Na indústria fashion, assim como no universo da arte, olhar para o passado é essencial para inspirar novas criações e impulsionar a evolução da moda. Estilistas, designers e diretores criativos frequentemente buscam referências em criações já existentes para gerar novos produtos, atribuindo uma interpretação mais moderna. Um exemplo é o blazer, originalmente utilizado por homens em ambientes navais e como parte de uniformes esportivos, ressignificada por Coco Chanel, que foi responsável por introduzi-la no guarda roupa feminino.
No entanto, é preciso traçar um limite claro entre a inspiração e a cópia, garantindo que a reinterpretação respeite a integridade das criações originais e evite cair no plágio.
A CÓPIA NA MODA
A cópia faz parte da história da moda. Mais de 90 anos atrás, Gabrielle Chanel e Madeleine Vionnet, duas concorrentes e maiores estilistas da alta costura francesa, uniram forças para processar Suzanne Leneil, que havia criado 48 imitações de suas peças originais. Este problema persiste até os dias de hoje e, na verdade, está aumentando. Recentemente, a Class, uma marca brasileira de streetwear, lançou o relógio CLSantos, que é praticamente uma réplica do Santos, um clássico da Cartier. Claramente não é uma inspiração, já que desde o design da peça até as cores, como o azul do ponteiro, tudo é muito parecido com o original.
Os defensores da cópia, como as fast-fashions, argumentam que essa prática democratiza o mercado de luxo e impulsiona tendências. Além disso, fomenta novas criações, pois a rápida saturação das peças no mercado, força os designers a inovarem continuamente, uma ideia conhecida como o paradoxo da pirataria, desenvolvida pelos professores norte-americanos Kal Raustiala e Christopher Jon Sprigman. Isso resulta não apenas em um consumo exacerbado, mas também desvaloriza e prejudica o trabalho criativo dos designers – transformando em produtos de consumo massificado – e a identidade das marcas.
O IMPACTO EM PEQUENOS CRIADORES:
Quando se trata de marcas menores ou criadores independentes, essa questão se torna ainda mais crítica. Normalmente, eles não possuem recursos necessários para se opor a grandes empresas estabelecidas na indústria, o que os fazem perderem sua originalidade e o valor de suas peças. Além disso, grandes empresas conseguem produzir em grande escala e a um custo menor, resultando em um alcance de mercado significativamente maior.
Em 2017, Pierre-Louis Auvray, um estudante de moda da Central Saint Martins, levantou a discussão sobre jovens criadores serem copiados por grandes grifes sem receberem crédito. Ele acusou Alessandro Michele – diretor criativo da Gucci – de plágio, que por sua vez negou, dizendo que era apenas uma coincidência e que, devido ao tempo envolvido no processo criativo, seria impossível ele ter copiado o trabalho do jovem. Por isso a necessidade de leis rígidas e bem definidas sobre a proteção das criações na moda.
PROTEÇÃO DAS CRIAÇÕES
Nos Estados Unidos, a industrialização da moda se consolidou através da manufatura , o que levou a uma classificação das roupas como itens funcionais. Consequentemente, o design das roupas não é protegido por direitos autorais, apenas componentes técnicos recebem proteção legal. No Brasil, a legislação adota uma abordagem semelhante, refletindo questões históricas compartilhadas por ambos os países. Segundo o livro História da Moda no Brasil, de Luís André do Prado e João Braga, diferentemente dos países europeus, onde a indústria da moda se desenvolveu em torno da criação, o Brasil iniciou seu processo de industrialização através da cópia e adaptação de modelos estrangeiros, assim como os Estados Unidos. Contudo, ao longo do tempo, ambos os países desenvolveram suas próprias identidades no cenário da moda.
Por outro lado, na França a moda é entendida da mesma forma que as artes visuais, tendo leis de propriedade intelectual rígidas, que protegem tanto os aspectos funcionais quanto os estéticos das criações de moda. Da mesma forma, Itália e Alemanha valorizam e protegem legalmente os designs originais, reconhecendo a importância cultural e econômica da moda em suas economias.
Contudo, apenas as legislações não são suficientes, já que muitos casos de plágio passam despercebidos ou não são devidamente punidos. Por isso, as redes sociais têm exercido um papel fundamental como fiscalizadoras, denunciando casos de cópia e trazendo visibilidade a esses problemas. Um perfil famoso nesse contexto é o Diet Prada, que surgiu em 2014 e se tornou um vigilante do plágio na moda, recebendo tanto elogios quanto críticas por seu trabalho.
O artigo acima foi editado por Ana Carolina Carvalho.
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