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Culture

Buba em Renascer: Como os remakes de novelas abordam discussões contemporâneas

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Grandes emissoras de televisão como a Rede Globo têm apostado em remakes de novelas. Essa estratégia busca fazer com que as produções permaneçam conectadas às gerações mais antigas. Ao mesmo tempo, revitalizam conteúdos a serem problematizados na atualidade, como acontece em Renascer exibida originalmente em 1993.

A primeira versão de Renascer foi exibida de março a novembro, em 1993.

Um dos diferenciais do remake de 2024 é a inserção de novos personagens que, em 1993, eram apenas mencionados e hoje ganham rostos, como Cândida. Há também a troca de personagens que antes eram majoritariamente interpretados por homens, Zinho, feito por Cosme dos Santos na primeira versão, por exemplo, foi adaptado para Zinha, agora interpretada por Samantha Jones.

buba: uma pauta social

Uma das principais pautas levantadas na primeira versão de Renascer foi a intersexualidade. Já no remake, Buba é apresentada como uma mulher transexual vivida pela atriz Gabriela Medeiros, uma mulher trans.

Aos 22 anos, Gabriela encara sua primeira novela dando voz à mesma personagem que foi de Maria Luisa Mendonça em 1993 que, de acordo com o roteiro original, era uma pessoa intersexo, considerada hermafrodita, termo referido ao indivíduo que nasce com fisiologias masculinas e femininas e que caiu em desuso devido ao seu tom pejorativo.

A história de Buba gira em torno do segredo de sua transição de gênero, que ela esconde do protagonista José Inocêncio. Um dos desejos de Buba é se tornar mãe, vontade que cativou o público e que se concretiza ao final da narrativa, quando a personagem adota a menina Teca.

adaptações e discussões contemporâneas

O remake de Renascer adota uma discussão contemporânea sobre a diversidade de gênero e, mais do que isso, a inserção de uma personagem transexual em horário nobre na Rede Globo. A personagem e sua visibilidade foram capazes de questionar a reação do público, dividida entre incentivo e preconceito em relação à Buba. A necessidade de uma nova leitura sobre a questão de gênero que, em 1993, não era debatida como hoje exigiu uma adaptação da identidade de gênero da personagem.

Na versão original, Buba tinha um ar doce, tímido e misterioso, o que causou fascínio em José Venâncio, mas ao revelar que havia nascido com dois órgãos sexuais, ele a rejeita e humilha. Apesar do preconceito vindo de seu ex-companheiro, o maior sofrimento de Buba vem, de fato, quando o desejo de ser mãe aumenta – tópico abordado mais afundo no remake.

Em entrevista ao Gshow, a atriz Gabriela Medeiros afirma que interpretar Buba tem sido algo forte para a atriz, já que a faz lembrar de situações reais pelas quais já passou.

“A Buba respinga em minhas vivências pessoais. As cenas são reais e muitas meninas trans passam pelo que a Buba passa, principalmente quando recai em uma camada afetiva amorosa”

Gsbriela Medeiros ao Gshow

Em sua conta oficial do Instagram, a atriz relembrou a importância do seu processo de autoaceitação como forma de incentivar a diversidade de gênero: “eu abraçaria essa criança, sempre quis externalizar o que de fato era. E hoje eu posso ser quem eu sou”.

recepção e polêmicas

Com o remake, algumas polêmicas aconteceram envolvendo justamente a adaptação da identidade da personagem. Uma delas partiu do posicionamento da Abrai (Associação Brasileira de Intersexo) que criticou o diretor Bruno Luperi, autor da nova versão de Renascer:

“É muito triste fazerem esse apagamento da única personagem intersexo que já teve em uma novela brasileira. A gente tem recebido inúmeras queixas e angústias de pessoas intersexo desde que foi anunciado que a Buba não seria mais assim. Por que não fazê-la trans intersexo, por exemplo?

Thaís Emília Campos dos Santos, presidente da Abrai

Em parceria com a Vogue, na capa da edição ELLE View, a atriz conta como foi difícil crescer em um ambiente em que muita coisa foi roubada dela por a enxergarem como menino. O balé, tema do ensaio conduzido pelo diretor de moda Lucas Boccalão, e clicado por Thais Vandanezi, é um exemplo destacado por Medeiros.

o legado de Buba

Uma cena que emocionou o público foi quando Buba, ao ser questionada por José Venâncio sobre o seu passado, contou sobre os preconceitos e traumas que sofreu. A personagem reforçou a importância de seu parceiro reconhecer e respeitar a sua identidade e história.

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O texto acima foi editado por Mariana Letizio.

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Ana Guercio

Casper Libero '24

I'm journalist in training at Casper Libero college who loves reading ficcion books and writing about all subjects, specifically health, politics and culture.