos, como Drácula e Frankenstein, que o gênero se consolidou.
O terror continuou evoluindo ao longo das décadas, passando por fases como o slasher, dos anos 70, 80 e 90, o sobrenatural de James Wan, na década de 2010, e atualmente experimentando uma renovação com filmes que exploram temas mais psicológicos e sociais.
Justamente por ser um gênero amplo, o terror é dividido em vários subgêneros. Entre os mais famosos, temos, por exemplo, o slasher, onde assassinos em série viram lendas e ícones da cultura pop, como em Sexta-Feira 13 (1981) e Halloween (1978). Em entrevista, Lucas Tinoco, crítico de cinema e estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, vai além e afirma que os slashers e o giallo (suspense italiano com cores vibrantes) possuem uma forte conexão com as raízes do terror. O crítico acredita que esses gêneros têm mais chances de se tornarem clássicos por moldarem a visão do que é o terror, mas que apenas isso não é uma garantia do sucesso.
Por outro lado, temos também o sobrenatural, que engloba filmes como O Exorcista (1973) e Sobrenatural (2010), abusando de elementos espirituais e demoníacos, além de criar um medo que vai fundo nas crenças. Nesta mesma linha, encontramos o psicológico, que explora o terror que não depende de fantasmas, mas sim da mente humana e suas fragilidades, como em Nós (2019) ou Midsommar (2019). Por fim, temos o found footage, que usa gravações “encontradas”, como em Atividade Paranormal (2007), para dar a sensação de que tudo é real, aumentando a tensão.
Mas afinal, o que torna um filme de terror um clássico?
A transformação em clássico acontece quando o filme deste gênero ressoa emocionalmente com o público, apresentando uma narrativa envolvente, personagens e vilões memoráveis. O medo, quando bem explorado, reflete ansiedades sociais, garantindo a relevância do filme ao longo do tempo.
O Exorcista, por exemplo, não aborda apenas a possessão, mas também questões de fé e dúvida. Além disso, a qualidade técnica, a capacidade de gerar debates e a atemporalidade são fatores que contribuem para a classificação do clássico. Assim, um chamado “clássico do terror” se torna muito mais do que apenas um filme popular de entretenimento; é uma obra que nos faz pensar sobre nós mesmos e sobre o nosso redor.
E as sequências: ajudam ou atrapalham?
As sequências podem ser um desafio. A qualidade de uma continuação depende de como ela consegue inovar enquanto mantém a essência do original. Algumas conseguem expandir a história e trazer novas ideias, já outras podem acabar perdendo a força do original, que na maioria das vezes é considerado melhor.
É uma questão relativa, pois existem sequências que trazem a mesma história no mesmo ritmo, enquanto outras inovam contando histórias diferentes ou a mesma, mas com saltos temporais e novos personagens. Halloween, por exemplo, apesar de ter 12 sequências, manteve a mesma narrativa até o último lançamento, decaindo a cada filme e cansando o público. Por outro lado, Pânico (1996) trouxe três primeiras sequências cativantes, que refletiram as mudanças sociais ao longo dos anos, mas, ao investir nos filmes V e VI, a criatividade se esgotou, e é nesse momento que um clássico deve ser encerrado.
Já o universo de Invocação do Mal continua nos proporcionando sequências incríveis, inovando e melhorando a produção a cada longa. A justificativa de que é baseada em fatos reais e, por isso, sempre inova, não se sustenta, visto que Sobrenatural e novos lançamentos como Sorria (2022) estão fazendo o mesmo.
Vilões marcantes e suas contribuições
Os vilões também são essenciais no terror. Personagens como Freddy Krueger, Jason Voorhees, Chuck, Samara e Michael Myers se tornaram verdadeiros ícones, não só pelo que fazem, mas pela construção de suas histórias. Eles representam medos coletivos — como a perda de controle e a violência — e ajudam a consolidar o filme na cultura pop.
Um personagem desses precisa ter sua identidade bem construída e características marcantes, assim eles trazem muito mais potencial para se popularizarem.Já imaginou o que seria do Ghostface sem sua fantasia, Leatherface sem a serra elétrica, Jason sem o facão, e a Samara sem seus cabelos cobrindo o rosto todo?
Por fim, como um terror atual pode se tornar um clássico?
Construir um clássico de terror envolve a combinação de inovação, atemporalidade, relevância emocional e personagens memoráveis. Apesar de muitas vezes serem subestimados, os filmes desse gênero têm o poder de desafiar, provocar e, eventualmente, se tornar parte importante da história do cinema.
“Cinema, principalmente ao envolver terror e horror, se identifica como ousadia. Não quero assistir filmes puritanos ou que falem somente coisas lindas. Eu procuro no cinema de horror o inesperado”, afirma o crítico Lucas Tinoco, conhecido como “Cara da Cultura” nas redes sociais. “Filmes como Noites Brutais, Oddity e Longlegs cumprem isso, assim como clássicos como O Massacre da Serra Elétrica e Saló: Os 120 Dias de Sodoma, que realmente tiram o espectador do conforto e o projetam no desconforto e imersão”, completa o estudante.
Assim, ao ser questionado sobre quais filmes contemporâneos possuem potencial para se transformar em clássicos, Tinoco opina: “Acho que o principal que se destaca é Arraste-me para o Inferno, com seu tom debochado e jocoso, mas que também é conduzido a um terror irrestrito. Além dele, destacaria outros, como Não, Não Olhe, A Bruxa, Corrente do Mal, Longlegs, O Farol, Pânico 4 e I Saw the Devil.”
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O artigo acima foi editado por Clara Rocha e Julia Pujar.
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