Dona de uma coleção de discos de vinil e uma estante cheia de livros, Giovanna Bronze é apaixonada pelo jornalismo. Sua voz forte e fala entonada (de locutora de rádio) disfarçam a emoção de quando conta, empolgada, sobre suas cachorrinhas (Nala e Lua). Quem a abraça não imagina que os braços da Giovanna já derrubaram muitas meninas no tatame. Conheça um pouco mais sobre ela na entrevista abaixo:
Por que você escolheu cursar jornalismo? Escolhi porque não tinha matemática (risos). Mas falando sério: eu sempre gostei de escrever e no Ensino Médio eu fui recebendo mais incentivo para isso. Era algo em que eu era boa, sabe? Os livros eram, e sempre foram, grande parte da minha vida, então poder criar um era uma ideia que me animava muito. Na verdade, eu queria ser escritora, mas também queria fazer algo que pudesse mudar o mundo. Então jornalismo se mostrou a única profissão possível, principalmente quando eu li na orelha do livro “O Oceano no Fim do Caminho” que o Neil Gaiman era formado nesse curso. Era algo que além de me propor tudo que eu buscava, também me dava mais opções do que o curso de letras e me permitia um espaço mais amplo para falar e trabalhar com meus múltiplos interesses.
Bronze quando criança | Foto: Acervo Pessoal
O que você mais gosta no seu curso? Este leque de oportunidades que ele me oferece, nos mais diversos assuntos. Mas tudo isso também me deixa ansiosa porque eu quero fazer muita coisa, desde assessoria (área pela qual eu me apaixonei), redação, locução, reportagens e até apresentar um telejornal.
Qual foi o melhor trabalho/reportagem que vc já fez? Como foi? O melhor eu diria que ainda está por vir, mas a minha reportagem sobre bandas independentes é uma pela qual eu tenho muito gosto. Vc gosta de cozinhar? Por quê? Eu passei a gostar de cozinhar mesmo quando passava o dia em casa e assistia uns programas de culinária. Via tudo aquilo e me dava MUITA vontade de reproduzir. Eu brincava que baixava o espírito da Palmirinha. Com quem vc aprendeu a cozinhar? Minha avó, minha mãe e com o Tasty Made.
Com quem vc mora e como é a sua rotina? Com os meus pais, meu irmão e duas cachorrinhas lindas. Minha rotina é acordar, tentar reunir forças para sair da cama, falhar miseravelmente, levantar 40 minutos depois, ir à aula, ir pro trabalho, voltar pra casa ouvindo música no ônibus. Acho que isso (risos).
O que vc mais gosta em SP? Posso responder que amo tudo? Eu era aquela sad girl e pensava que “queria ter nascido em Londres” na minha pré adolescência. Conforme fui amadurecendo minha visão de mundo, fui descobrindo meu país e minha cidade. Eu me apaixonei, principalmente pela minha São Paulo. Suas cores em contraste com sua fama de cinza, as pessoas tão diferentes, seus pontos que unem as culturas mais diversas.
Se você pudesse levar um estrangeiro para 5 lugares em SP, quais vc escolheria? Por quê? Eu levaria pra caminhar a Avenida Paulista toda. É meu lugar favorito e eu sinto uma paz tremenda de caminhar por lá e prestar atenção nos milhares de detalhes. Levaria para o parque do Ibirapuera também. E ao bairro da Liberdade, porque dá gosto conhecer mais da cultura oriental, principalmente gastronomia. Na 25, mas não pelas compras: iríamos para explorar os empórios árabes e comer uns doces incríveis. E lógico que o levaria ao Mercadão. Perdi a conta (risos), mas adiciona passear no Centro.
Bronze e Tom (holandês). Ela realmente o levou à Avenida Paulista, mas também o levou à Argentina, a Foz do Iguaçu, ao Rio de Janeiro e à Bahia | Foto: Acervo Pessoal
Você gosta de viajar? Acho que viajar, ao lado de shows, é uma das coisas nas quais você realmente deve investir dinheiro. Você paga para ter oportunidade de criar memórias. O que é melhor do que isso? Infelizmente, o capitalismo nos obriga a pagar para ter essas experiências, mas elas não podem deixar de fazer parte da sua vida.
Qual foi sua viagem favorita? Por quê? Como foi? Não viajo com frequência, infelizmente, mas Amsterdam me conquistou. Eu saí do país com gosto de quero mais na língua, então eu definitivamente irei voltar para explorar mais a cidade e as histórias da Holanda. O que você mais valoriza na vida? Então, eu quero influenciar positivamente a vida das pessoas. Se qualquer coisa que eu faça puder ajudar que eu alguém, eu irei fazer. Mas se for pra falar de modo sucinto: acho que a busca pela felicidade. Nossa e dos outros. Essa busca nos impulsiona em relações, experiências e gestos que resultam em memórias e mudanças positivas no mundo e em nós mesmos. Aí nós podemos deixar esse mundo levando algo conosco, mas deixando algo para ele, né?
