Nos últimos anos, o futebol tem se esforçado para se tornar mais inclusivo, abraçando a diversidade em todas as suas formas. Nesse contexto, as salas sensoriais nos estádios emergiram como uma inovação significativa que proporciona um ambiente acolhedor e seguro para os torcedores que necessitam durante as partidas.
DESAFIOS E AVANÇOS DA INCLUSÃO
As agitações de uma partida de futebol podem ser comuns para algumas pessoas, mas para torcedores com Autismo, Síndrome de Asperger e outras condições similares podem ser gatilhos para uma desregulação.
O espectro autista têm diversas características e cada pessoa é única, os desafios que eles podem enfrentar ao acessar certos tipos de lugares são diversos, devido ao fato dos seus níveis e comorbidades diferentes. A lotação, barulho e excesso de informações são alguns dos pontos que podem ser limitadores do acesso desse público aos estádios.
Felizmente, clubes brasileiros têm voltado olhares para esta causa, de forma que espaços nos estádios têm sido adaptados da forma correta para receber pessoas do espectro autista, esses ambientes são as chamadas salas sensoriais.
As salas sensoriais são espaços especialmente projetados para fornecer um ambiente calmo e controlado, destinado a oferecer conforto e apoio para pessoas com condições sensoriais especiais. . Essas salas são equipadas com recursos que visam reduzir a sobrecarga sensorial, como iluminação suave, cores neutras, materiais acolchoados e dispositivos para controle de som.
A importância das salas sensoriais nos estádios de futebol reside no fato de que elas permitem que torcedores desfrutem das partidas de forma mais confortável e segura. Esses espaços oferecem um refúgio tranquilo longe da agitação das arquibancadas, proporcionando uma experiência mais inclusiva para todos os fãs de futebol. Além disso, esses ambientes promovem a conscientização sobre as necessidades das pessoas com condições sensoriais especiais e demonstram o compromisso do clube em tornar seus eventos acessíveis a todos.
“Todos têm direito de acessar todos os lugares. Inclusão é tornar possível que todos cheguem até lá. É preciso entender que os autistas são pessoas que têm gostos e hobbies como todo mundo tem, e por isso eles têm o mesmo direito de assistir a uma partida de futebol, assim como alguém que é típico. O direito que essas pessoas têm de chegar e poder assistir a um jogo, que é algo que mexe com a nação, faz parte de uma questão de identificação.” comenta a neuropedagoga, Tamires Meneguini.
Desde o momento em que as salas são implantadas nos clubes, elas ajudam a reduzir o estigma em torno das necessidades sensoriais no contexto do futebol, mostrando que todos são respeitados e valorizados dentro da comunidade. Isso promove a compreensão e a empatia entre os membros da comunidade esportiva, além de contribuir para a criação de um ambiente onde o estigma em relação às necessidades sensoriais é gradualmente substituído por aceitação e respeito mútuo. Assim, a cultura do futebol torna-se mais acolhedora e acessível para todos os participantes.
A psicóloga esportiva, Carolina dos Santos, diz que os clubes e organizações esportivas devem fornecer autonomia, reconhecendo sua importância para o bem-estar de todos que desejam ter acesso aos estádios e trabalhando em conjunto. Isso deve ser feito a fim de promover eventos e workshops para criar uma cultura mais inclusiva e solidária dentro e fora de campo. Essa é a melhor forma de colaborar com a inclusão e a acessibilidade dentro do esporte.
CONSTRUINDO PONTES: CLUBES QUE IMPLANTARAM ESPAÇOS SENSORIAIS
Em 2022, o mundo viu a FIFA adaptando os estádios sediados para Copa do Mundo com salas sensoriais. Esses espaços contavam com vista para o gramado, iluminação adequada e equipamentos corretos. Esse cuidado fez com que famílias com indivíduos neurotípicos pudessem desfrutar dos jogos com segurança e tranquilidade.
Em iniciativas brasileiras de inclusão, o Corinthians foi o primeiro clube no Brasil a oferecer o serviço, tendo sua sala inaugurada em 2019 na Neo Química Arena. O setor oeste superior é destinado aos autistas alvinegros.
- Mineirão
No dia 2/4, o Mineirão anunciou a criação do Camarote TEA (Transtorno do Espectro Autista) localizado no setor leste vermelho. O lugar comporta 14 pessoas entre neurotípicos e acompanhantes.
- Allianz Parque
Recentemente, a casa do verdão também inaugurou sua sala sensorial, feita para partidas e eventos. O espaço está localizado no setor norte, no quarto andar da arena. Durante as atividades do estádio, há uma equipe orientada no local para auxiliar.
- Morumbi
Em 2023, o Tricolor também abraçou o chamado de urgência de um espaço inclusivo em sua casa. A Sala TEA+ Tricolor, conta toda a estrutura necessária para suporte em possíveis casos de desregulação.
Em dias sem jogos no estádio, o local é utilizado para terapias de clínicas-escolas especializadas em tratamentos de transtornos neurotípicos.
Além dessas, espaços inclusivos estão em outros estádios como, Couto Pereira (Curitiba), Beira-Rio (Internacional), Alfredo Jaconi (Juventude), Arena Pantanal (Cuiabá) e o Hailé Pinheiro (Goiás).
MOVIMENTOS NAS TORCIDAS
Além das iniciativas institucionais, um aspecto crucial da promoção da inclusão no futebol é o envolvimento ativo dos torcedores. Nos últimos anos, os movimentos de torcedores autistas têm surgido em todo o mundo, destacando a importância da conscientização e da inclusão nas torcidas. Este segmento explora o impacto desses movimentos e como eles estão moldando uma cultura mais inclusiva no futebol.
Os torcedores autistas têm enfrentado desafios únicos nas arquibancadas, desde a sobrecarga sensorial até a incompreensão por parte de outros amantes de futebol. No entanto, em vez de se sentirem excluídos, muitos deles estão se unindo para fazer ouvir suas vozes e promover mudanças significativas nas torcidas.
Um dos principais objetivos dos movimentos de torcedores autistas é aumentar a conscientização e a compreensão sobre essa neurodivergência e outras condições sensoriais. Eles organizam eventos de conscientização, distribuem materiais educativos e trabalham em estreita colaboração com os clubes de futebol para garantir que os funcionários e outros torcedores estejam bem informados sobre como apoiá-los durante as partidas.
Os movimentos de torcedores autistas estão desempenhando um papel fundamental na promoção da inclusão no futebol. Ao dar voz a eles e defender mudanças significativas nas torcidas, eles estão construindo um ambiente onde todos os torcedores se sintam bem-vindos e respeitados. Com sua determinação e paixão, estão moldando um futuro onde a diversidade é celebrada e a inclusão é uma realidade em todos os aspectos do futebol e da sociedade em geral.
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O artigo acima foi editado por Lorena Lindenberg
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