A São Paulo Fashion Week N57, batizada com o tema “Sintonia”, exibiu uma variedade de desfiles em suas passarelas. Com designers emergentes no cenário da moda brasileira, o evento dialogava com conceitos de moda circular, pluralidade e sustentabilidade. Por sorte, a Her Campus Casper Líbero esteve presente em dois desfiles da temporada: para a marca Fauve, produzida por Clara Pasqualini, e para a Dendezeiro, por Hisan Silva e Pedro Batalha.
Os desfiles circularam dentro da temática do evento, entretanto, se diferenciavam de forma singular, trazendo suas próprias identidades e características para as silhuetas expostas nas coleções. A herança plural brasileira foi trazida para as passarelas, com intuito de traduzir a diversidade étnica e a cultural nacional para os espectadores da Fashion Week.
sintonia: a parte de uma história
Em sua 57ª edição, o tema “Sintonia” foi o que conduziu a produção do acervo de roupas elaborado pelas 27 grifes selecionadas para participar da SPFW. Compartilhando a cultura de oito estados, as marcas desfilaram nos shoppings JK Iguatemi e Iguatemi São Paulo, sem contar também, as que realizaram seus desfiles em outros locais, como a marca João Pimenta, que desfilou no badalado Edifício Martinelli.
A definição de sintonia, no dicionário, é estar em harmonia ou correspondência com o meio, e segundo explicações da cofundadora do evento, Graça Cabral, o tema escolhido retrata justamente o alinhamento da moda aos novos tempos.
Com a iniciativa de trazer os conceitos de moda circular e sustentabilidade, a SPFW se adapta às novas ideias do mundo da moda, que entrelaçam o fashion e a educação ambiental, já que a indústria das tendências é uma das responsáveis pela poluição ecossistêmica. Portanto, na SPFW N57, os processos de produção das roupas também são questionados.
prelúdio
Devido à imigração italiana em massa nos séculos 19 e 20, a cultura ítalo-brasileira se tornou presente na vida de inúmeras famílias pelo Brasil. Originária do Rio Grande do Sul, a designer Clara Pasqualini transformou a ancestralidade em uma coleção para sua marca Fauve.
A Fauve surge em honra aos legados dos avôs da artista: João Postal, mestre na arte de produzir o próprio vinho para consumo familiar, e Ernesto Pasqualini, habilidoso tanoeiro que, em sua juventude, criou artesanalmente barris para o armazenamento da bebida.
Em uma coleção carregada de memórias, Clara perpetua a tradição da Tanoaria, arte ameaçada de extinção, e a produção de vinhos. Suas peças trazem silhuetas que evocam a forma dos barris ancestrais e estampas que recordam as singulares manchas e nuances dos vinhos, tecendo, assim, um elo eterno entre passado e presente.
para aqueles que acreditam na liberdade
Conhecida pela valorização das brasilidades e representatividade da cultura negra, a Dendezeiro fez um desfile marcante na SPFW inspirado pela obra Capitães da Areia, de Jorge Amado.
A marca viralizou nas últimas semanas pelo projeto “Dendê Game”. Com o intuito de estimular a criatividade, a proposta fez com que as criações projetadas fossem elaboradas pelo público, trazendo elementos cotidianos da cultura brasileira.
Entretanto, a viralização da marca não acabou no primeiro projeto: com o “Chapéu da Vitória“, a Dendezeiro criou chapéus pensados para aqueles que possuem cabelos crespos e enrolados, já que a produção de capelos tradicionais nunca foi pensada com base em ideais de diversidade e inclusão. Até o momento, já foram produzidos quatro tipos de chapéus para formaturas diversas:
O desfile, intitulado “Para aqueles que acreditam na liberdade”, circulou com silhuetas marcantes e fortes, viajando entre vestidos e blazers tradicionais e desconstruídos em formatos de outras peças. Com construções em camadas e criação de estampas que traziam referências a brasilidades e ancestralidade afro-baianas, a marca trouxe para as passarelas figuras importantes para o atual cenário brasileiro, como a deputada federal Érika Hilton (PSOL-SP).
Em entrevista, um dos designers da coleção Hisan Silva fala sobre o motivo da obra de Jorge Amado ter sido escolhida como inspiração para o desfile: “Salvador é uma cidade que inspira a gente todos os dias, o tempo todo. E ‘Capitães da Areia’ conta uma história muito específica, que é falar sobre espaço de liberdade e que, apesar de todas as coisas da vida, a gente consegue sonhar e acreditar que dois meninos da favela de Salvador podem colocar um desfile na São Paulo Fashion Week”.
“Então, ‘Capitães da Areia’ é o centro disso: é a parte da história que conta que a juventude preta ainda pode sonhar. Ainda existe possibilidade para a gente e não podemos desistir. ‘Capitães da Areia’ fala sobre a gente”, finalizou.
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O artigo acima foi editado por Maria Cecília Dallal.
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