Nesse momento, nós todos temos um sentimento em comum. Tornou-se ainda mais recorrente as pessoas se queixarem de problemas de concentração, dificuldade em seguir a rotina e falta de ânimo para os afazeres diários. Em uma pesquisa do instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros declaram que seu bem-estar mental piorou pouco ou muito no último ano.
No início da pandemia, quando os primeiros infectados começaram a surgir, nos deparamos com uma situação totalmente atípica. Fomos levados a permanecer em casa, em constante isolamento social, longe das nossas atividade habituais. Como consequência de uma rotina completamente nova, nosso cérebro, mais especificamente a região das amígdalas corticais (que trabalha com os nossos estímulos emocionais), ficou em constante alerta, causando um medo constante e, até mesmo, pânico nas pessoas. Após um ano nessa situação, com quarentena indo e voltando e o número de mortes aumentando cada vez mais, nos deparamos com a sensação de vazio.
Esse sentimento não se trata apenas de esgotamento, porque ainda possuímos energia para as coisas, e nem sempre se trata de depressão. Muitas vezes estamos apenas nos sentindo desmotivados, meio tristes e sem um objetivo claro. De acordo com a psicóloga e neurologista Karen Alves, o desânimo geralmente é uma consequência de outros sentimentos, como medo, falta de perspectiva ou frustração. Quando se trata de um tema muito complexo, como afetos emocionais, é difícil dizer que algum deles surja de forma isolada, destacando-se dos outros.
O termo languishing, citado pela primeira vez pelo sociólogo Corey Keyes, em 2002, é utilizado pelo psicólogo Adam Grant para tentar explicar esse estado entre depressão e o bem estar relacionado à pandemia. Quando uma pessoa não se sente feliz e motivada, mas não se sente desesperada, se encontra o languishing. Porém, ela não consegue se manter concentrada para realizar seus afazeres, nem manter seu funcionamento pleno. O problema dessa sensação é que as pessoas muitas vezes não notam o que está acontecendo, pois as mudanças de comportamento ocorrem de forma sútil. Não perceber que esse definhamento ocorre, não falar sobre ele e não procurar algum tipo de ajuda pode levar a um transtorno psicológico grave a longo prazo.
Para Karen, o momento é de uma turbulência de sentimentos. Além do medo contínuo causado pelo vírus há, também, as consequências do isolamento social: mesmo em situações extremas, na qual precisamos de um abraço, temos que ficar sozinhos. Ainda lidamos com as incertezas sobre o futuro, o luto pela vida e a falta de perspectiva de quando retomaremos uma “normalidade”. Enfim, tudo isso faz com que as pessoas se sintam desmotivadas, ansiosas, sem esperança.
No entanto, o psicanalista Lucas Charafeddine Bulamah, mestre e doutor em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, afirma que apesar do desânimo ser um sentimento preponderante nesse momento, dificilmente poderemos pensar sobre ele de maneira generalizada, mesmo que estejamos vivendo uma situação em comum. “As pessoas que vejo em minha prática profissional certamente experimentam o desânimo, mas cada um à sua maneira e por motivos que conscientes e inconscientes que lhes são relativamente individuais, chegando ao nível contraditório de sentir até euforia para evitar os afetos depressivos”, afirma o psicanalista.
Do mesmo modo, é importante conseguir se reorganizar, refazer planos e cobrar-se menos. Na opinião da psicóloga Karen Alves, também em entrevista, procurar pensar a curto prazo, estabelecer objetivos tangíveis, além das práticas de autocuidado, mesmo quando se tem pouca vontade, é fundamental para preservar o amor próprio e a saúde. Ser resiliente pode nos ajudar a aceitar as interrupções ou rompimentos de projetos. Conseguir ressignificar e se adaptar ao que é possível neste momento é um recurso que ajuda muito a minimizar os sofrimentos psicológicos. No entanto, é preciso utilizar da capacidade de flexibilidade mental para mudar as estratégias, tarefa que não é fácil para todos.
Por fim, é essencial sempre buscar se informar por fontes confiáveis e não sensacionalistas. Nesse momento, vale avaliar os tipos de leitura, filmes até notícias que são consumidas no período de isolamento. Também evitar a mídia sobre a pandemia em excesso, limitando o número de vezes que se acessa o noticiário. E não deixar de falar de suas preocupações e angústias tanto com profissionais, quanto com pessoas em quem confia.
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O artigo acima foi editado por Luíza Fernandes.
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