Her Campus Logo Her Campus Logo
Culture > News

‘Mc Daleste – o pobre loco’: dez anos depois de sua morte

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

No fim de fevereiro, a Globoplay estreou seu mais novo documentário “MC Daleste – Mataram o pobre loco”, contando com a apuração de Guilherme Belarmino e Eliane Scardovelli. Eles tentam trazer respostas para o homicídio que ocorreu em meio a cinco mil pessoas, filmado de todos os ângulos e que ainda está sem solução. Como ainda há tantas perguntas sem respostas?

EU SOU DALESTE

Em 06 de julho de 2013, Daniel Pedreira Sena Pellegrini, conhecido como MC Daleste, sobe ao palco no CDHU San Martin em Campinas, São Paulo. Vítima de dois disparos, um de raspão e outro certeiro, Daniel foi levado para o hospital às pressas, mas acabou não resistindo. A quebrada se despede do “backstreet boy do funk”.

Para o “pobre loco” que não sairia da periferia, Daleste viveu um sonho ao alcançar multidões com sua música e reverberar o funk paulista com apenas 20 anos. Hoje, ele permanece vivo na memória de artistas como Mc Davi, Mc Hariel, Mc Livinho, Mc Kauan e Gloria Groove, que narram, no documentário, o impacto que Daniel trouxe para a música.

Com o refrão de “Quem é essa menina de vermelho” sendo cantada na voz de Gloria Groove em sua música “Vermelho”, Daleste saiu do bairro da Penha e se espalhou entre as quebradas e o mundo: “Essa música vai ser para sempre e, quando a gente sai do palco, sabemos que o Daleste vive”, diz a cantora.

Assista o documentário completo no Globoplay

BAIRRO DO MISTÉRIO

Segundo a irmã do funkeiro, Daleste cantava suas músicas com base na vida que ele e seus amigos levavam na periferia. A apologia nas letras de funk são uma contrapartida dessa vivência: não é possível retratar algo que não foi vivenciado.

Com a música “Violentamente”, não é a primeira vez que Daniel se excede em suas letras: “Joga, joga o fuzil ‘pro’ alto/ Descarrega ao ponto 30/ Joga, joga a bomba ‘pro’ alto/ A bomba explode, os verme vira purpurina”. 

Com isso, surge uma das várias perguntas que, até os dias atuais, seguem sem respostas: o quanto o fato de Daniel escrever sobre sua vivência, a apologia ao crime e a agressividade da polícia, interferiu no inquérito?

Depois da denúncia, a polícia levou duas horas para chegar ao local, enquanto os investigadores levaram 13 horas. Por conta disso, foi colocado no inquérito que ocorreu um “lapso temporal por circunstâncias que não demos causa”, contestando que “a cena estava extremamente prejudicada” e que as investigações poderiam não ser conclusivas, surgindo mais uma dúvida: em uma festa de rua com cerca de cinco mil pessoas, não havia nenhum patrulhamento, nenhuma intervenção de segurança?

O delegado da Polícia Civil, Rui Flávio de Carvalho Pegolo, responsável pelo caso na época, diz que não encontrou resistência no bairro enquanto investigava o local, além de ter recebido auxílio dos moradores que também queriam solucionar o crime.

Entretanto, tanto na apuração do documentário quanto nos depoimentos é mostrado o contrário e que houve, sim, dificuldade em encontrar informações. Em entrevista com Guilherme durante a apuração, o delegado afirma não ter feito nenhum pedido de diligência para investigação do caso durante os anos que o processo permaneceu em aberto.

Em uma participação em um programa na Funk TV, Daleste já precedia o que estava por vir. Ele conta que iria falecer em cima do palco e subiria aos céus para encontrar sua mãe. 

Mas, o que torna o relato ainda mais inacreditável é como ele narra esse déjà vu em sua música “Minha História”, com o refrão: “Cantando a minha história em cima do batidão do funk, muito obrigado a atenção de vocês, mas o resto desta história venho cantar outra vez”.

Não são apenas os familiares que aguardam a solução do caso: os fãs ainda permanecem frequentando o túmulo de Daniel e realizando posts nas redes sociais. O irmão de Daleste, Rodrigo, disse que “a dor supera as homenagens” e que ainda vive o sofrimento. Além disso, afirmou: “O grande motivo de eu topar essa entrevista é a esperança imortal de reabrir esse caso… já são dez anos”.

perfume de mulher

Em 2013, Mc Livinho, grande nome do mundo do funk, conheceu Daleste e sua personalidade ‘desenrolada’: o estilo vagabundo romântico de cantar de forma melódica, sensualizar no palco e tirar foto para as redes sociais conquistava o coração do público. Marcinha Mãezona, organizadora do fã-clube de Daleste, conta como eram os bastidores dos shows e os atendimentos aos fãs: “Ele não ficava sozinho com fã, nunca!”

No inquérito, muitos nomes foram citados, principalmente, os de mulheres que foram relatadas como possíveis relacionamentos, entretanto, o MC mantinha um casamento com Erika Teixeira, com quem vivia há 5 anos. A ex-companheira não entrou como entrevistada no documentário por sensibilidade a sua posição, já que muito do que o artista fazia fora de cena, ela ficou sabendo apenas após a sua morte.

Em sua música “Para ser fiel”, Daleste relata: “Responde para mim: que homem nunca teve amante? Pode mentir para mim que eu não vou acreditar… Prefiro morrer negando do que assumir essa parada… uma aliança de ouro e nove alianças de prata”. 

tabuleiro

As peças ainda não se encaixaram por completo e o caso continua sendo uma longa partida de xadrez sem solução, mas a nova entrevista adquirida pela apuração do documentário pode virar este jogo

Um antigo policial militar, que não quis se identificar, trabalhou com o serviço de inteligência e confirmou que a relação do Daleste com os poderosos da comunidade era uma linha tênue, já que o consideravam petulante.  

Na época, pela complexidade do crime, a polícia determinou que foi uma ação premeditada e planejada, porém não encontrou pistas do atirador, que afirmaram ser alguém com habilidade de tiro à longa distância.

Tribunal do Crime” é um termo utilizado para reuniões por telefone que ocorrem no mundo ilegal, que tem como objetivo descobrir o que ocorreu de errado, qual a gravidade e qual será a pena decretada. As decisões são definitivas e vão de julgamento de roubo até brigas entre casais. 

A segunda peça chave que os jornalistas trazem para a investigação é outra testemunha, que confirma que houve uma ligação para determinar o futuro de Daniel e que ele estaria ameaçado. 

Na entrevista, a jornalista questiona o debate e a votação, mas a testemunha afirma “opinião você escuta, até conversa com alguns irmão, mas quem bate o martelo mesmo é só o comando”. Porém, na investigação, dois nomes se cruzam: Alex, vulgo Jota, que já tinha envolvimento com tráfico e o da sua ex-mulher Amanda, suspeita de ter um relacionamento com o Mc Daleste. 

“O que precisa para reabrir um crime? A cobrança da população? Um documentário como esse?”, questiona MC Pet, irmão da vítima. Mais uma pergunta se instaura: após 10 anos, o caso ainda pode ser solucionado?

——-

O artigo abaixo foi editado por Maria Cecília Dallal.

Gostou desse tipo de conteúdo? Confira Her Campus Cásper Líbero para mais!

Julia Bomfim

Casper Libero '25

Journalism student at Cásper Líbero. I find myself divided between my passion for the nerd/geek universe and my desire on registering every peculiarity and story I find.