O termo gordofobia representa preconceito com pessoas que são gordas. O sufixo fobia significa aversão, e neste caso é aversão às pessoas gordas. Ela está presente em todas as esferas da sociedade, seja de forma explícita ou velada. Inclusive muitas vezes é imperceptível, devido a banalização e enraizamento.Uma das principais consequências dessa aversão ao corpo gordo é a desumanização do mesmo. Pois ele é visto como sinônimo de doença e portanto precisa ser “consertado”. A gordofobia é, sobretudo, uma opressão estrutural, tendo em vista que toda a sociedade é pensada e funciona para o corpo magro, e exclui aqueles que saem desse padrão.
Vale ressaltar a diferença entre gordofobia e pressão estética. Visto que, o primeiro é o preconceito que rodeia o corpo gordo. E a pressão estética é algo que todas as pessoas sofrem, principalmente as mulheres, pois temos uma sociedade que valoriza excessivamente a imagem. Ou seja, pressão estética é uma pressão social para que o indivíduo se sinta insatisfeito com seu corpo a fim de se encaixar em um padrão inatingível, que no caso o padrão magro.
Expressões como “linda de rosto” e “fazer gordice” são preconceituosas, pois o gordo está sempre relacionado a algo pejorativo. Além disso, dizer que alguém está magro em tom de elogio é problemático, porque estar magra, nessa situação, significaria uma qualidade, quando, na realidade, é uma característica. Esse preconceito também se faz presente quando se transveste de preocupação com a saúde.
Pessoas gordas também são vítimas de “piadas”, como a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL). O caso ocorreu em 2019, enquanto a parlamentar ouvia atentamente o Ministro da Economia sobre a reforma da previdência na Câmara, Danilo Gentili (humorista) fazia ataques em relação a sua aparência no Twitter. Outro caso mais recente, foram os ataques à modelo Bia Gremion feitos pelo humorista Léo Lins em seu Instagram. O corpo gordo não é piada e muito menos público.
A gordofobia também se constitui quando não há espaços acessíveis para corpos gordos ocuparem. Como por exemplo, a catraca do ônibus e algumas cadeiras que possuem braços ou o assento é menor que o normal. Em termos gerais, é a ausência do direito de ir e vir. Assim, como a falta de números de roupas maiores que contemplem todos os corpos. Isto é, ações do cotidiano simples se tornam um desafio.
O movimento Corpo Livre nasceu como forma de resistência à gordofobia. O movimento se originou nos Estados Unidos, e por lá é chamado de Body Positive, na década de 1990. Aqui no Brasil, a pioneira do movimento foi Alexandra Gurgel, a youtuber posta em seu canal, Alexandrismos, questões relacionadas a autoestima, amor próprio e sobre corpo livre.
Desde a infância Xanda, como é conhecida por amigos e seguidores, sofria com o peso e a auto aceitação, e aos nove anos começou a fazer uso de remédios para emagrecer. Por ser fora do padrão, Alexandra sofria com o bullying no ambiente escolar e a gordofobia se fez presente muito cedo em sua vida. A youtuber desenvolveu problemas de compulsão alimentar, bulimia, depressão e uma tentativa de suicídio. Em meados de 2015, Xanda começou o processo de auto aceitação e seu canal no Youtube foi o resultado. Além disso, ela também publicou um livro intitulado “Pare de se odiar”, que também aborda autoestima e gordofobia.
Para Bruno, de 17 anos, a gordofobia é parte de sua vida desde que se entende como pessoa. Ele conta que notou que ser gordo era fora do padrão quando era excluído. “Percebi que eu era excluído de algumas coisas só por ser gordo, como ir em algum lugar, pegar carona no carro de algum amigo e ter que ir na frente, porque eu não caberia atrás”. No início, quando passava por um momento de preconceito, ele sentia como se estivesse fazendo algo errado.
Assim como Xanda, Bruno foi alvo de chacotas devido ao seu peso. “Sempre sofri bullying por ser gordo, as pessoas constantemente tentavam me diminuir pelo simples fato de ser gordo”. E espaços que, em teoria, deveriam ser acolhedores como a escola, na realidade são situações vexatórias e de restrição. Segundo Bruno, o espaçamento entre a mesa e a cadeira são pequenos e nada acessíveis, assim como os assentos de ônibus.
Outro espaço que era para ser um espaço receptivo são os consultórios médicos. O termo que se usa neste caso em específico é gordofobia médica, que é quando um profissional da saúde perpetua o preconceito e estigma que gordo é doente, dessa forma, não realizam a consulta ou exame de forma eficiente. “Eu frequentava uma endocrinologista que falava que eu morreria aos 18 anos se não emagrecesse, e que não era um jeito bom de se viver sendo gordo”, conta Bruno.
É muito claro que a gordofobia se faz presente na vida de muitas pessoas, que são prejudicadas desde a forma física, por muitas vezes, não conseguirem ficar confortáveis nos locais que frequentam, e também psicologicamente, sendo alvos de piadas e bullying. É de extrema importância que se fale sobre esse preconceito, para que de alguma forma a sociedade comece a enxergar os corpos gordos, e que eles não sejam considerados inferiores e possam, portanto, ser aceitos, assim como todos os outros tipos de corpos.
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The article above was edited by Mariana Miranda Pacheco.
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