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Culture

Damien Hirst: Como O Artista Trabalha Com O Tema Da Morte

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Nós já nascemos com um destino definido: a morte. Ela é a certeza que assombra a vida; a morte de pessoas queridas, daquele animalzinho de estimação amado, de uma celebridade que admiramos e, principalmente, a nossa própria. Passamos a vida inteira com a sombra da morte nos seguindo, e, mesmo assim, nunca aprendemos a lidar com a sua existência plenamente. Como entender o que vem depois se tudo o que sabemos é viver? 

Para discutir sobre esse tópico sombrio, mas, ao mesmo tempo, tão cotidiano, o renomado artista Damien Hirst elabora obras chocantes e polêmicas que nos colocam cara a cara com o nosso destino.

A vida e carreira de Damien Hirst

Nascido em Leeds, no ano de 1965, Damien Hirst é, atualmente, o artista britânico mais rico vivo. Sua carreira iniciou no final da década de 80, quando Hirst ingressou na Goldsmiths College para estudar arte. Lá ele se tornou líder do grupo Young British Artists (YBAs), que expunham e criavam juntos obras que desafiavam o comum. 

Uma importante figura para o grupo e na vida do artista foi Charles Saatchi, um renomado colecionador que teve um papel importante no sucesso da carreira de Damien. Uma de suas obras mais antigas e, até hoje, mais polêmicas, “A impossibilidade física da morte na mente de alguém que vive” (1991), um tubarão imerso em formaldeído, foi originalmente vendida para Saatchi por um preço muito acima do cobrado para artistas iniciantes. Assim, Damien Hirst estava, rapidamente, se consolidando no mundo artístico.

As obras do artista

Entre os quase trinta anos de carreira, Hirst é conhecido como um artista extremamente polêmico. Suas obras vão desde pontos coloridos em uma tela até animais mortos cortados ao meio. Dessa forma, ele dividiu opiniões do público e da mídia por ter uma arte majoritariamente midiática e propositalmente agressiva. 

Ao enfrentar o mundo da morte, Damien desafia os limites que separam arte e a não-arte e coloca a prova que a melhor forma de instigar é por meio do choque. Por isso, selecionamos três obras marcantes de Damien Hirst que abordam de formas singulares a morte.

“A Impossibilidade Física da Morte na Mente de Alguém Vivo” (1991)

Colocado em uma caixa de vidro de cinco metros de largura, o indivíduo encara o animal com a boca completamente aberta, prestes a atacá-lo. A possibilidade da morte assombra o espectador. Como seria se deparar com aquele tubarão em outras condições, se ele estivesse vivo? São inúmeras probabilidades e uma certeza: naquele momento o que resta ao público é o fantasma da morte.

Nessa obra, o artista provoca os limites da vida ao aproximar um animal conhecido popularmente por matar do público, subvertendo a realidade e o exibindo como o cadáver. Ele coloca em perspectiva algo que tem o poder de acabar com a vida cara a cara com o observador, mas não dá o poder para isso.

“Pelo Amor de Deus”  (2007)

Memento mori é uma máxima latina que remete à certeza da morte, em tradução literal, significa “lembre-se que você vai morrer”. Ao longo dos séculos, ela foi interpretada e exprimida em vários campos da atuação humana, na filosofia, sendo um conceito base do estoicismo, que abraça e entende a naturalidade da morte, nas religiões e, principalmente, nas artes. A expressão mais famosa da memento mori é uma caveira, normalmente associada à morte.

Pensando nisso, Damien Hirst criou uma obra cheia de nuances para representar as dualidades entre a vida e a morte. Usando uma caveira de platina com dentes humanos e 8601 diamantes incrustados, o artista criou uma peça de 15 milhões de libras que tem um propósito muito além do valor. O uso dos diamantes, inclusive, não foi por acaso: seu brilho contrasta com o senso comum de que a morte é a escuridão, é a luz em oposição às trevas, que são ligadas ao imaginário da caveira.

Em outra análise, o uso dessas pedras preciosas induz o observador a refletir sobre outra questão humana: a eternidade. Damien desenvolveu uma escultura que carrega múltiplos significados nas dicotomias. A caveira é um símbolo do fim, mas a morte, por sua vez, é o começo da eternidade em diferentes religiões. Ao assimilar o poder de eternização da morte, carregado de sentido religioso, com diamantes, que são tidos como pedras eternas, o artista cria um casamento de ideias opostas a partir de uma similaridade subjetiva.

“Mil Anos” (1990)

Se Hirst já é polêmico por peças brutais como “A Impossibilidade Física da Morte na Mente de Alguém Vivo”, foi, na realidade, na instalação “Mil Anos” que ele atingiu seu ápice como um artista visceral. A obra é construída dentro de uma caixa de vidro, em que moscas alimentam-se do cadáver de uma vaca e, então, são mortas por inseticida. Em um ensaio que beira o perturbador, o profissional apresenta o ciclo da vida da maneira mais crua possível, usando o reino animal como amostra.

“Mil Anos” elimina todas as metáforas que permeiam o mundo artístico quando o assunto mortalidade é trazido à tona. Sem usar simbolismos, Damien Hirst eleva o sentido de arte pela arte para o campo metafísico quando explora a morte pela morte, sem margem para interpretações. Ele é claro em seu intuito de apresentar do modo mais objetivo o ciclo da vida: tudo que nasce, vive, consome e morre.

O contraste da vida das moscas com a cabeça decepada da vaca é colocado em prova quando estas são vítimas do inevitável fim, tema de todas as obras mais famosas do artista. Damien é um mestre no uso de artifícios impactantes que levam o espectador a contemplar a fragilidade e a inevitabilidade de seu destino final.

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O texto acima foi editado por Daniela Soares.

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Ludmila Costa

Casper Libero '26

I’m a journalism student who loves romcoms and pop culture. Writing is my oldest passion, so nothing better than combining the things I love the most in the world!