Linguagem é algo vivo, completo, fascinante. Tem o poder de crescer, mudar, coexistir ou permanecer estável por gerações e gerações, entretanto, histórias de línguas originárias brasileiras não possuem a devida apreciação e respeito, mesmo sendo tão particulares e produzidas por seres humanos no processo orgânico de comunicação.
Existiam mais de mil línguas indígenas faladas no Brasil, mas atualmente apenas 160 podem ser contadas e somente 25 línguas possuem mais de 5 mil falantes, como o Xavante, Yanomami, e Ye’kwana. A língua dos Akuntsu é falada apenas pelas 5 pessoas que formam esse grupo indígena e os Guató têm uma população de cerca de 370 pessoas, mas existem apenas 5 falantes de sua língua. As curiosidades e individualidades existentes são inúmeras!
Durante a invasão e decorrente colonização das terras brasileiras, a Língua Tupinambá, mais falada nas margens do Atlântico em 1500 foi incorporada ao vocabulário colonizador, na tentativa de aproximar os nativos aos seus ideais europeus. A história da implementação da Língua Portuguesa no Brasil é um drama nada pacífico. Ao desembarcar e se deparar com frutas e animais desconhecidos, os portugueses se apropriaram de palavras indígenas para nomear aquilo que desconheciam, como por exemplo:
- Abacaxi
- Araçu
- Pipoca
- Curi
- Açaí
- Capim
- Jabuticaba
- Mandioca
- Samambaia
- Paçoca
A maioria sobre diversidades naturais conhecidas apenas pelos indígenas que aqui viviam. É mais fácil se comunicar com um povo originário utilizando sua língua do que impor no primeiro contato, um dialeto que nunca ouviram anteriormente. Por isso, os catequizadores se empenharam em aprender as palavras para agilizar a colonização, principalmente em Tupi como por exemplo:
- Caatinga
- Jacaré
- Peteca
- Pereba
- Sabiá
- Capivara
- Carioca
- Pororoca
- Tamanduá
Durante os mais de 300 anos decorrentes após o processo de invasão, a Língua falada no Brasil não era o Português e sim uma mistura de línguas que vieram de dois grandes troncos Tupi e Macro-Jê, a Língua Geral do Sul (versão do Tupí) que se expande com os bandeirantes e a Nheeengatu desenvolvida pelo Tupinambá paraense, descrito no livro Latim em pó de Caetano Galindo. O português que escrevo esta matéria só veio a ser implementado depois de 1800 quando se é proibido o uso de línguas originárias por sentimento de ameaça à dominação portuguesa.
Infelizmente, a população indígena foi reduzida de maneira drástica, mas a contribuição das línguas nativas ficou perpetuada de maneira não aleatória em alguns vocábulos que utilizamos até hoje. Estudar a história é perceber a tamanha influência que os povos originários ainda exercem sobre nós, na fala, na tradição, mesmo que soterrados por dominadores. É reconhecer e jamais esquecer.
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O artigo acima foi editado por Fernanda Miki Tsukase.
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