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Halle Bailey as Ariel in the Little Mermaid
Halle Bailey as Ariel in the Little Mermaid
Disney
Culture

A Pequena Sereia: a importância da representatividade negra nas histórias infantis

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

A Pequena Sereia, novo live-action da Disney, estrelado por Halle Bailey estreou nos cinemas no dia 25 de maio. O filme foi alvo de diversas polêmicas, desde críticas ao CGI até a coloração do filme, parecendo apagado e sem alegria.

Contudo, a maior polêmica que cercou o longa-metragem foi a escolha de Bailey para interpretar a famosa sereia de cabelo vermelho, que marcou a história da Disney e diversas crianças ao redor do mundo. Nas redes sociais, internautas demonstraram indignação diante da escolha de uma atriz negra para interpretar uma personagem branca, alegando que estariam mudando a essência da história e apagando a trama original. 

Com críticas à escalação, surgiram diversos debates a respeito da representatividade negra nas histórias infantis que formam parte da memória de todas as crianças. A questão racial tem se tornado uma das pautas mais relevantes na atualidade.

Desde os primórdios do cinema, personagens negras tendem a ser estereotipadas e recebem pouco destaque nas histórias, sendo consideradas personagens de apoio, que existem apenas para completar o arco narrativo de mais um ator branco de Hollywood. Assim, o gênero infantil é um dos que possui menos representatividade, havendo pouquíssimas personagens negras. A visibilidade  nas telonas durante a infância vai além de um espelho no cinema, significa a construção de uma identidade saudável e possui um grande impacto na saúde mental de crianças negras

Até agora, A Pequena Sereia faturou aproximadamente US $118 milhões nos EUA, dentro das expectativas da Disney, demonstrando uma recepção positiva por parte do público norte-americano. O resultado, por exemplo, foi superior ao da bilheteria do live-action de Aladdin (2019), que arrecadou US $91,5 milhões.

Porém, as expectativas da empresa se concretizaram apenas nos Estados Unidos, uma vez que, o cenário internacional tem decepcionado. O filme arrecadou cerca de US $68 milhões em 51 países diferentes, ficando atrás de Velozes e Furiosos 10, em sua segunda semana em cartaz. Tais números se relacionam a diversas campanhas e projetos de boicote e ataques à atriz Halle Bailey.

Tanto os resultados de bilheteria do live-action quanto a escalação de Halle permitem uma análise a respeito da importância da representatividade negra no cinema infantil. A escolha de Bailey para interpretar uma sereia branca deu início a um debate contemporâneo a respeito da falta de representatividade de minorias em Hollywood e seus impactos na sociedade, afetando o desenvolvimento de uma identidade negra, mas também, proliferando as raízes racistas nas quais a sociedade tem sido construída.

A Pequena Sereia: Uma história de amor a crianças negras

Apesar de terem existido diversos internautas que demonstraram indignação diante da escolha da Walt Disney Company de Halle interpretar a famosa sereia Ariel, houve reações que encantaram as redes sociais. Meninas e meninos negros e, inclusive, adultos postaram suas reações ao primeiro trailer de A Pequena Sereia nas redes sociais, com momentos que aqueceram corações.

Desde alegria imediata até lágrimas de emoção, foi possível enxergar em cada uma dessas pessoas um senso de pertencimento. Cabe acrescentar que, na história das animações da Disney, foram poucos os filmes que deram abertura para protagonistas negras, ou de qualquer outro grupo minoritário, especialmente, quando se diz respeito a princesas. 

A primeira princesa negra da Disney foi Tiana de A Princesa e o Sapo, que lançou apenas em 2009 – 72 anos após o lançamento de Branca de Neve, primeira princesa da companhia . Existem diversas reações em relação à história encantadora de Tiana, uma jovem que sonha em construir seu próprio restaurante e acaba se apaixonando pelo príncipe Naveen.

Contudo, diversas críticas foram realizadas a respeito do filme animado, uma vez que, Tiana e Naveen são rapidamente transformados em sapos e o tempo de tela da jovem negra é maior na sua versão sapo do que sua versão humana. O maravilhoso de A Pequena Sereia é que, apesar de ser metade peixe, o tom de pele de Halle está sempre à mostra, sendo uma das primeiras princesas com as quais crianças poderão se identificar. 

