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Culture

Iza e Paulo André, Os Mais Bonitos do Brasil?: A Hipersexualização dos Corpos Negros No País

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Por serem considerados padrões, no quesito beleza, Iza e Paulo André despertaram reflexões sobre o que é considerado belo, atualmente, nos parâmetros de pessoas pretas. “No caso do homem, para receber esse título, ele não precisa, necessariamente, ser musculoso, mas precisa ter contornos musculares e um rosto harmonioso, além de ser alto. Enquanto a mulher precisa ter um ‘corpão violão’, que é a cintura fina, o quadril largo e a coxa grossa”, afirma o modelo plus size Gustavo Khiobumy, que acredita na necessidade de mudança de tal imaginário e no fim de estereótipos que hipersexualizam os negros no Brasil, que resultam em consequências no própio psicológico.

Origem da hipersexualização da população negra

Para compreender esse fenômeno, é preciso analisar sua origem e seu desenvolvimento ao passar do tempo. Com isso, vale lembrar que entre as diferentes funções que a população negra exercia no período escravocrata do país, também estava inclusa a tarefa sexual. 

“Os negros, quando escravizados, foram impostos a uma condição não humana, considerados incapazes de pensar e de estruturar coisas para eles próprios. Portanto, foi preciso desumanizar os povos africanos para justificar a escravidão” afirma a a psicóloga Andréia Alves. “Ao desumanizá-los, pode-se fazer o que quiser com eles, pois se tornam objetos”, completa a psicóloga e pesquisadora independente sobre questões acerca da constituição da subjetividade da pessoa negra.

Nesse período, a atribuição do papel de satisfazer o homem branco colonial à mulher negra, bem como a noção que se tinha sobre o homem negro carregar consigo compulsões sexuais irresistíveis, são questões passadas que apresentam consequências atualmente. Andréia ressalta que “nesse período, dizia-se que os senhores de escravos não conseguiam resistir ao encanto das mulheres negras, e que elas poderiam ser feiticeiras, por causarem tal impacto. O mesmo com os homens negros, definidos por terem braços fortes e um  tamanho maior do seu órgão sexual, quesitos considerados para maior disposição nas atividades sexuais.”

Admiração ou desejo?

Tendo em mente que o corpo negro está fortemente associado a uma imagem sexualizada por questões históricas e culturais, observa-se em comentários que são destinados a exaltar a beleza física as minúcias do racismo estrutural existente.

No caso da cantora Iza e do atleta e ex-BBB Paulo André, os quais possuem imagens públicas e, portanto, fáceis de se tornarem comentadas nas grandes mídias, percebe-se que com elogios estão vinculadas a objetificação e sexualização de seus corpos. 

Referente a isso, Gustavo Khiobumy exemplifica a situação: “Vamos supor que um homem comente na foto da Iza: ‘Nossa, muito bonita!’, é diferente dele dizer ‘Nossa, muito bonita! Ôh, lá em casa!”. Isso deixa de ser um elogio e passa a ser um desejo.” O modelo acrescenta que “não conseguimos saber a entonação da pessoa quando ela escreve, mas conseguimos sentir através de pontuações, emojis ou escolhas de expressões.”

Banalização de corpos humanos

De acordo com o levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as mulheres pretas e pardas são as principais vítimas de assédio sexual no Brasil, o que evidencia o racismo, o machismo e a objetificação que atingem essa minoria. É importante associar como esses dados estão vinculados à banalização de tais corpos.

“Acredito que a mulher negra sempre vai ser levada para o lado vulgar quando pretende mostrar sua sensualidade”, opina a modelo plus size Lilian Marceli. “Se uma mulher branca faz fotos topless, provavelmente, ela não será tão julgada quanto a mulher negra. Enquanto ela será feminista, militante e ativista, a preta estará chamando atenção e sendo vulgar de forma desnecessária”, exemplifica. Com isso, percebe-se como se polariza o julgamento do público em situações como a ilustrada pela modelo.

É válido considerar que expressões como “negro da cor do pecado” e “mulata globeleza” são comuns no vocabulário da sociedade brasileira, para se referirem às pessoas pretas. “Termos como esses fortalecem a hipersexualização e a coisificação dessa minoria, levando em conta que esses fenômenos estão associados uns aos outros’‘, afirma Alves.

Impactos emocionais

No plano das consequências prejudiciais que esse imaginário social causa à saúde mental, Gustavo relata que “por ser gordo, eu sempre busquei, incessantemente, o padrão, algo que eu nunca conseguirei atingir, porque o meu biotipo é diferente. Mas passei muito tempo da minha vida tentando alcançar essa visão irreal, que aparenta ser mais aceita.”

A partir disso, é indispensável considerar os efeitos emocionais que são causados no psicológico de quem é alvo de tal idealização. Sobre isso, a psicóloga conta que “a autoestima e a autoconfiança das pessoas negras caem muito, uma vez que a sociedade mostra a elas que o homem negro possui uma ótima performance sexual e que precisa ter um corpo condizente ao padrão.” Em relação à mulher, Andréia aponta que a mesma “é vista como a ‘preta quente’, que pode atender às fantasias idealizadas, algo que a faz questionar e desconfiar das intenções daqueles com quem se envolve sentimentalmente.”

Ou seja, em ambos casos, os impactos emocionais influenciam no desenvolvimento de autoconfiança e autoestima dos indivíduos. Isso ocorre devido à dependência da aprovação externa, e por se construírem em um ambiente que preza por isso.

Resistência frente aos estereótipos

Vencer o estigma da hipersexualização dos corpos negros, diante da realidade apresentada, é um desafio e uma necessidade atual. 

“Nós, que somos pretos e gordos, temos que enfrentar essa luta, expondo nossos corpos, independente dos hates que podemos sofrer. Não temos que exaltar a obesidade, mas sim o positive body, que é você se aceitar e se amar do jeito que é. Fazendo isso, podemos quebrar os estereótipos em nossa sociedade”, afirma Gustavo.

Lilian concorda com o modelo plus size, e ainda diz que: “para nós, que temos um corpo diferente do padrão, além de expor nossos formatos, também temos que mostrar a nossa inteligência e capacidade de ser ‘n’ outras coisas que um branco pode ser”. Isso mostra que o estereótipo físico também está atrelado à definição da capacidade intelectual de pessoas pretas.

Referente aqueles que não fazem parte dessa minoria (pessoas não pretas) vê-se a importância de tomarem um posicionamento e se conscientizarem frente a situação. “A necessidade de intervir em momentos que essa nuance do racismo se faz presente é imprescindível. Ainda mais se considerarmos que, assim como a Angela Davis citou: ‘não basta não ser racista, é preciso ser antirracista’”, conclui Andréia Alves.

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O texto acima foi editado por Mariana Miranda Pacheco.

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Sempre me identifiquei com a área da comunicação e achei no jornalismo a melhor forma de reunir o que mais gosto de fazer: escrever, falar e descobrir coisas novas! Acredito que a informação pode mudar vidas e espero alcançar isso de alguma forma!