Há quem diga que os trailers são o primeiro forte indicativo sobre o futuro de um filme. Por eles, já conseguimos saber se o que virá é bom ou se não devemos criar tantas expectativas. Ao assistir Trama Fantasma (Phantom Thread, em inglês), tive a certeza de que esta visão, de que a chamada geralmente faz jus à qualidade do filme, é mentira.
Quando soube de Trama Fantasma e procurei saber mais sobre o enredo, me apaixonei pela história: a ideia de um romance entre uma garçonete e um renomado estilista me agradou de tal modo que coloquei as expectativas em relação ao filme lá no alto. Com o lançamento do trailer, confirmei meu desejo de ver mais um potencial sucesso, que conta com a atuação do maravilhoso Daniel Day-Lewis, reconhecido mundialmente pelos seus excelentes trabalhos. O ator tem a fama de saber encarnar os personagens, entregando-se totalmente ao papel que lhe é dado. A atuação é tão boa que o espectador realmente acredita que Daniel também é como o personagem em questão, que ambos têm as mesmas características.
De fato, não se pode negar que a montagem de Trama Fantasma é excelente. As câmeras focadas em mostrar até as expressões mais simples das personagens, a trilha sonora e a composição dos ambientes encaixam-se com precisão à ideia de vida que a trama retrata. No entanto, não há nenhum clímax capaz de prender a atenção de quem o assiste. O filme não traz fortes emoções, e por contar com poucas falas e um ritmo calmo, permanece o tempo inteiro na mesma linha, sem apresentar novidades capazes de deixar o espectador ansioso ou aflito com o que está por vir.
Os primeiros minutos da trama foram muito agradáveis, de modo que comecei a acreditar que o romance entre o metódico estilista Reynolds Woodcock (Day-Lewis) e Alma (Vicky Krieps), iria alcançar as expectativas que eu havia criado anteriormente. Ledo engano. Conforme a trama foi se desenrolando, a história me pareceu cada vez mais absurda.
Image Source: Laurie Sparham/Focus Features via IMDb
Reynolds vive em função do seu trabalho e é conhecido por ter um gênio muito difícil. Sistemático e meticuloso, ele não gosta que nada saia do seu controle e não admite que ninguém tente alterar algo em sua rotina. Um dia, visando esfriar a cabeça dos problemas da cidade, decide viajar para o campo, onde, em um restaurante, se encanta por Alma, a garçonete que está o servindo.
Os dois começam a sair e rapidamente a moça se torna modelo de Woodcock. Ela se muda para a casa dele, passando a configurar em seus trabalhos, uma vez que ele a considera perfeita. A trama vai se desenrolando de modo que a moça demonstra-se cada vez mais apaixonada, submetendo-se a aceitar o difícil convívio com o chato estilista em troca de um “suposto amor”.
Alma gosta tanto de seu parceiro que começa a fazer coisas absurdas em troca da atenção do mesmo. Este, por sua vez, em raros momentos demonstra reciprocidade de sentimento, e apesar de reconhecer não ser a pessoa ideal para a amada, decide permanecer como é.
Image Source: Laurie Sparham/Focus Features via IMDb
Sendo assim, a modelo e amante de Reynolds descobre uma solução absurda para que o seu romance deslanche e ela possa receber o tratamento que merece. O personagem principal é tão orgulhoso que não se propõe a mudar, mas aceita a solução – por sinal, bem absurda – que Alma decide usar.
O filme acaba e a sensação que fica é de que a história é sem pé nem cabeça. Os sacrifícios feitos por amor existem, mas há um limite entre o que é aceitável e o que é loucura. Alma, na maior parte do tempo, tem que implorar reciprocidade e se humilha de tanto que gosta do estilista, ficando claro para o telespectador que a relação do casal não é saudável.
A história do filme não é agradável a ponto de fazer com que o espectador queira assistir mais vezes. No entanto, em meio a uma fraca trama, não se pode negar que a interpretação dos atores Daniel Day-Lewis e Vicky Krieps é brilhante.
Daniel, que afirmou ser sua última atuação antes de sua aposentadoria, fechou sua carreira com chave de ouro. Apesar da história de Trama Fantasma não ser potente, vale assisti-lo pela atuação de Day Lewis. Enquanto, por um lado, o espectador sai do cinema perplexo com o script que deixa a desejar, por outro, sai boquiaberto com a genialidade do ator principal – que atua tão bem e com tanta maestria, que é difícil de achar outros atores do seu nível.