No ano de 2022, entre os dias 5 até 18 de novembro, a COP realiza a sua 27º edição em Sharm el-Sheik, no Egito. A COP, abreviação de Conference of the Parties – ou Conferência das Partes – é um fórum de discussões realizado anualmente pela ONU que possui como principal pauta o debate de questões climáticas. Os países participantes da conferência são os signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC), as chamadas “partes”, que tem como representantes os respectivos líderes mundiais em defesa da preservação ambiental. Além da cúpula das Nações Unidas, o evento conta com a presença de cientistas, jornalistas e ativistas engajados na causa.
Gabriela Ubeda, junto à um grupo de adolescentes de várias nacionalidades, participou da COP25 em Madri pelo projeto “#Decarbonize#Decolonize”, desenvolvido por uma ONG canadense chamada CGE. Ela conta que há espaço para que muitas pautas sejam desenvolvidas, e isso faz com que o valor da conferência seja tão grande: “Além dos diversos temas sobre mudanças climáticas e sustentabilidade, como queima de combustíveis fósseis e desmatamento, também são discutidos os impactos da mudança climática nas sociedades, incluindo temas como adaptação e vulnerabilidade de povos afetados”.
A escolha de um país africano para sediar a conferência foi resultado da proposta de oferecer maior visibilidade às regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas, ao passo que pouco contribuem para as emissões de carbono. O principal objetivo do encontro deste ano é a discussão do Acordo de Paris, que será norteado pelas iniciativas tomadas por cada um dos países a fim de cumprir a meta.
Resultado da COP21, na França, o Acordo de Paris é o acordo em vigor atualmente que tem como principal meta a contenção do aumento da temperatura global. Até 2100, 195 países se comprometeram a manter o aumento da temperatura do planeta em até 1,5 graus Celsius. Além disso, o Acordo de Paris propõe um auxílio financeiro vindo das nações mais ricas que seria direcionada aos países subdesenvolvidos.
Esse ano também se completa 50 anos do primeiro encontro de base ecológica promovido pela ONU, a chamada Conferência de Estocolmo, considerada uma antecessora das COPs. Luciano Kenji, professor de geografia do Ensino Médio e Pré-Vestibular, destaca as oposições direcionadas à pauta ambiental e que podem ser trazidas para o contexto atual: “Sempre parto da ideia de que toda mudança traz esse tipo de resistência. Então, para a época, você ter um momento para discutir questões de impactos ecológicos, atmosféricos, era visto por muitos líderes políticos e por muitas empresas, como um grande exagero, bobagem. Em 2022, temos ainda alguns que pensam desse jeito, então, num contexto de 50 anos atrás, a coisa era ainda pior. ”
Ele também defende que a importância da COP está no fato de se tratar de um evento anual, uma vez que é abandonada a esporadicidade em que as conferências aconteciam até então. Dessa forma, é estabelecido um momento único e reservado para que pessoas extremamente influentes estejam, pelo menos durante alguns dias, focadas na causa ambiental. Isso também estimula a concretização de medidas relacionadas à minimização das mudanças climáticas, pois há um contrato que estabelece que no ano que se sucede, mais discussões virão à tona e esse será um espaço para que, na teoria, os resultados sejam compartilhados e novas metas estabelecidas.
A primeira edição da COP foi realizada em 1995, em Berlim, mas alguns anos antes, em 1988, a ONU criou o Painel intergovernamental para as Mudanças Climáticas, o IPCC. A organização é responsável pela produção de diversos relatórios que denunciam a mudança climática, suas consequências reais e possíveis riscos, através da reunião de dados, pesquisas, análises e estudos de diversos cientistas do mundo todo.
Assim, são desenhados diversos elementos que evidenciam a importância da COP para a preservação do planeta, que além de medidas de amplo alcance idealizadas por estadistas, significam uma alteração na mentalidade e maior reflexão acerca de hábitos individuais. Luciano Kenji definiria que “A relevância da COP está na sua proposta de mudança de hábitos enquanto sociedade e coletividade. É o momento dos estadistas reverem atitudes de consumismo e produção de lixo, possibilidade de substituição de combustível fóssil por matriz energética limpa alternativa, uso de combustíveis renováveis e implementação de fontes elétricas que sejam menos agressivas ao meio ambiente”.
Entre essas consideráveis ações, o professor Luciano destacou também a criação das 17 ODS ‘s, ou seja, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Tratam-se de 17 problemas estabelecidos pela ONU, que até o ano de 2030, deveriam ser superados pela sociedade. Essa proposta originou a criação da Agenda 2030, com o objetivo de incentivar o consumo consciente, a sustentabilidade ambiental e o bem-estar social.
Gabriela Ubeda também destaca que, durante a sua participação na Conferência em 2019, pôde concluir que a COP é muito mais do que os debates e de acordos, e que por trás de uma pauta extremamente necessária e relevante, há uma dificuldade na aderência e concretização das medidas. “A importância da COP é, sem dúvidas, encontrar maneiras de melhorar o cenário climático atual, algo que é extremamente complicado, pois envolve interesses individuais de cada país” – Conclui ela.
Nesse sentido, apesar de suas conquistas, a COP recebe diversas críticas. Um dos nomes dessa oposição é a própria Greta Thunberg, criadora do projeto Fridays for Future. A ativista sueca que ficou conhecida pelos seus protestos às sextas-feiras a favor da maior ênfase aos problemas ambientais, define que o encontro é uma “lavagem verde”, ou greenwashing, que é quando empresas e organizações tentam mascarar os seus reais impactos ao meio ambiente através de sua imagem na mídia, manipulando a opinião pública.
Para ela, os participantes da cúpula, na realidade, pouco se importam com os problemas ambientais que discutem. Greta define como uma falsa conscientização, pois na prática, as influências mundiais não estão interessadas em promover medidas necessárias para reverter ou minimizar essa situação. Após a COP 26, em uma de suas manifestações que reunia milhares de jovens, Greta condenou o evento: “É a mesma coisa de sempre. O único objetivo é manter as coisas como de costume e criar brechas para beneficiar os donos do poder”. Ela também defende nesse discurso que falta participação da sociedade civil, exaltando o debate que engloba diversas esferas sociais.
—————–
Esse texto foi editado por Anna Goudard.
Gostou do conteúdo? Confira Her Campus Cásper Líbero para mais.