As eleições de 02 de outubro definiram cargos importantes no governo. Com a eleição de um Congresso de extrema direita, o panorama político brasileiro tende a sofrer mudanças. Em conversa com a Her Campus, Benedito Tadeu César, cientista político, comentou sobre os possíveis cenários de acordo com o próximo presidente da república.
O Congresso Nacional atua no poder legislativo e, em âmbito federal, é composto pelos deputados federais e senadores. Já os deputados estaduais atuam dentro das Assembleias Legislativas. Ambos eleitos pelo povo, possuem o dever de propor, analisar, discutir, votar e aprovar as leis que regem o cotidiano dos brasileiros. A nova composição da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para 2023 representa maior atuação da extrema direita no cenário político brasileiro. Benedito Tadeu César diz que a direita e a extrema-direita, que não se mostravam no Brasil por vergonha de se expor, vieram à luz agora e o fizeram com força e orgulho de se mostrarem e se afirmarem publicamente.
a representatividade política
Entre os 1.059 deputados estaduais eleitos, o PL, partido de Jair Bolsonaro, elegeu o maior número de representantes, 129, sendo maioria no Distrito Federal, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. O PT, partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disputa o segundo turno para presidência, possui a segunda maior bancada, com 118 deputados.
Foram 513 deputados federais eleitos, o mais votado foi o influenciador bolsonarista Nikolas Ferreira (PL), com 1,5 milhão de votos por Minas Gerais. Entre os senadores, foram 27 eleitos: eles cumprirão mandato de oito anos, de janeiro de 2023 a dezembro de 2030. Apoiadores de Bolsonaro do Partido Liberal conquistaram 14 vagas, representando a maior bancada. Ao todo, o Senado é composto por 81 cadeiras e, com a renovação de 2022, restam 54, eleitos em 2018. Tendo o dever de legislar e fiscalizar o poder público, os deputados federais podem propor mudanças nas leis e devem votar propostas de iniciativa do governo federal, além de analisar o Orçamento da União e fiscalizar atos do presidente da República.
Benedito Tadeu avalia que, para as esquerdas conquistarem mais cargos não majoritários, será preciso, em primeiro lugar, que elas entendam a importância do Parlamento numa democracia, “coisa que tradicionalmente as esquerdas não fazem, focando quase que exclusivamente nas eleições para os cargos do Poder Executivo”. Além disso, elas devem diminuir o poder dos parlamentares sobre as estruturas partidárias, para aumentar o poder dos representantes dos movimentos sociais, em sentido amplo, no processo de tomada de decisões partidárias.
O que cresceu significativamente foi a mediocridade média dos parlamentares eleitos
Nomes como Damares Alves, Hamilton Mourão, Jorge Seif e Marcos Pontes, que fizeram parte do governo de Jair Bolsonaro, conquistaram vaga no Senado. Assim, o atual presidente demonstrou ser um cabo eleitoral influente, apesar de quatro anos conturbados durante sua presidência. Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro e o ex-ministro Ricardo Salles, estão entre os quatro deputados federais mais votados em São Paulo, maior colégio eleitoral do país.
A influência de Bolsonaro também é medida pelas derrotas de quem se desalinhou com o presidente, a exemplo da deputada Joice Hasselmann, segunda candidata que mais recebeu votos para a Câmara Federal em 2018, com sua imagem atrelada à de Jair. Após romper com Bolsonaro em 2019, Joice recebeu 98,7% votos a menos nas eleições de 2022. Após o resultado, o presidente ironizou a votação da deputada ao falar com apoiadores. Alexandre Frota recebeu 131 mil votos a menos do que em 2018, para a Câmara Federal, após romper com o presidente e expressar ideias mais progressistas.
Para Benedito Tadeu César, o perfil ideológico do Congresso e Assembleias Legislativas não se alterou muito, ele diz: “o que cresceu significativamente foi a mediocridade média dos parlamentares eleitos, tanto no nível federal quanto nos estaduais”. Houve diminuição significativa das bancadas de centro devido a polarização na disputa para a Presidência da República. Entretanto, o cientista político afirma não ser impossível a bancada se recompor ao longo do próximo mandato, com a migração de parlamentares eleitos.
A eleição de Lula
Como existia a hipótese de uma reeleição de Jair Bolsonaro, Benedito avaliava o cenário como preocupante. Ele diz que teria uma real ameaça de um avanço do autoritarismo. “Veja a proposta, já anunciada por Bolsonaro, de ampliação de ministros no Supremo Tribunal Federal, o que lhe dará maioria naquele Poder, caso seja implantada, e retirará um dos poucos freios que hoje detêm seus arroubos mais autoritários.”
Com a vitória de Lula, para o cientista, o cenário é mais otimista, “ainda que continue sendo preocupante, mas por motivos diversos” A preocupação está relacionada com a economia nacional, que acompanha o ocidente, “está em frangalhos, com a inflação em tendência altista, o crescimento econômico estagnado, o desemprego e a fome altos e os cofres públicos arrasados e o orçamento federal comprometido para cobrir os rombos causados principalmente pela chamada PEC Kamikaze”.
Lula foi eleito, mas enfrentará sérias resistências em seu mandato pela crescente extrema-direita entre a população brasileira. Benedito destaca: “Lula terá que fazer acordos com as bancadas da Câmara e do Senado, mas, como afirmei acima, devido à distribuição de cadeiras que resultou desta eleição, penso que as dificuldades que ele enfrentará não serão maiores do que as enfrentou no seu primeiro mandato presidencial”.
O texto acima foi editado por Juliana Sanches.
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