“[Se eu pudesse falar com a eu de 10 anos atrás?] Eu iria encher o meu eu do passado com mais determinação ainda”.
No ínterim de dez anos, entre dezenas de caracterizações, milhares de seguidores nas redes sociais e colocações em competições internacionais, a brasileira Jessy se apropriou da cena do cosplay e cristalizou, junto ao seu nome, um espaço não apenas de homenagem à universos e personagens fictícios, mas de expressão artística e construção de laços.
O “cosplay” – versão anglicizada do termo em japonês “kosupure”, que combina as palavras costume e play – é, simplesmente, uma arte performática, cujos praticantes utilizam de trajes e acessórios como meio de prestar tributo à seus planos criativos e personagens preferidos, desde jogos à animes e histórias em quadrinhos. A partir dos anos 90, o cosplay foi propulsionado e tornou-se um fenômeno, popularizado cada vez mais pelo crescente número de pessoas que tinham interesse em adotá-lo como um hobby, ou mesmo com um objetivo profissional, mundialmente. Entretanto, há mais de dezessete mil quilômetros de seu berço, o Japão, Jessy relata que a prática tomava outros contornos, estes bem mais sucintos, no Brasil.
- Conheça Jessy
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No início de sua carreira, em 2010, não ter muito apoio ou ajuda a fez sentir “que o cosplay era só mais um hobby sem futuro”. Iniciou seu caminho sem profissionais a seguir, e só foi conhecer suas atuais inspirações dois anos depois de começar. Tal cenário, inclusive, é algo que busca ativamente reverter agora, como uma profissional mais consolidada na esfera: “eu procuro ajudar, e sempre posto meus tutoriais de forma gratuita nas minhas páginas para passar adiante o meu conhecimento e experiência a alguém que está começando na carreira como cosplayer agora”.
“A Jessy de 10 anos atrás amaria seguir um cosplayer assim na época”, reflete. Fã de videogames e anime desde a infância, relata que as longas horas passadas jogando e assistindo animações na televisão culminaram em uma ligação que posteriormente floresceria na forma de sua primeira paramentação, a da personagem Rinoa Heartilly, de Final Fantasy VIII. Nesse momento incipiente como cosplayer, relata que se caracterizava à base do improviso: “usei meu próprio cabelo, sem lentes, roupas que eu mesma já tinha em casa, uma capa azul que foi feita do tecido de cortina e a arma do braço que foi feita de forro do guarda-roupa.”
A criatividade e a “gambiarra” são elementos imprescindíveis e que assinalam o cosplay de Jessy, acompanhando-a e ajudando-a desde o começo. Com materiais recicláveis transformados em arte e detalhes minuciosos confeccionados sob o escrutínio de um olhar perfeccionista, fazer os trajes com as próprias mãos, apesar de uma tarefa por vezes custosa, faz com que tudo valha a pena para ela. “O resultado final compensa e me enche de orgulho”, contempla, carinhosamente. “Fico animada fazendo uma armadura de EVA, por exemplo. Gosto de ver minhas habilidades e criatividade dando forma a um projeto que está ficando maravilhoso.”
- Seus personagens
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Entre seus mais de quarenta cosplays, Jessy – embora enfatize que ama todos os personagens dos quais já caracterizou – destoa três como seus favoritos e mais marcantes. O primeiro é a caracterização de Dante, do video game Devil May Cry; a primeira vez em que fez um personagem masculino, relata que ser Dante a ajudou a superar barreiras. Aqua (Kingdom Hearts) também é incluída na lista, por ser parte de uma de suas franquias prediletas e por ajudá-la a conquistar sua primeira vitória em um concurso de cosplay, além de ter sido uma porta para formar laços na cena. Por último cita Toriel, do RPG Undertale, que fez com que a cosplayer ultrapassasse a marca de dois mil seguidores em sua página do Facebook.
- World Cosplay Summit (WCS) e futuro
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Destaca-se também seu cosplay de Odette, do RPG Odin Sphere, que a levou ao Japão na final do World Cosplay Summit (WCS) em 2019 como representante do Brasil. Junto com Patri Popes, a outra metade de seu duo, o Team Stardust, competiu com outras 40 duplas de países ao redor do globo pelo título: “Foi a realização de um sonho! Eu sempre quis conhecer o Japão por ser a terra natal dos meus jogos favoritos, animes e também o cosplay, que é praticado muito a sério por lá.”
Esse reconhecimento profissional, juntamente com o processo de confecção das roupas e carinho dos admiradores, é uma das melhores partes do mundo de um cosplayer para Jessy. A pior? “O calor”, brinca. Mas, temperatura à parte, a maior dificuldade para ela ainda está na produção para se vestir à caráter. “Em outros países, existem até lojas especializadas” explica, “as perucas e lentes coloridas que uso são todas importadas. Produtos como worbla (material moldável feito propriamente para o cosplay) e o laquê específico para as perucas não são vendidos aqui no nosso país.”
Em dez anos, Jessy teceu uma história adornada de criatividade, paixão, grandes feitos e gambiarras. Mas esse é só o começo para ela. “Minha meta antes era ser a maior cosplayer do Brasil e viajar para o Japão em prol do WCS”, conta. Com esse sonho realizado, diz mirar mais alto: “agora, minha meta evoluiu para ser não só a melhor do Brasil, mas a do mundo.”
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O artigo acima foi editado por Leticia Rocha.
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