Entre dialetos, sotaques e gírias, a língua portuguesa tem particularidades só dela. Idioma oficial de nove países, é difícil não reconhecer a sonoridade na voz de uma falante de português. Em São Paulo, existe um “cantinho” dedicado para todas as versões desse dialeto: o Museu da Língua Portuguesa. Agora, ele conta com uma novidade! Até 31 de dezembro, os finais de semana terão entrada gratuita para todos os visitantes. Mas você conhece a história por trás desse local tão emblemático?
Um prédio histórico no centro de São Paulo
O Museu da Língua Portuguesa está localizado na Estação da Luz, no centro de São Paulo. A escolha de colocar o espaço cultural no coração da cidade não foi à toa, já que a capital paulista abriga a maior quantidade de falantes de português no mundo. Além disso, o lugar em si também carrega seu simbolismo: o prédio na estação representa um local de circulação de migrantes, turistas e moradores que passam e deixam por lá seus idiomas e sotaques.
O edifício já existia décadas antes da criação do museu. Fundada em 1901, a Estação da Luz era conhecida por São Paulo Railway Station. Por lá, passavam imigrantes que chegavam do Porto de Santos, um dos principais complexos portuários da América Latina até hoje. Por algum tempo, onde hoje está fundado o Museu da Língua Portuguesa, funcionavam os escritórios da ferrovia.
O primeiro grande incêndio do prédio não foi o de 2015, que marcou a reconstrução do espaço que conhecemos hoje. Na verdade, em 1946, o edifício foi tomado por chamas pela primeira vez e precisou ser reconstruído em uma obra que acabou cinco anos depois, em 1951. Foi apenas no início dos anos 2000 que um projeto de museu começou a tomar forma.
O Museu da Língua Portuguesa foi um dos primeiros museus do mundo exclusivamente dedicado a um idioma. Quem o idealizou foi Ralph Appelbaum, autor do Museu do Holocausto em Washington. A inauguração do espaço aconteceu em março de 2006. No evento, estavam autoridades de todos os países lusófonos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o músico e então ministro da cultura, Gilberto Gil, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a ministra da cultura de Portugal na época, Isabel Pires.
Entre o ano de abertura e 2015, o espaço recebeu mais de 3,9 milhões de visitantes e abrigou 30 exposições temporárias, além do acervo permanente. Por lá, já passaram exposições em homenagem a ilustres autores da língua portuguesa, como Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Jorge Amado e muitos outros.
O incêndio de 2015
Quatro dias antes do Natal de 2015, em 21 de dezembro, o Museu da Língua Portuguesa foi consumido por chamas. A causa do acidente foi o curto-circuito de uma lâmpada no primeiro andar do prédio. Lá, estava uma exposição baseada em trabalhos de Câmara Cascudo, um historiador brasileiro. A mostra se chamava “O tempo e eu”. A maioria do acervo era digital, por isso conseguiu ser preservada.
Depois do ocorrido, o prédio passou seis anos em reforma. Em 2016, para manter viva a memória do museu, foram feitas exposições itinerantes no interior de São Paulo. A mostra “Estações da Língua” continuava promovendo interatividade e tecnologia a fim de explorar a língua portuguesa. Ela iniciou em março daquele ano em Araraquara e rodou diversas cidades do estado paulista.
A restauração do espaço foi feita a partir de uma aliança entre o setor público e privado. Ambos moveram fundos para que o museu voltasse à atividade. No final, a reforma custou cerca de R$ 85 milhões e foi finalizada em 2021, seis anos depois do acidente. Desde a reinauguração, o Museu da Língua Portuguesa segue em atividade. Em 2024, a entrada aos finais de semana passou a ser gratuita até 31 de dezembro. Durante a semana, os visitantes pagam R$ 24 (inteira) ou R$ 12 (meia).
Como criar uma exposição sobre a língua portuguesa?
A língua não é algo material, portanto, como fazer um museu inteiramente dedicado a ela? Os idealizadores do espaço pensaram nisso e encontraram como solução a criação de um acervo digital exposto de maneira dinâmica para os visitantes. Em uma mistura de tecnologia, arte e inovação, dezenas de espaços interativos estão espalhados pelo local. No último andar, há até um auditório usado para exibir filmes e poesias em português.
O museu é divido em três andares. O primeiro abriga as exposições temporárias, o Espaço Educativo Paulo Freire e uma parte da administração do prédio. No segundo e terceiro andar, estão o acervo fixo que mostra desde uma linha do tempo de como o português surgiu até um espaço que destaca a singularidade dos sotaques dos falantes da língua.
Atualmente, a exposição temporária é a chamada “Línguas africanas que fazem o Brasil” e conta com a curadoria do músico e filósofo Tiganá Santana. A mostra discute a importância dos idiomas africanos na formação da identidade cultural e linguística do povo brasileiro. Ela ficará em cartaz até janeiro de 2025.
Além disso, o museu também está promovendo a exposição itinerante “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”, sobre as línguas indígenas do Brasil. A mostra já passou pelo Rio de Janeiro, Belém e até Paris. No momento, ela está em São Luís, no Maranhão, e ficará por lá até o dia 22 de novembro deste ano.
O museu também promove atividades culturais diversas, desde yoga até jogos educativos. A programação é postada semanalmente no Instagram da instituição. No dia 7 de setembro, aconteceu até uma projeção na torre do relógio da Estação da Luz, que faz parte do edifício. A iniciativa foi fruto do projeto “Encontros Dissidentes: o museu e a rua como laboratório artístico da palavra”, uma parceria entre o Centro de Referência do Museu da Língua Portuguesa e o Coletivo Coletores.
Serviço
Horários: De terça-feira a domingo, das 9 horas às 16 horas (permanência permitida até 18 horas);
Localização: Estação da Luz – Centro Histórico de São Paulo;
Ingressos disponíveis pelo Sympla.
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O artigo acima foi editado por Beatriz Rocha.
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