Tomar insulina, contar a quantidade de carboidratos ingeridos e medir constantemente a glicemia são práticas comuns na rotina de Renata Caridá, de 20 anos. A jovem estudante de Psicologia descobriu, ainda criança, que sofre de uma doença chamada Diabetes Mellitus 1 e, a partir de então, sua vida mudou — mas não tanto assim.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Diabetes Mellitus é uma doença que pode ocorrer quando há uma elevação da quantidade de glicose no sangue, por conta de problemas na secreção ou na ação do hormônio insulina, produzido no pâncreas. Esse hormônio insulina, por sua vez, tem a função de promover a entrada da glicose para as células do organismo, que porventura, será aproveitada em outras atividades das próprias células. Em si, a glicose dá energia para as células realizarem os processos metabólicos. A falta da insulina ou um defeito na sua ação resulta no acúmulo de glicose no sangue, o que chamamos de hiperglicemia.
Além da Diabetes Mellitus 1 — o caso da Renata — ainda há outros dois tipos que caracterizam a doença: a Diabetes Mellitus 2 e a Diabetes Gestacional. A tipo 1 é a mais comum entre crianças e adolescentes. Já a tipo 2, em pessoas mais velhas e obesos. Por último, a Diabetes Gestacional é desenvolvida durante a gravidez por algumas mulheres. Contudo, após o parto, a paciente ainda tem chances de permanecer diabética.
Enquanto a Diabetes tipo 1 acontece quando as células que produzem a insulina no pâncreas são destruídas por um processo imunológico, ou seja, pela formação de anticorpos pelo próprio organismo contra as as células produtoras do hormônio — levando a deficiência de insulina –, na Diabetes tipo 2 (mais comum, representando 90% dos casos) a ação de produção da insulina está dificultada por fatores relacionados a um maior consumo de gorduras e carboidratos no organismo e à falta de atividade física. No tipo 2, surge um quadro de resistência insulínica, o que vai levar a um aumento da produção de insulina para tentar manter a glicose em níveis normais. Quando isso não é mais possível, surge a Diabetes.
A primeira vez que Renata ouviu o nome “diabetes” foi no hospital, aos 7 anos, quando foi internada após passar mal por conta de alguns exageros naquela Páscoa: com os tradicionais ovos de chocolate dessa época, ela ingeriu uma quantidade de chocolates maior do que estava acostumada. Sobre a doença, e estudante diz que no começo “isso só era um nome feio [pra mim] e que me fazia levar várias picadas e ficar com soro, ora na mão, ora no braço”. Ela contou também que demorou um certo tempo até entender totalmente o que tinha e como seu corpo funcionava.
A médica endocrinologista Maria Eduarda Chappaval, especializada em Diabetes Infantil, afirma que o processo de compreensão da doença com crianças é mais demorado em relação à descoberta dos adultos. Porém, a especiliasta garante que os pequenos se adaptam mais facilmente. “Elas [as crianças] têm mais curiosidade sobre o assunto, perguntam mais e são mais flexíveis.” Renata lembra-se de que no início do tratamento da doença sentia muita vergonha de sua condição: “Me recusava a aprender [a dar insulina] e ter que fazer isso em público. Parecia que só eu tinha que fazer tudo aquilo e que eu era a ovelha negra da cidade”. A jovem comenta que era, e ainda é, difícil explicar a todos que o fato de comer um doce perto dela não a incomoda — e que ela pode sim comê-los. “Eu posso comer de tudo, contanto que eu dê insulina depois e que não exagere. Só isso! Afinal, não tenho alergia a açúcar.”
Renata precisa tomar insulina desde os sete anos de idade. Ela descobriu a doença depois de passar mal ao ingerir uma maior quantidade de chocolate do que estava acostumada. (Foto: Renata Caridá)
O kit medidor de glicemia é necessário para acompanhar o tratamento da Diabetes. (Foto: Renata Caridá)
Apesar de todos os cuidados que são um padrão aos diabéticos, Renata garante que sua vida é bem normal: “ Por conta dos meus cuidados, eu não deixo de fazer nada, nem de comer nada. Tudo normal, apenas com algumas insulinas no meio.” E a Dra. Maria Eduarda confirma que com uma alimentação balanceada e sem grandes exageros, é possível ser diabético e ter uma rotina normal.
Não há segredos no tratamento contra a doença. A rotina de quem tem diabetes, apesar dos cuidados diários, é como a rotina de qualquer outra pessoa. (Foto: Renata Caridá)
Author: Alicia Gouveia
Editor: Bárbara Muniz