No dia 24 de maio de 2022, os Estados Unidos foram alvo de mais um terrorismo doméstico, dessa vez na cidade de Uvalde, no Texas, na Robb Elementary School, escola primária onde estudam crianças de 5 a 10 anos. A tragédia deixou mais de 20 mortos, sendo 19 crianças e dois adultos. O ataque é um dos mais sangrentos da história do país, ficando atrás somente do atentado de Sandy Hook, em Connecticut, em 2012, o qual deixou 26 pessoas mortas, e de Virginia Tech, em 2007, que matou 33 pessoas e deixou diversas feridas.
Na manhã daquela terça-feira, o colégio estava nos preparativos para a última semana de aulas do ano letivo, que, nos Estados Unidos, termina em junho, para o início das férias de verão, que duram aproximadamente de 2 a 3 meses. Poucas horas antes do término da aula, por volta das 11h30 (13h30 no horário de Brasília), Salvador Ramos dirige até a escola, bate o carro em uma vala nas proximidades, caminha até o lugar, e abre fogo com um fuzil semi automático. Relatos apontam que, após diversas denúncias, a polícia local demorou mais de uma hora para intervir na situação, o próprio diretor do Departamento de Segurança Pública do Estado, Steven McCraw, reconheceu o erro e a demora dos agentes.
Apesar deste ser apenas mais um caso entre muitos outros, as autoridades e especialistas ainda não chegaram a uma conclusão concreta de quais são as motivações por trás de tantas calamidades como essa e, embora seja doloroso, para que tantas famílias tenham um desfecho e explicação, é preciso analisar e pôr em cheque o histórico do país quando se trata de movimentos armamentistas.
HISTORICO Bélico:
Recém formado, em 1791, os Estados Unidos elaboraram sua primeira Declaração de Direitos, com dez emendas constitucionais. A segunda delas declarava que todo cidadão teria direito à posse e contenção de arma para fins de legítima defesa. Naquela época, em que a identidade e o povo americano ainda estavam sendo formados devidamente, o país era organizado em milícias (grupos de homens com o intuito de proteger suas comunidades e colônias). Eles acreditavam no armamento como solução de defesa contra o que eles viam como um abuso autoritário do exército militar.
Por conta disso, mesmo atualmente, o tópico continua polêmico. Muitos americanos acreditam que, por mais que casos como de Uvalde ou Sandy Hook aconteçam cada vez com mais frequência, caso haja qualquer lei que interfira na segunda emenda, tanto para acabar com ela, quanto para deixá-la mais rígida em relação à aquisição das armas, que são de fácil acesso hoje, o ato é inconstitucional e vai contra os direitos civis.
Não é surpresa que republicanos, como o ex-presidente Donald Trump, que já declarou ser a favor da emenda e contra qualquer mudança, acham que a solução das chacinas é o armamento ainda mais severo da população. Porém, a questão é tão complexa que, até mesmo presidentes social-democratas – os quais 94% consideram-se a favor de leis mais rigorosas em vínculo ao armamento – lamentam as diversas tragédias, como Barack Obama, mas se recusaram a mexer na lei, por considerarem injúria à liberdade americana.
Consequentemente, os Estados Unidos ganham o título de país que mais sofre tiroteios em instituições de ensino de todo o mundo, totalizando mais de 2000 incidentes envolvendo armas de fogo desde a década de 70, independentemente do número de vítimas, hora do dia, ou dia da semana, sendo aproximadamente 1500 ocorridos somente nos últimos 10 anos, após o atentado em Sandy Hook. Em 2021, foram mais de 30 ataques escolares durante o ano. Enquanto em 2022, considerando todos os atentados em massa, sem levar em consideração o local em que foram feitos, já foram mais de 200, quase um por semana.
Supostas Motivações:
Ainda são desconhecidos os motivos que levaram Salvador Ramos, autor da chacina em Uvalde, a cometer o crime, mas, de fato, o homem tinha comportamentos e relatos muito semelhantes aos responsáveis por outros massacres. Em entrevista ao Washington Post, sua prima Mia declarou que Ramos teve muitos problemas na infância por bullying, era altamente atormentado e sofria rejeição por parte dos colegas de classe pelo seu jeito de falar, e que ele até pediu para parar de estudar por conta disso. Esse histórico está presente em 87% dos casos de perpetuadores de ataques, de acordo o artigo “School Shootings and Student Mental Health: Role of the School Counselor in Mitigating Violence”, publicado pela American Counseling Association.
Mia também afirmou que seu primo tinha muitos problemas com a mãe, a qual que era usuária de drogas, e por isso, vivia com a sua avó. A desestruturação familiar e a repulsa por parte de seus progenitores, muitas vezes causam traumas que levam a um comportamento violento, principalmente em casos que o criminoso já apresenta uma predisposição psicológica.
Para Peter Langman, psicólogo americano, nem o Bullying, nem a rejeição fraterna são causas concretas do por que esses casos acontecem, mas sim um traço de personalidade em conjunto com algum fator externo. Os três tipos de sinais são os: psicopatas (falta de empatia), os psicóticos (esquizotípicos) e os traumatizados (que cresceram com alguma forma de violência à sua volta).
Langman também apresenta o “efeito imitação”, sendo essa a motivação pela busca da fama, e afirma que a mídia tem grande responsabilidade nesse tópico, ao tratar muitas vezes, de forma sensacionalista, casos de atentado. “Eles querem conseguir tanta fama quanto o atirador anterior. Ganhar reconhecimento imediato. Entrar para a história”, declarou o profissional.
Ao analisar esse fato, não é de se surpreender que, pessoas que foram negligenciadas durante toda a vida e postas de canto, busquem uma solução macabra para finalmente serem vistos e vingados.
Medidas Preventivas:
Sem saber ao certo os motivos, é complicado definir uma resolução. Contudo, após diversos incidentes, segundo a consultoria IHS Markit, a indústria de segurança escolar movimentou bilhões de dólares, somente em 2017, para conter os ataques em massa, mas não foi o suficiente para manter um controle sobre os atentados. Apoiadores do movimento armamentista, afirmam que a solução é a liberação de armas em zona escolar, e, principalmente, o armamento de professores. No total, 14 estados americanos adotaram essa medida, mas também sem resultados efetivos.
Por fim, especialistas afirmam que é preciso mais do que somente reagir, mas sim, prevenir futuros episódios. O documento “Call for Action to Prevent Gun Violence in the USA”, assinado por mais de 200 universidades e outros grupos especializados, afirma que o ideal seria treinar os estudantes, professores e funcionários a reconhecer um possível ataque, identificar comportamentos tanto homicidas quanto suicidas entre os colegas, e não somente como reagi-lo, como é feito no presente.
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O artigo acima foi editado por Mariana Miranda Pacheco.
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