Amor e monstros definitivamente são duas palavras que não deveriam se misturar, ainda mais em um apocalipse. Contudo, o diretor Michael Matthews junto com a sua equipe, conseguiu unir elementos completamente distintos em um único filme. Equilibrando desta maneira, a comédia e o carisma natural do protagonista interpretado por Dylan O’Brien com o drama que transcorre durante essa trajetória única. Recentemente estreado na Netflix, o longa-metragem “Amor & Monstros” narra a história de Joel Dawson que após passar sete anos dentro de um bunker, decide encontrar Aimee (Jessica Henwick), seu antigo amor de adolescência, em uma longa e perigosa jornada.
Apesar da temática do filme ser fictícia, é possível se familiarizar com os personagens, especialmente se tratando do contexto atual. Joel possuía uma vida normal até ter que se isolar em uma colônia subterrânea com pessoas que acabaram por se tornar sua família. Sua rotina não deixa de ser diferente das de diversas pessoas que estão em quarentena, principalmente no quesito de total exílio e foco na realização de tarefas domésticas. Quando finalmente consegue contatar o distrito de sua antiga namorada, o jovem toma a decisão de fazer uma viagem de sete dias para encontrá-la.
Inicialmente desajeitado e sem muita prática no combate contra monstros, Joel se depara com Garoto, um cachorro companheiro que decide se juntar a ele nessa aventura. Não demora muito tempo para ele se unir também a uma valente criança chamada Minnow (Ariana Greenblatt) e seu experiente guardião, Clyde Dutton (Michael Rooker). Juntos, eles formam uma incrível equipe para auxiliar o protagonista nessa missão. Durante a aventura, Joel redescobre o mundo que uma vez já conheceu e se inspira em Aimee para realizar anotações sobre tudo o que estava aprendendo em seu caderno. Cada passo dado se tornou extremamente significativo uma vez que além de estar cada vez mais próximo de seu objetivo final, Joel passou a entender mais sobre si mesmo.
Tanto no ramo da caça quanto da natureza, as lições de sobrevivência ensinadas por Clyde e Minnow foram essenciais para que o novo herói gradativamente descobrisse seu espaço no mundo. Ele teve a oportunidade de enxergar com uma diferente perspectiva os monstros que insistiam em o rodear a todo momento. Esse autoconhecimento é responsável por arrancar diversas risadas, tirar o fôlego e até mesmo algumas lágrimas dos espectadores. Seu amadurecimento é tão marcante que o protagonista passa a questionar a própria viagem que havia estimulado a faísca desse processo em primeiro lugar. Mesmo em dúvida com relação aos sentimentos de Aimee, ele não deixou de acreditar em seu objetivo e tampouco deixou de se inspirar na pessoa que o fez deixar seu antigo abrigo. Sua coragem o permitiu ter acesso a vivências que nunca imaginou que poderia ter, novamente ou não, como tomar um simples banho de chuva ou conhecer um robô da linha Mav1s do qual nunca tinha visto em funcionamento antes. A sua bagagem não foi apenas fundamental para enfrentar os obstáculos acerca do caminho e completar sua missão como também foi imprescindível para a sua vida adiante, depois dela.
Conseguir combater o mal, que por vezes não vem apenas dos monstros, gera uma grande reflexão sobre a condição humana e o exercício da empatia. Por esse motivo dizer que a viagem de Joel foi perdida ou que se encerrou no momento em que ele se encontra com Aimee é errado. É possível constatar ainda que os momentos mais importantes do filme são as ações que o protagonista toma e suas consequências após seu objetivo inicial.
Durante todo o trajeto Joel buscou encontrar o amor em uma pessoa que não via desde a adolescência, mas no fim encontrou algo muito maior: a si mesmo. “Eu viajei 135 quilômetros para descobrir que o que eu estava procurando no subsolo durante 7 anos estava bem debaixo do meu nariz esse tempo todo, e isso é incrível”, ele mesmo diz através de uma gravação em fita direcionada para as colônias. Suas palavras serviram como incentivo para que outras pessoas que estavam em bunkers como ele, criassem a coragem necessária para se libertarem. Além disso, suas anotações foram capazes de auxiliar todos os sobreviventes a enfrentarem o mundo exterior. A vontade de regressar para casa e o desejo de compartilhar o que aprendeu ao longo de sua jornada diz muito a respeito de Joel e de seu bom coração.
Indicado ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais, o filme se encerra com um gostinho de “quero mais” e com a imensa vontade de descobrir como será enfrentar o mundo apocalíptico ainda inexplorado em que esses indivíduos estão inseridos. É uma história que carrega uma profunda reflexão humanística, e que ensina aos cidadãos que estão passando pela quarentena como é importante valorizar as pequenas conquistas diárias. É impossível não se identificar com Joel e se emocionar com o afloramento e descobrimento de sua essência ao longo dessa incrível e memorável aventura.