No dia 23 de abril, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, realizou um discurso onde declarava a culpa e admitia a responsabilidade do país perante os crimes cometidos na época colonial contra o Brasil. Essas violações foram marcadas pelo sequestro, o tráfico e a escravização de cerca de 6 milhões de pessoas africanas, o genocídio de mais de 70% da população indígena, além da coleta e o quase extermínio de recursos naturais brasileiros, como o pau-brasil e o ouro.
Dinheiro recompensa a morte de milhões de pessoas?
Durante a fala do presidente de Portugal, além de admitir a culpa do país diante de todas as infrações cometidas por seus antepassados, Marcelo Rebelo também declarou que Portugal deve pagar os custos referentes a todos os delitos cometidos contra o Brasil no período colonial.
Apesar de ter sido o primeiro presidente de Portugal a trazer uma pauta tão importante à tona, é certo afirmar que não há dinheiro que apague ou redima atos tão absurdos e cruéis realizados contra milhões de pessoas. As diversas mortes e todo o sofrimento que gerações de civilizações enfrentaram não vão ser desfeitas apenas por dinheiro, seja a mais abundante quantia monetária que vier a ser feita.
Além disso, é fato que a herança deixada pelos portugueses, na época da escravidão, foi da formação de uma estrutura social brasileira que discrimina toda a população negra. A parcela afrodescendente dos brasileiros, que condiz a 55,5% de toda a população do país, foi posta às margens da sociedade durante a época do Brasil Colônia. Essas pessoas eram, e continuam sendo, vítimas de preconceito diariamente, tanto referente a cor de pele, como a cultura e poder econômico. Como também acontece com a população originária do Brasil, que foram brutalmente massacrados durante os anos de colonização, indo de 2 milhões de indígenas no século XVI, para cerca de 300 mil pessoas nos anos 2000. Essa parte extremamente pequena da população indígena, que ainda vive no Brasil, continuam levando consigo o peso de um preconceito sem tamanho.
E se realmente ocorrer essa transação monetária?
Apesar da informação e do “pedido de desculpas” ter sido divulgado diretamente pelo presidente de Portugal, e falado apenas por ele até o momento, a “reparação dos danos”, por ora, não tem efeito prático. Isso se deve uma vez que Marcelo Rebelo de Sousa representa, em Portugal, uma figura de poder muito mais simbólica do que, de fato, proativa.
Mas, se a fala for proferida novamente, porém sendo dita pelo primeiro-ministro Luis Montenegro, que exerce a figura principal de governante do país, as representações políticas brasileiras de poder poderão refletir para onde o dinheiro poderá ser destinado. Buscando assim ajudar, mesmo que minimamente em consideração a grandiosidade do problema, milhões de pessoas que ainda sofrem pelos crimes cometidos pelos antepassados dos portugueses.
Portanto, temos que reconhecer a fala do presidente de Portugal, já que ele foi o primeiro representante do país a vir a público falar do assunto e reconhecer a culpa da colonização e da escravidão. Porém, sem nunca esquecer que a dívida de Portugal, perante o Brasil, jamais será quitada.
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O artigo abaixo foi editado por Ana Carolina Carvalho.
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