Após os vídeos reagindo ao trailer ganharem milhões de visualizações, diversas pessoas gravaram suas opiniões e emoções após assistirem ao filme. Um dos vídeos que mais encantou os brasileiros foi o da influenciadora Gio Ewbank e sua filha Titi, que caíram no choro com a narrativa. Apesar de Ewbank ser uma mulher branca, ela se emocionou ao ver sua filha representada nas telonas. O vídeo não é apenas uma demonstração do amor mãe-filha, mas dos efeitos de se enxergar, especialmente, após tanta demora por parte dos estúdios de cinema. 


Halle Bailey também fez parte do grupo que se emocionou ao assitir o trailer, porém,  ainda mais, ao ver as reações de crianças negras às primeiras imagens de uma atriz negra interpretando uma personagem tão icônica. “Mesmo só de pensar nisso me deixa emocionada. Porque eu ainda me sinto assim por dentro. Eu me sinto como aquela criança de cinco anos. E isso me deixou tão cheia de amor, que elas sabem que são lindas e que também podem ser princesas”, contou a atriz em uma entrevista para a Vogue. Além disso, ela acrescentou:

“É aquela peça que eu não tinha. É tão curativo ver esses outros bebês conseguirem isso e poder saber que, quando ficarem mais velhos, isso será normal, sabe?”.

O crescimento de personagens negras em Hollywood

Com o lançamento do filme, é possível ver uma onda de outras produções ressignificando papéis que, durante anos, foram representados como brancos, como por exemplo, Homem-Aranha, Sininho e até a Rainha Charlotte, na série Bridgerton

Em entrevista para O Globo, a cineasta e mestre em Cinema e Audiovisual, Rosa Miranda, revelou que a representatividade no mundo de princesas e heróis é importante para que as crianças cresçam valorizadas e tenham exemplos.

 “A representatividade na tela é importante, mas pensar em como isso vai ser feito é importante também”, disse Miranda. 

A cineasta, porém, destacou que apesar da escalação de Bailey ter sido em grande passo para a luta antirracista, a Ariel é uma personagem que fica sem voz pela maior parte do filme: “então os negros ainda estão sendo silenciados, de certa forma, ainda não tem voz suficiente durante o filme todo. E é um conto europeu, então, continua tendo uma visão eurocêntrica, mesmo tendo um corpo negro ali”.

Existem diversas personagens negras que são ótimas representações para a identidade das crianças de novas gerações, como o Pantera Negra, interpretado por Chadwick Boseman e Miles Morales, uma versão alternativa do Homem-Aranha. Homem-Aranha no Aranhaverso é uma animação que conseguiu trazer representatividade com perfeição, se tratando de Miles Morales, um herói negro e com cabelo crespo, criado no Brooklyn e com origem porto-riquenha. 

“Muitas crianças de cor, quando estavam brincando de super-heróis com seus amigos, não tinham permissão para ser Batman ou Superman, porque não se pareciam com eles. Mas essas mesmas crianças podiam ser o Homem-Aranha, porque qualquer um poderia estar sob essa máscara. E agora é verdade. Significa muito para muitas pessoas”, contou o quadrinista Brian Michel Bendis ao Portal CBR.

A importância da representatividade na infância

Diante disso, cabe refletir a respeito da importância da representatividade nas histórias infantis, desde princesas até super-heróis. Os desenhos e filmes infantis são a fonte de imaginação das crianças, provavelmente, o primeiro contato com histórias visuais. 

“A representatividade acende em todas as pessoas negras a esperança de que nós estamos tendo a possibilidade de reescrever a história com protagonismo negro. Vemos no cinema a história negra sendo retratada sempre por uma ótica de muita violência contra os corpos negros”, explica Vitor Bedeti, professor do curso de cinema da PUC Minas para o Estado de Minas. 

A representatividade não é benéfica apenas para crianças negras, mas para a sociedade como um todo. A partir da inserção de personagens negros em papéis que lhes foram negados durante anos, entra-se num processo de desenraizamento das bases racistas da nossa sociedade, ajudando na construção de valores e comportamento. A escalação de Halle Bailey foi um grande passo em Hollywood e, talvez, o primeiro a iniciar uma jornada de reflexão e união.

O texto acima foi editado por Mariana Cury.

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Adriana Marruffo

Casper Libero '25

- mexican (but enjoying living in Brazil) journalism student – pop culture lover, dancer and writter 🤍 – 19y old – e-mail: adrianamarruffo@hotmail.com