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Culture

Amor ou Red Flag? A problemática dos livros de Dark Romance

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Os famosos Dark Romances, traduzido do português para Romances Obscuros, vem se tornado cada vez mais famosos entre os jovens. Livros que exploram temas sombrios, com elementos de mistério, violência e relações abusivas, são uma constante pauta de discussão, já que, muitas vezes, romantizam atitudes tóxicas.

Caroline Fawley, criadora de conteúdo literário e influenciadora nas redes sociais, ela explicou que a popularização desse gênero aconteceu por ser um assunto novo, que não estávamos acostumados, e por isso chama tanta atenção. 

“O Dark Romance oferece ao leitor uma experiência diferente de outros livros de romance, eles são mais intensos”

Caroline Fawley

A criadora de conteúdo Aline Martins, hoje com mais de 20 mil seguidores, grava vídeos para o TikTok focados em livros, nicho conhecido na plataforma como booktok, voltados para as obras desse gênero. Ela conta que se interessou por esse tipo de literatura porque estava cansada de ler romances clichês, onde a vida dos personagens é sempre perfeita. “Estava à procura de livros mais intensos, com temas mais sombrios. Queria algo diferente com mais complexidade”, explica Aline.

Mesmo com uma grande rede de fãs, o gênero tem uma tendência preocupante de romantização de atitudes nocivas. É comum encontrar nesse tipo de narrativa personagens que negligenciam comportamentos tóxicos e relacionamentos abusivos que, segundo a CNN, atingem cerca de 27% das mulheres entre 15 e 49 anos. 

Esses livros retratam a ideia de que um homem com um histórico de comportamento violento pode mudar por causa de um relacionamento, ou pior, que suas atitudes podem ser justificadas pelo amor que ele sente. Isso cria uma narrativa perigosa, onde o controle excessivo e até mesmo a violência são expressões de uma paixão intensa. 

Segundo a psicóloga especialista em saúde mental Patrícia Bertozzi, histórias que romantizam relacionamentos abusivos podem normalizar esse tipo de atitude e acabar influenciando negativamente os leitores.

“A romantização desses comportamentos cria uma ideia de que eles são sinais de amor profundo, levando os leitores mais vulneráveis a se exporem a situações de risco, expectativas irreais e aceitação de situações abusivas”

Patrícia Bertozzi

Quando falamos em relacionamentos abusivos, a primeira coisa que vem em mente é a violência física. Porém, existem diversas formas de um relacionamento ser nocivo, como é o caso da violência psicológica, que parte muitas vezes da manipulação. 

O livro Assombrando Adeline, de H.D Carlton, é um Dark Romance bem conhecido nas redes sociais. Ele conta a história de uma escritora que é vítima de perseguição e se apaixona pelo seu stalker. Frases como “Não importa. Ela não será capaz de escapar de mim agora. Acabei de encontrar uma ratinha e não irei parar até capturá-la”, são comuns no livro e se mostram uma constante entre as obras do gênero.

Mas qual será a inspiração das escritoras para escreverem livros com tantos gatilhos? Caroline, que além de influencer, também é autora dos livros de Dark Romance Só Amigos e Isso Muda Tudo, conta que as cenas sombrias que escreve muitas vezes são uma maneira de lidar com situações que viveu ou que ouviu ao longo de sua vida. “Muitas coisas que estão nos livros são situações que a gente passou e que precisamos colocar para fora de algum jeito”, disse Caroline.

Agora pensando nos amantes da literatura, é importante mencionar os jovens dentro desse meio. O booktok atinge, principalmente, os adolescentes entre 13 e 17 anos, e muitos deles são fãs de Dark Romances, mesmo que os livros não sejam indicados para sua faixa etária.

Malu Marques, também criadora de conteúdo para o booktok, não se interessa muito pelo gênero e se preocupa com a romantização das atitudes dos personagens.

“Quando chega em pré-adolescentes, torna-se problemático, porque é uma fase de entendimento, sem muitas vivências. Essa romantização facilita que o jovem entre nesse tipo de relação e ache que está tudo bem”

Malu Marques

Uma vez que banir esse tipo de livro ou controlar sua venda para os jovens fora da classificação indicativa são opções inviáveis, a maneira encontrada por muitos influenciadores do meio e consumidores da literatura é a conscientização. A psicóloga Patrícia explica que discussões sobre a romantização e a aceitação dessa violência são boas maneiras de começar uma conversa. 

“Trazer tópicos como abuso e consentimento para discussões ajuda a aumentar a conscientização e a análise crítica dos comportamentos e normas sociais. Aumentar a diversidade das mídias consumidas, mostrando outras formas de relacionamento, também ajudam a criar um pensamento mais crítico quanto à romantização do abuso”

Patrícia Bertozzi

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O texto acima foi editado por Julia Pujar

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Meu nome é Mariana, sou estudante de jornalismo, tenho 18 anos e sou apaixonada por livros, música e entretenimento.