Um dos filmes mais aguardados de 2019 estreia em um momento no qual os vilões têm tido mais voz para contar suas histórias e parecem ser mais valorizados dentro dos filmes de super-heróis. Em cartaz nos cinemas desde o dia 03 de Outubro, Coringa, dirigido por Todd Phillips (Se Beber Não Case) e interpretado por Joaquin Phoenix (Gladiador e Hotel Ruanda), lidera o ranking de bilheteria logo no final de semana de estreia.
O filme está ambientado na fictícia Gotham City dos anos 80, assolada pela violência, pobreza e mergulhada no completo caos. Ele narra o surgimento do Coringa, começando como Arthur Fleck, um homem com problemas mentais que ganha a vida trabalhando como palhaço, e culminando na origem de um dos vilões mais icônicos de todos os tempos.
O personagem se torna mais complexo com o passar do filme. No início somos apresentados a um Arthur inseguro, um pouco ingênuo e digno de pena, dando vontade de acolhê-lo em meio a tantos acontecimentos ruins. Mas logo nos deparamos com um homem imprevisível, caótico, capaz de cometer atrocidades e ainda se orgulhar delas, em uma espécie de êxtase macabra.
Joaquin Phoenix herdou o legado que Heath Ledger deixou ao interpretar o Coringa em Batman: Cavaleiro das Trevas, com o diferencial de que, dessa vez, seria um filme inteiro sobre o vilão. Enquanto Ledger performou um Coringa carismático, Phoenix é responsável por dar vida a um Coringa assustador, sombrio e medonho. Um vilão que consegue ser poderoso sem quaisquer superpoderes ou roupas especiais, apenas mostrando com uma crueldade incômoda e o quanto o homem pode ser perigoso quando não tem mais nada a perder.
Phoenix pôde mostrar toda a extensão do seu talento e deu uma aula de atuação nesse filme, se tornando, sem sombra de dúvidas, um dos favoritos para o Oscar. O ator emagreceu 23 kg para protagonizar o vilão e conseguiu, com maestria, nos trazer desconforto e angústia, principalmente ao performar a risada fora de controle característica do personagem, presente em momentos inoportunos e completamente fora de hora.
O filme de Todd Phillips é responsável por trazer uma atmosfera diferente aos filmes de super-heróis, mais adulta e sem prezar tanto os efeitos especiais exagerados e o humor, apesar de ter alguns momentos que, de tão bizarros, chegam a ser um pouco cômicos. Coringa pode até se inspirar um pouco na HQ “Piada Mortal”, mas fica claro que suas principais referências vêm dos filmes de Martin Scorsese: Taxi Driver e O Rei da Comédia. A fotografia aqui também é característica: adotando tons mais frios, voltados para o azul e o verde para remeter ao universo sombrio do filme.
Apesar de ter vencido o Leão de Ouro no Festival de Veneza, Coringa estava envolvido em polêmicas antes mesmo de estrear nos cinemas, com críticos afirmando ser um filme tóxico, irresponsável e perigoso. No entanto, apesar de ser um filme violento e mostrar uma falha da sociedade com relação ao personagem principal (através de episódios de agressão e falta de atenção com suas doenças mentais, por exemplo), ele está longe de justificar todas as maldades cometidas pelo vilão ou caracterizá-las como consequências “normais”.
Apesar de toda a polêmica envolvendo o mais novo filme da DC, Coringa vem para dar início a uma nova era nos filmes de super-heróis. O sucesso é garantido, mas se prepare para uma sessão de cinema tensa e perturbadora, exatamente como o filme.