Com seus vídeos verticais e seu feed de rolagem infinita, o TikTok conquistou os jovens da geração Z durante a pandemia e continua a ser uma sensação nos dias de hoje. Segundo uma pesquisa da Adobe, a plataforma se tornou a principal fonte de informações para os jovens nascidos entre 1995 e 2010, desafiando o domínio do Google, que permanece como líder em pesquisas gerais.
Muitas pessoas, me incluindo nessa, notaram mudanças em seus hábitos de consumo desde que começaram a usar o TikTok com frequência. O algoritmo da plataforma analisa o comportamento do usuário e suas interações anteriores, resultando em recomendações precisas. Em suma, o TikTok influencia as decisões de compra das pessoas.
Para entender um pouco mais sobre como se dá a relação entre o Tiktok e o consumo exacerbado, conversei com Júlia Lyz, uma publicitária graduada pela Faculdade Cásper Líbero. Ela conduziu um estudo em seu TCC sobre “Como o Tiktok Influencia as Tendências de Moda”. Além disso, Júlia está atualmente cursando pós-graduação em Fashion Business na FAAP e está realizando um MBA em Negócios e Estética de Moda pela ECA-USP.
Como o TikTok Influencia as Tendências?
Em épocas passadas, as tendências eram lançadas de maneira distinta da atual. No mercado da moda, por exemplo, as tendências surgiam nas passarelas, sendo as revistas do segmento as primeiras a receberem e divulgarem essas informações. Contudo, nas palavras de Júlia:
“Atualmente o TikTok é o disseminador de tendências.”
Devido à Globalização, qualquer usuário do aplicativo tem potencial para começar uma “tendência”, mesmo que não tenha essa intenção. O TikTok foi o pioneiro a possibilitar a viralização em questão de minutos. Com isso, muitas pessoas desenvolveram a falsa impressão de que tudo que é apresentado ali está em alta. Ao assistir a um vídeo com milhões de visualizações, é comum que se imagine que todos estão aderindo aquilo. Entretanto, é importante ressaltar que esse número é relativamente baixo em comparação com a população do Brasil e do mundo.
É nesse contexto que o conceito de FOMO ganha relevância. FOMO, sigla em inglês para “Fear Of Missing Out” (Medo de Perder Algo), descreve a preocupação de ficar por fora das atualizações e eventos.
O TikTok, principalmente, encurtou o ciclo das tendências. Em tempos anteriores, uma tendência era projetada para permanecer durante três meses. Contudo, com a possibilidade de qualquer pessoa iniciar uma tendência, tudo pode ser considerado como tal, independentemente da intenção inicial.
Conforme apontado por Júlia, até mesmo as marcas de luxo têm direcionado seu olhar para o TikTok para identificar o que é tendência e, em alguns casos, implementam as ideias em seus desfiles.
“Hoje em dia, algumas personalidades da moda, falam que não existe tendência, porque tudo virou tendência de moda, tudo pode se tornar tendência o tempo inteiro”.
Quais São os Aspectos Positivos e Negativos da Influência do TikTok?
O TikTok possibilita a democratização das tendências e a acessibilidade na obtenção de peças, as pessoas compartilham entre si seus estilos e onde encontrá-los, além de oferecerem indicações e dicas relacionadas a produtos e coisas. Esses fatos podem ser considerados significativamente positivos.
“Quando você nomeia algo, você consegue chegar em uma loja e dizer: ‘quero a peça x’, fica mais fácil consumir dessa forma”
Dentre os aspectos negativos, um dos mais significativos é a perda de originalidade, à medida que as pessoas buscam se conformar com a estética predominante no momento, como é evidenciado pela trends “clean girl”, “messy girl”, “strawberry makeup”, entre outras. Além disso, há, claro, o consumismo, já que a indústria da moda é a segunda maior poluente do mundo, ficando atrás apenas da indústria petrolífera.
Júlia ressalta ainda a romantização das tendências, observando que muitos indivíduos identificam uma nova tendência, compram itens relacionados a ela e repetem o ciclo na semana seguinte, quando uma nova tendência surge. Ela destaca os vídeos chamados “hauls”, nos quais são exibidas quantidades excessivas de roupas, expressando sua preocupação com esse comportamento.
Como se dá a relação do TikTok com o Consumismo?
Embora muitas vezes as pessoas que usam o TikTok não tenham a intenção de gerar uma onda de consumismo, é notável que a maioria dos conteúdos que viralizam resulta no rápido esgotamento dos produtos nas lojas. Júlia Lyz recorda um caso envolvendo a marca estadunidense GAP, que, embora fosse um ícone nos anos 90, está fora dos holofotes na atualidade. No entanto, um vídeo postado por uma usuária do TikTok, mostrando suas compras na loja, bombou na plataforma, impulsionando as vendas na GAP e resultando em um significativo faturamento na rede.
Além disso, muitas pessoas desejam se tornar influenciadores digitais e lucrar com a internet. Para alcançar esse objetivo, é crucial produzir os conteúdos do momento, como as tão famosas dicas, especialmente voltadas para o público feminino, que têm impulsionado a popularidade dos chamados “daily”. Essas dicas abrangem uma variedade de áreas, desde roupas e cosméticos, até livros, músicas, entre outros, na maioria das vezes envolvendo a compra.
“São como dicas de ‘amiga’, mas isso está gerando uma publicidade, está gerando uma venda. Pense em milhares de pessoas criando conteúdo, porque querem se tornar criadoras de conteúdo. São milhares de pessoas incentivando o consumo, o tempo inteiro.”
Segundo várias pesquisas realizadas nos últimos anos, o TikTok libera altos níveis de dopamina no cérebro, neurotransmissor associado à sensação de prazer e bem-estar, é uma rede social viciante, que se apresenta como um “mundo mágico” e que não reflete necessariamente a realidade. É importante estar atento para não acabar se enganando com a glamorizadão exibida nos vídeos do aplicativo e avaliar hábitos que podem estar sendo influenciados pela plataforma.
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O artigo acima foi editado por Ana Luiza Sanfilippo
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