Você já ouviu falar de alguém que jogue videogames profissionalmente? Se sim, era alguma mulher? Ainda que os eSports, as competições profissionais de jogos eletrônicos que surgem em meados dos anos 90, continuem a ganhar cada vez mais espaço, seja nos trends do Twitter quanto nos assentos de arquibancadas como a do Maracanãzinho, poucas das cadeiras nas quais os praticantes dessa modalidade se sentam para jogar são mulheres.
Não é que as mulheres não joguem profissionalmente, ou até, que não joguem. Por mais que as mulheres estejam ocupando mais espaço nos videogames (em uma pesquisa conduzida pelo Internet Advertising Bureau UK, 52% dos jogadores eram mulheres) a falta de representatividade feminina no cenário competitivo é um problema, a dificuldade de inclusão de mulheres nesse meio é problemática e pode ser justificada.
E por que tantos homens estão à frente de mulheres? O fator econômico é um importante determinador desta realidade. O site E-Sports Earnings coleta dados referentes a quantos os jogadores profissionais ganham em torneios e competições relacionadas à eSports. Na seção “Highest Overall Earnings” (“Maiores Lucros em Geral”), atualmente, o jogador que mais acumulou com eSports é Kuro “KuroKy” Takhasomi da Alemanha especializado no jogo Dota 2 com U$ 3.367.188,35 acumulados na carreira, sendo que 99,98% desse valor é proveniente do jogo anteriormente citado. A primeira mulher a aparecer na “Highest Overall Earnings” é, consequentemente, a primeira mulher no ranking de “Top Female Players” (a lista que compila os números relacionados apenas das mulheres no eSports) é Sasha “Scarlett” Hostyn do Canadá, que arrecadou U$ 189.190,83 jogando apenas Starcraft II.
A diferença entre o primeiro lugar de ambas as listas é gritante: U$ 3.177.997,52 separam Takhasomi de Hostyn. É válido ressaltar que, ainda que Hostyn esteja no 1º lugar entre as jogadoras profissionais, seu nome apenas aparecerá na lista de todos os jogadores, independente de gênero, no 325º lugar. Tratando da profissionalização dos jogos, à frente de uma mulher nos eSports há 325 homens.
A misoginia também é frequente, senão uma prática normalizada, no que se trata de jogos onlines. Stephanie Harvey, uma conhecida jogadora profissional de Counter Strike: Global Offensive (CS:GO), relata para a BBC que o abuso é frequente – tanto na forma de ofensas verbais quanto ameaças de morte e estupro – como se ela “não merecesse estar lá”. O questionamento de habilidades é frequente. Um caso que viralizou em junho de 2016, envolveu essa questão nos eSports. A jogadora de Overwatch, Seyeon “Geguri” Kim, durante uma competição do jogo em questão foi acusada de utilizar de macetes para aprimorar sua precisão de mira. Geguri mantinha incríveis 80% de winrate (porcentagem de vitórias) com a personagem Zarya.
Fonte: Digitaispuccampinas
Um glitch (mau funcionamento) com a câmera que exibia sua jogada levantou rumores sobre sua capacidade fizeram com que ela recebesse um retalhamento negativo da comunidade e até uma ameaça de morte de um outro jogador profissional caso a fraude fosse confirmada. Felizmente, Seyeon teve seu nome limpo de qualquer acusação e os jogadores que a haviam acusado se retiraram do universo dos eSports. Atualmente, ela é a primeira mulher que participará do Overwatch APEX, um dos torneios de maior prestígio se tratando deste jogo.
Há, entretanto, uma melhoria lenta tratando da inclusão das mulheres no meio profissional de jogos. O Team Secret, por exemplo, que é um grupo composto por apenas mulheres jogadoras de CS:GO, já é reconhecido mundialmente dentro do cenário por suas jogadoras extremamente habilidosas – sendo considerado o melhor time feminino do mundo. Além dos times exclusivamente femininos, existem campeonatos exclusivos de CS:GO feitos para que apenas mulheres joguem. Ainda que a remuneração não seja tão alta como de competições como a ELeague de CS:GO ou o Intel Extreme Masters (IEM) Katowice, torneios como o Copenhaguen Games fazem com que as mulheres possam lentamente se inserir no cenário profissional.
Quem sabe, da próxima vez que assistir algum campeonato de eSports, você veja uma mulher competindo? O caminho ainda é longo – dentre os 32 jogadores que competiram, por exemplo, no torneio ELeague de Street Fighter V, apenas 2 eram mulheres. Porém, à medida que os torneios se tornem mais e mais inclusivos, talvez ver um time com uma representante não seja algo tão ilusório e virtual quanto os personagens controlados por essas jogadoras.
Texto: Gabriella Lima Edição: Marcela Schiavon