Cadê o Amarildo? A pergunta que até hoje não foi respondida com clareza, carrega o nome do documentário produzido pela Globoplay sobre uma abordagem policial que levou ao desaparecimento de um ajudante de pedreiro. Um caso ocorrido há 10 anos que revolta grande parte dos brasileiros até hoje por não ser apenas um caso isolado.
Julho de 2013
Nascido e criado na favela da Rocinha, pai de 6 filhos e preto, Amarildo de Souza desapareceu no dia 14 de julho de 2013. O auxiliar de pedreiro foi detido por policiais, enquanto estava em um bar na rua de sua casa, e levado à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), em uma operação chamada “Paz Armada”.
A UPP é um projeto da Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro com o propósito de ocupação policial nas favelas do estado para combater quadrilhas. Já a “Operação Paz Armada”, tinha como objetivo o varejo do tráfico de drogas na Rocinha, para apreender armas e mostrar que a UPP estava no comando, envolvendo assim, mais de 300 policiais.
Após ser levado, Amarildo, que não tinha nenhum envolvimento com o tráfico, nunca mais foi visto.
O caso aconteceu em meio a ondas de protestos que ocorriam em 2013, e pela forte mobilização social, o crime ganhou caráter mundial. A pergunta “Cadê o Amarildo?” estava em todos os lugares, chegando a diversos órgãos de direitos humanos e na imprensa nacional e internacional, além de diversos artistas que expuseram a sua revolta.
Depois de muita mobilização e luta da família de Amarildo, o desaparecimento foi investigado. O caso fez com que a confiabilidade das UPPs fosse cada vez mais questionada, e que projetos como esse perdessem a credibilidade e a força no cenário nacional.
A Obra
Em duas horas de projeção, o documentário dirigido por Rafael Norton ouviu a família de Amarildo e as autoridades envolvidas no caso em entrevistas exclusivas. Além disso, apresentou depoimentos da época do julgamento e depoimentos atuais, com testemunhas nunca escutadas na justiça, mas que foram essenciais para o desdobramento do caso.
Com a mescla de diferentes pontos de vista, o documentário consegue construir uma narrativa emocionante e revoltante ao mesmo tempo. As contradições nas falas dos policiais na descrição do episódio mostram o quão falho é o sistema no país e, junto com os fortes depoimentos da família e uma evidente investigação jornalística, o filme faz uma grande crítica social.
Durante a exibição, é possível notar assuntos importantes dentro do sistema de justiça do Brasil e de como a Corporação Policial é corrompida. No longa, é perceptível o desespero das policiais que depõem o que elas próprias viram e ouviram, pois sabem o risco que podem correr dentro da profissão.
atualmente
Em menos de 10 anos, todos os culpados já estão livres pela justiça e seis deles atuam na instituição atualmente, incluindo o major Edson, comandante da UPP na época.
Apesar de tamanha proporção que o caso tomou, os responsáveis foram descriminalizados, enquanto os inúmeros casos de violência policial ganham a irrelevância da mídia, sendo raramente julgados.
O caso Amarildo, infelizmente, não é apenas um no Brasil, e sim um exemplo das milhares de pessoas pretas e periféricas que sofrem com a violência policial constantemente. Tal população está sujeita todos os dias ao abuso dessas autoridades, e nem nas suas próprias casas conseguem se sentir seguras.
A obra cinematográfica abre os olhos para essa triste realidade e mostra que casos como o do Amarildo precisam ser debatidos para que esse cenário comece a ser mudado no país e que essa parcela da população possa viver democraticamente.
O artigo foi editado por Maria Cecília Dallal.
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