Com a dissertação “Minha Roupa Não É um Convite”: uma análise da construção do discurso feminista da revista Elle Brasil, a casperiana Vivyane Garbelini Cardoso está concorrendo ao prêmio Compós de Teses e Dissertações.
A Compós é um encontro anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, que já existe há mais de 25 anos. Ele visa o fortalecimento, qualificação e consolidação dos cursos de mestrado e doutorado no meio da Comunicação. As melhores dissertações e teses são premiadas, incentivando a qualidade e dando mais visibilidade à produção científica dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. A 27º edição do evento ocorreu na PUC Minas, em Belo Horizonte, de 5 a 7 de junho.
O professor José Eugênio de Oliveira Menezes, coordenador do Programa de Pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, e o orientador da dissertação de Vivyane, Cláudio Novaes, contaram ao Her Campus que esse é um tema absolutamente contemporâneo e socialmente relevante. O feminismo sendo analisado de uma forma que foge do usual: a presença de um discurso feminista em uma publicação da imprensa feminina, a revista Elle.
Vivyane ou Vivy, como prefere ser chamada, está empolgada com a indicação ao prêmio. Confira a entrevista que ela nos concedeu:
Her Campus: Qual a importância de participar de um prêmio desse porte?
Vivy: Minha inscrição foi uma indicação do colegiado da Pós Graduação da Faculdade Cásper Líbero. Sinceramente, eu não havia imaginado que meu trabalho poderia ter uma chance em um prêmio desse porte – apesar do meu comprometimento e da boa avaliação da banca de defesa. De todo modo, penso que se inscrever em um prêmio assim pode ser importante para divulgar o trabalho acadêmico e buscar mais interlocutores no campo acadêmico.
HC: Qual foi a sua linha de pesquisa e por que escolher esse tema?
A Dissertação do Mestrado é uma continuação de seus estudos da graduação em Jornalismo. | Foto: Acervo Pessoal
Vivy: A minha linha de pesquisa se chama “Produtos Midiáticos: Jornalismo, Imagem e Entretenimento”. Escolhi essa linha porque uma revista impressa pode ser entendida como um produto midiático, no qual há jornalismo e características de entretenimento. No caso, a revista que estudei foi Elle Brasil. O tema, Feminismo na Imprensa feminina brasileira, é uma continuidade da pesquisa que comecei na minha monografia – feita como Trabalho de Conclusāo de Curso na graduaçāo em Jornalismo. Nela, escrevi sobre a construçāo de identidades femininas na revista TPM (Trip pra mulheres), da editora Trip.
O tema começou a me interessar por causa de uma inquietaçāo antiga: por que Política nāo é um tema da imprensa feminina? A partir dessa problematização da apolitizaçāo (ou anti-politizaçāo) nessa imprensa, trilhei um caminho de investigação. Além disso, 2014 e 2015 foram anos em que cresceu a temática do Feminismo – antes proibido ou mal visto na imprensa feminina. Vale dizer que me auto-intitulo feminista desde quando eu tinha 12 anos, então sempre me preocupei com a causa e, em especial depois de iniciar minha graduação, com a representação midiática dela.
HC: Qual é a sua visão do meio acadêmico em relação às mulheres? Você acha que, assim como no mercado de trabalho, suas pesquisas e estudos são tratados como “menos importantes”?
Vivy: Eu acredito que no meio acadêmico as relações entre gêneros estejam mudando, ao poucos e com muita luta. Existem muitas mulheres pesquisadoras e realizando estudos de excelência. Porém, existem problemas de reconhecimento disso. Ademais, é muito comum que haja muitas mulheres estudiosas de uma área, mas o grande nome da respectiva área é de um homem. Por exemplo: existem muitas pesquisadoras de Teorias da Comunicação, mas quantas delas são, de fato, teóricas da comunicação, ou seja, autoras de teorias? Aqui posso lembrar a Profª Dra. Lucrécia Ferrara, que se destaca na área.
Sim, é recorrente a tentativa de diminuir as pesquisas de mulheres. Em dois sentidos: primeiro pelo fato de as autoras serem mulheres e segundo pelo fato de o tema ser relacionado às mulheres (feminismo, corpo feminino, representação de mulheres, etc.). Durante muito tempo, estudar imprensa feminina, em especial buscando compreender a ideologia envolvida no processo, parecia algo sem sentido. Aqui cabe lembrar a Profª Dra. Dulcilia Buitoni, que foi pioneira nesse estudo e abriu caminhos para pesquisadoras que, como eu, vieram depois. A minha pesquisa não existiria se não existisse a dela. Acredito que essa redução do que pertence às mulheres ou de qualquer coisa que remeta ao feminino seja uma maneira da misoginia se manifestar. Infelizmente, ainda existe misoginia no campo acadêmico, ainda que seja discreta ou pareça sutil.
Vivy acredita que, no meio acadêmico, as relações entre os gêneros estão mudando aos poucos. | Foto: Acervo Pessoal
HC: Como você se sente com a indicação ao prêmio?
Vivy: Eu me sinto honrada pela indicação. Entendo como um reconhecimento ao meu trabalho, que é continuação de trabalhos anteriores de pesquisadoras que vieram antes de mim. Afinal, ainda que se trate de um trabalho autoral, nāo é solitário, eu sou parte de um todo. Essa é uma pesquisa feminista, sobre imprensa feminina, realizada por uma mulher feminista. O reconhecimento dela como digna de nota para Compós me parece fundamental para ampliarmos as narrativas no campo acadêmico. Por isso, ainda que de maneira humilde, me sinto um sujeito de mudança nesse campo.