Nós, brasileiros e brasileiras no geral, temos uma falsa crença de que Florida e Orlando só existem para, por e pela Disney. Na hora de dizer para onde estamos indo a reposta sempre seria para a Disney, as vezes até ignorando a Universal, ou até pior, que a Florida é um estado com população, problemas e vida normal a parte do sonho dos parques de diversões. O filme mostra exatamente a realidade de que nem tudo é como um conto de fadas.
O diretor e escritor, Sean Baker, já tinha ficado conhecido anteriormente por Tangerine, um filme totalmente gravado por três iphones no meio de Los Angeles indo totalmente contra Hollywood em sua forma geral de se fazer filmes. E é nessa experiência de fazer um filme não necessariamente com uma grande narrativa que o Projeto Florida acontece. O filme é o que é, seja de forma seca, crua, sem muita esperança. O resto fica por conta de quem assiste, então se você espera um filme construído e que passe uma grande lição, não encontra. Seguindo a carona de filmes como Moonlight, a questão é dar vozes à histórias nem sempre tão interessantes assim.
Desde o começo, as cores são presentes, tudo é muito colorido e os nomes todos fazem alusão a mágico, castelos. Um grupo rebelde de crianças é liderado pela grande estrela do filme Brooklynn Prince, na época com 7 anos, que é a criança birrenta, desobediente e natural que gosta de pregar peças e fazer brincadeiras. A trama toda se desenvolve entre Moonee e sua mãe Halley, também em sua estreia nas telas descoberta pelo seu Instagram, onde passam perrengues como conseguir dinheiro para uma casquinha e pagar o aluguel atrasado vendendo perfumes. Ambas com um temperamento difícil, gritante conciliado com o amor que sentem uma pela outra. Entre os problemas com amizades, a perceptível falta de acesso à educação (entre outros ítens básicos), temos um “gerente” humano e que aguenta calmamente as travessuras que mãe e filha praticam.
Outra coisa interessante é que os filmes das premiações desse ano, em sua grande maioria, focaram na relação mãe e filho. Essa é uma das essências de The Florida Project, que tem uma mãe negligente e que se envolve com drogas (sendo que não necessariamente isso seja culpa dela).
A cena final do filme é uma das que mais incomoda: ela comprova que a desigualdade existe até nos lugares que se menos espera, ainda mais quando são duas crianças em jogo, morando ao lado do lugar mais mágico da Terra. Quando um casal de brasileiros faz sua participação no filme, discutindo que pegaram estadia errada e se assustando com a “espelunca” que seria um motel de estrada, a mensagem do filme já pode ser finalizada sem muitos esforços. Tirando o Willem Dafoe, que inclusive recebeu uma indicação ao Oscar por esse papel, todos os atores são iniciantes. O diretor não pensou em nenhum momento sobre distanciar o filme da realidade por meio de grandes produções ou diálogos, talvez seja por isso que o filme não ficou tanto em evidência, embora merecesse. Fotos: Divulgação Texto: Miena Carvalho
Edição: Marcela Schiavon