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A Barraca do Beijo 2 Fortalece a Noção de Rivalidade Feminina; Entenda!

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Spoiler Alert: Se você ainda não assistiu A Barraca Do Beijo 2, pode ser melhor deixar essa matéria para depois!

Aposto que, como todas nós, você também deve ter ficado animada com o lançamento de A Barraca do Beijo 2, que estreou na penúltima sexta-feira de julho (24/7). Um sucesso entre as comédias românticas teen, a história acompanha os desenrolares da vida e dos amores de Elle Evans (Joey King), Lee (Joel Courtney)  e Noah Flynn (Jacob Elordi). E, para compor os desenlaces da trama, a sequência trouxe algumas carinhas novas que incendiaram a internet: Marco (Taylor Zakhar Perez), Chloe (Maisie Richardson-Sellers) e Rachel (Meganne Young).

Porém, foi justamente esse novo enredo, ao lado desses personagens, que acabou por gerar algumas reflexões importantes na internet. Vem entender! 

Netflix symbol on TV with a hand holding a remote
Photo by freestocks.org on Unsplash
Elle, tendo que lidar com o seu namoro à distância com Noah, começa a desenvolver algumas inseguranças quanto ao recente grupo de amizades do namorado: mais ainda quando descobre que ele é integrado por Chloe, retratada como uma universitária confiante, carismática e empoderada. Além disso, Elle, se sentindo mais solitária pela partida do boy, acaba por passar cada vez mais tempo com o novo casal: Lee, seu melhor amigo, e sua namorada, Rachel – que, ao longo do filme, demonstra estar mega desconfortável com a presença constante da protagonista em todos os seus dates.

Por isso, mesmo com os aspectos fofos que A-M-A-M-O-S nas ‘rom-coms’, A Barraca do Beijo 2 trouxe alguns aspectos tóxicos dos relacionamentos, principalmente no que diz respeito à rivalidade feminina. 

Mas afinal, o que é a rivalidade feminina?

Em uma sociedade patriarcal, a rivalidade feminina surge como um mecanismo de defesa e sobrevivência, criado para manipular e desunir as mulheres, perpetuando a ideologia de que somos seres frágeis. Para compreender melhor a origem desse conceito, conversamos com Alessandra Oliveira, psicóloga clínica.

“A rivalidade feminina surge principalmente porque, apesar da luta por mais direitos sociais ser antiga, ainda hoje são poucos os espaços onde a mulher é, de fato, reconhecida e valorizada. Antigamente, a maior oportunidade da mulher conseguir status social era conseguir um bom casamento. Então sempre existiu aquela coisa de ‘queimar o filme das outras mulheres’ para poder se sobressair.”, explica.

A doutora ainda fala que, mesmo que as mulheres ocupem cada vez mais espaços na sociedade, a visão de que não existe lugar para todas – seja em um ambiente profissional ou em relacionamentos – ainda persiste. “São poucas as que, alcançando algum status naquilo que se propõe a fazer, conseguem compartilhar e alavancar outras mulheres junto.”, afirma a especialista.

Em A Barraca do Beijo 2 vemos como este estereótipo de jogar mulheres umas contra as outras é reforçado. A protagonista, se dando conta das mentiras contadas por Noah, sente ciúmes e, ao invés de apostar na comunicação e na inteligência emocional, vê como única saída a necessidade de batalhar contra Chloe, sua suposta “rival”, pelo amor de seu namorado. A mesma coisa acontece com Rachel, namorada de Lee. Ao invés de responsabilizar o parceiro pela falta de organização na hora de administrar seus relacionamentos, culpa Elle pela “intromissão”.

Em ambos os casos, tanto Elle quanto Rachel fazem algo que, infelizmente, é bem comum: não responsabilizam o homem pelas complicações do relacionamento, pelo contrário, acabam transferindo a culpa a uma outra mulher.

Original Illustration for Her Campus Media
Yasmin Morais, autora do blog literário ‘​Minha Doce Paranoia’, discente em Jornalismo e fundadora do projeto​ ‘Vulva Negra’​ – primeiro portal feminista radical e anti racista do Brasil – explica como essa concepção, utilizada livremente por Hollywood, por exemplo, de transformar outras mulheres em rivais, vigoram hierarquias de opressão e contribuem para estereótipos negativos. “Sistemas como a Indústria Cultural retroalimentam-se da representação de mulheres como criaturas voláteis, pouco confiáveis e traidoras umas para com às outras. Deste modo, cria-se no imaginário social a ideia de que integrantes da classe feminina, além de inferiores, carecem de adentrar uma competição duradoura a fim de serem minimamente reconhecidas.”, explica.

Yasmin também fala que, estes mesmos estereótipos, servem, na verdade, para dividir e afastar ainda mais as mulheres. “Quanto mais a classe feminina se afasta e digladia entre si, mais dificultosa torna-se a fundação de movimentos femininos realmente emancipatórios e revolucionários.”, conta.

No filme, embora atravesse diversos percalços ao longo do caminho, ele tenta finalizar de uma forma positiva. Mesmo que de maneira superficial, vemos Elle, Rachel e Chloe conversarem e se unirem, transmitindo o exato oposto da rivalidade feminina: a sororidade.

“A sororidade, enquanto aliança política, econômica e cultural entre mulheres, possui um caráter imensamente revolucionário e pertinente ao avanço das pautas feministas em sociedades patriarcais.”, enfatiza Yasmin. 

Original Illustration in Canva for Her Campus Media
E, por estarmos todas inseridas neste mundo de homens, é preciso lembrar que desconstruir tais aspectos é uma tarefa diária. Alessandra diz que para quebrarmos esse tipo de crença, é necessário que a gente fale cada vez mais sobre o protagonismo feminino nas diversas áreas.

“Não se trata de competir com homens ou mulheres. Se trata de ter o direito de ocupar o lugar que se deseja. De ter o direito de participar ativamente na construção da sociedade e de transformá-la a partir da sua própria experiência de ser no mundo.”, finaliza a psicóloga.

cuore in allarme journalist, writer, artist and everything else in between ✉ laurapferrazzano@gmail.com