Qual é o seu livro favorito? Por quê? “Invisible Monsters” é aquele livro que teve mais citações que me marcaram. É um livro cru e ficcional, mas que me atingiu com uma brutalidade real. Chuck Palahniuk é aquele cara que te dá um soco no estômago através de palavras e você agradece, porque você nunca imaginou que algo escrito pudesse desencadear algo tão real dentro de você. Mas também “O Oceano no Fim do Caminho”, marco da minha profissão haha então eu adiciono também Harry Potter, marco da minha obsessão pela leitura, que nasceu no tédio em uma fazenda e acabou por pavimentar a minha vida.
Bronze em um dos seus lugares favoritos: a Avenida Paulista | Foto: Acervo Pessoal
Qual é o seu filme favorito? Por quê? “Clube da Luta”. Foi aquele filme que me deu um choque brutal de realidade nos meus 14 anos. Foi aí que eu saí da minha bolha e tomei consciência de muitas coisas. Não tudo, porque isso não é possível, mas me abriu de modo visceral e foi aí que eu me tornei uma pessoa mais evoluída, eu acho. Passei por um processo sombrio e doloroso, mas que resultou em uma pessoa diferente do que eu era. E eu gosto mais desta pessoa aqui do que aquela. “A Grande Beleza” é um outro filme que mexeu comigo, também. De um jeito mais sensível, ele me deixou com o coração leve. O filme me deu um sentido, sabe?
Qual é o seu meme favorito? CHOICES. Porque dá para você empregar em todas as situações. “Miga voltei com meu ex” CHOICES “miga não vou estudar” CHOICES “miga eu vou começar a criar hipopotamos” CHOICES Vc pratica algum esporte? Já praticou? Desgraçar minha cabeça e sofrer por antecipação conta como esporte (risos)? Lutei judô por muitos anos e fiz dos mais diversos esportes. Ginástica olímpica, futebol, volei, basquete, karatê, boxe, mas o judô é o que eu fiquei por mais tempo. Fui até competir no Canadá lá em 2010.
Por que você escolheu o judô? Porque minha mãe incentivou. Ela preferia ballet, mas como eu preferia lutar, ela transferiu tudo pro judô. O que você aprendeu com o esporte? Disciplina e respeito. De verdade. Talvez eu não demonstre muito na parte da disciplina, mas é realmente enriquecedor aprender uma arte marcial. Tem um respeito em volta de cada gesto, cada passo, desde o momento em que você entra no tatame até o momento que você o deixa. É algo bonito de se ver.
Por que vc parou de competir? Pressão. Meu sol em virgem me colocava em muita pressão. Eu nunca era o suficiente e aí, com o vestibular, não ser o suficiente para todas as responsabilidades era demais. Não aguentei a pressão.
Você tem alguma religião? E a sua família? Fui criada como católica, minha família toda é. Batismo, primeira comunhão, tudo. Todo mundo. Mas minha mãe, minha vó e minha bisavó sempre falavam muito de santos. Minha mãe inclui até Iemanjá, então isso já me dava um panorama maior. Estudei em escola católica minha vida toda e lá tínhamos a disciplina de Ensino Religioso. Tive professores que davam Bíblia 101, mas também tive os que faziam questão de ensinar sobre o candomblé, umbanda, judaísmo, espiritismo e budismo. Depois de eu ter mudado bastante a cabeça e ter passado a fase revoltada de adolescente, gritando que era ateia, eu acho que me identifico como agnóstica. As possibilidades são tantas, sabe? Não quero me prender a uma figura só. Acredito em algo bem maior, algo que flui essa energia/poeira cósmica que percorre nossos corpos e o planeta em que vivemos. Mas não sei se acredito no Deus na religião em que fui criada. Porém também não descartei completamente ele. Pode ser tantas coisas. Gostaria de me envolver mais com o budismo no futuro. Gosto da ideia de encontrar um caminho que me ajude a ser menos triste, coisa que muitos budistas propõem, porque eles incentivam a busca pela felicidade. Mas eu confesso que, por algum motivo, gosto muito das imagens de Iemanjá e de São Jorge. Elas me acalmam, me dão certo conforto. Não rezo para eles, mas eles me dão uma familiaridade que me dá até um pouco de força para parar e respirar fundo.
Fotografia tirada por Giovanna Bronze (que ama fotografar)
Edição: Marcela Schiavon