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Ballerina Farm: uma “esposa tradicional” realizada ou uma mulher exausta?

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Uma ex-bailarina que se tornou uma mãe 100% dedicada à criação e educação dos oito filhos. Esposa de um dos herdeiros das maiores companhias aéreas dos Estados Unidos. Empresária e criadora de conteúdo, o qual compartilha a sua vida na fazenda em que mora. Estes são alguns dos vários papéis que a americana Hannah Neeleman, ou melhor, a “Ballerina Farm”, como ela é mais conhecida, exerce e divide nas suas redes sociais.

QUEM É HANNAH NEELEMAN ?

Criada no estado de Utah junto aos oito irmãos e aos seus pais, pequenos empreendedores e seguidores da religião Mormon, a americana de 34 anos cresceu rodeada de valores conectados à crença religiosa da família. Também foi nesse momento em que a americana observou o espírito empreendedor se manifestar na sua vida.

Quando criança, ela se apaixonou pela dança. E aos 17 anos, Hannah saiu de sua cidade no centro-oeste americano e foi em busca do seu grande sonho: estudar ballet em Nova Iorque. Na época, a recém moradora da cidade entrou em uma das escolas de dança mais renomadas do país, a Universidade de Julliard.

Para conseguir bancar os seus estudos, a bailarina participou paralelamente de alguns concursos de beleza, evento o qual oferecia bolsas de estudo ou dinheiro para a universidade às vencedoras do concurso. Em 2008, Hannah venceu a Miss Springville/Mapleton e, em 2010, ficou em segundo lugar no Miss Nova Iorque.

Um ano antes de se formar, ela conheceu o seu atual marido, Daniel Neeleman, herdeiro de  companhias de aviação como JetBlue e Azul. Em seis meses, os dois se apaixonaram e logo se casaram. Pouco antes da formatura, em 2012, a história mudou: Hannah ficou grávida e o primeiro filho do casal nasceu. Logo após receber o seu diploma, a então bailarina abriu mão daquele sonho que ela tinha para construir a sua família. 

Devido a oportunidade de trabalho do marido, o casal e o filho recém nascido foram morar no Brasil. Por quatro anos, ela continuou com a dança em paralelo, porém desistiu para cuidar dos dois filhos que nasceram durante a época em que viveu no país. Após uma breve passagem no país, Daniel e Hannah decidiram abrir seu próprio negócio de agrícolas e voltaram para Utah. 

COMO ELA SE DESTACOU NAS REDES

Ao voltar para os Estados Unidos, o jovem casal adquiriu uma propriedade rural e o nome da então proprietária e futura criadora de conteúdo “Ballerina Farm” veio em uma conversa com o irmão enquanto Hannah iniciava o negócio junto ao marido. Conforme os anos foram passando as responsabilidades tanto empresariais quanto familiares aumentaram. Então, a americana aos poucos começou a compartilhar um pouco da sua vida na fazenda, aos poucos mostrando a sua rotina e os negócios da família.

Com mais de 17 milhões no Instagram e Tik Tok, a mãe e empresária viralizou nas redes pelos seus vídeos em que ela preparava receitas feitas do zero com produtos totalmente caseiros e frescos ao lado dos seus filhos. Além de equilibrar eventos como o concurso de beleza, Mrs América, poucos dias após o nascimento de sua filha mais nova, competição diferente do Mrs America por ser um evento para aquelas que já são casadas ou têm filhos, como é o caso de Hannah. 

A TENDÊNCIA É SER UMA “TRAD WIFE”

Isso fez com que seu conteúdo chamasse a atenção de mulheres com o mesmo estilo de vida e até se tornou uma fonte de inspiração. Conforme compartilhava sua vida rural, começou a ser considerada uma das referências das “trad wives”, termo designado ao movimento de  mulheres que ficou popular nos Estados Unidos revivendo valores e papéis de gêneros tradicionais,em sua maioria dedicada à vida aos filhos, marido e a casa.

Apesar da mesma não se considerar uma representante, ou ter algumas diferenças como recorte racial, e condições financeiras em comparação com outros nomes desse movimento, como a modelo sul-africana Nara Smith, a influenciadora Hannah também exalta o estilo mais tradicional dedicado ao marido e aos filhos. 

PROPÓSITO OU SOBRECARGA

A grande questão que pôs em xeque esse estilo de vida é que o conteúdo mostrado nas redes pode causar uma romantização sem mostrar a exaustão que muitas mulheres têm com tanta responsabilidade, além de criar um senso de comparação de realidades totalmente diferentes . 

A polêmica sobre Hannah veio depois de uma entrevista ao jornal britânico The Times. 

Na reportagem, a jornalista Megan Agnew questionou a ex-bailarina sobre sua decisão enquanto ela contava sua história e o que a havia levado a abandonar sua carreira. A publicação também apontou um suposto comportamento polêmico do marido que a interrompia várias vezes, até mesmo dando a impressão da própria não ter muito autonomia e parecia muito submissa. A influenciadora respondeu às críticas comentando que sua realidade está focada em Deus e a família. 

Isso trouxe à tona uma discussão se as mulheres que têm se dedicado à família e adotam o papel de “esposas tradicionais” estão realmente felizes ou se elas estão sendo forçadas a aceitar a exaustão. No caso da Ballerina Farm, a própria comenta na entrevista que não era a vida que ela imaginava quando tinha seus vinte anos, mas conforme o tempo passou e alguns eventos que ocorreram na sua vida, suas prioridades e vontade de ter uma família mudou, e isso deve ser considerado totalmente válido e normal. 

Porém, um detalhe nessa discussão é que culturalmente as mulheres estiveram à frente dos afazeres domésticos que posteriormente ficou conhecido como “trabalho invisível”, trabalho o qual não é remunerado e muitas vezes causa uma sobrecarga sob as mulheres. 

No momento em que criadoras de conteúdos divulgam o seu trabalho e esforço diário sendo praticamente feito sozinhas, precisa-se questionar sobre até onde esse trabalho será inviabilizado e até mesmo uma régua de comparação muito alta. 

Por isso, quando falamos de influenciadoras é preciso ter atenção na criação de conteúdo e responsabilidade que elas têm sobre a propagação desse estilo de vida. Elas devem alertar os diversos recortes que cada uma delas têm, tomando cuidado para construir uma comunidade digital positiva, principalmente para aquelas que já são mães ou então decidiram não ter filhos. Compreender que a falta de transparência pode gerar sobrecarga, pressões excessivas, sensações de inadequação, e dificuldade na liberdade de escolha, é crucial para um processo mais equilibrado e justo.

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The article above was edited by Livia Nomoto

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Brunna Bitencourt

Casper Libero '25

Journalism student who loves to talk about art,music,fashion,travel,books. Looking for to write new stories.