A comunidade trans vem lutando por seus direitos e espaços na sociedade há tempos, porém, só nesses últimos anos que essas vozes começaram a ter palco. O que não significa o fim da discriminação, violência e perseguição, na verdade eles estão muito mais enraizados na sociedade do que pensamos.
Quando nos referimos ao relacionamento com mulheres trans, é de costume que vários questionamentos surjam, principalmente aqueles carregados de preconceito. Muitas vezes, o homem que se relaciona com uma mulher trans tem sua sexualidade deslegitimada e invalidada pelos outros, além do preconceito que o casal sofre.
No entanto, um homem se relacionar com uma mulher trans não faz dele homossexual, já que a performance de gênero pela qual o homem hétero se interessa é a performance do feminino. Não é a vagina que define a existência da mulher cis e nem a presença ou ausência de um pênis que definem a existência de uma mulher trans. Desta forma, a performance do feminino é própria de mulheres trans, travestis e mulheres cisnormativas.
Leonardo, pseudônimo do entrevistado que preferiu não se identificar, tem 20 anos e se identifica como heterossexual. Atualmente, está em um relacionamento de quase dois meses com Safira, uma mulher trans. Conheceu-a em um aplicativo de relacionamento chamado Grindr, que é voltado para comunidade gay, bi, trans e queer.
Questionado sobre os comentários que já ouviu, Leonardo conta que ainda não assumiu seu relacionamento para sua família e amigos e, por isso, não lidou com comentários de pessoas próximas a ele. Porém, os questionamentos são constantes vindo de pessoas que não são próximas, principalmente questões referentes à sua sexualidade, que muitas vezes é colocada em dúvida.
“Ah, tem. Então, tem bastante, né? Em questão de falar que eu sou homossexual por isso, questionarem se eu sou realmente hétero por conta de namorar uma menina trans. Então, ainda realmente tem bastante desse preconceito. É muita falta de conhecimento e também muita falta de querer realmente aprender sobre a causa e de querer conhecer também o que realmente é uma pessoa trans.”, comenta.
Apesar dessas situações, Leonardo conta que não entrou em questionamento sobre sua sexualidade, já que sempre foi bem resolvido com isso. “Então, eu e a Sa, a gente é bem forte, um sempre apoia o outro. É algo que acaba atrapalhando também, né? Algo que deixa principalmente ela triste. Julgamentos e tudo mais.”
Para ele, essa discriminação se deve ao fato das pessoas verem uma mulher trans ainda como homem, colocando um abismo de diferença entre uma mulher trans e uma mulher cis. Além disso, a intolerância e o desconhecimento que as pessoas têm acabam muitas vezes resultando em um comportamento hostil, levando uma necessidade de cuidado ainda maior pela suscetível possibilidade de agressão na rua.
“Da Safira para uma mulher cis não existe nenhuma diferença.”, afirma Leonardo. “A distinção é muito na questão do cuidado, já que com uma pessoa trans é necessário um maior cuidado ao sair na rua, um cuidado que envolve até mesmo as amizades. Hoje em dia tem muita gente ruim que gosta de bater, que gosta de prejudicar, tem muito preconceito hoje. O Brasil, a Safira que me levantou esses dados, é o país que mais mata pessoas trans. Então, a gente tem que ter todo um cuidado”, complementa.
Durante a entrevista, Leonardo enfatizou a falta de interesse e de conhecimento das pessoas sobre a comunidade trans. O que nos leva a refletir sobre como isso desemboca na homofobia e na transfobia, colocando em prova a orientação sexual de alguém e impedindo pessoas que se interessem umas pelas outras de se relacionarem livremente, sem serem alvo de preconceito, agressão e chacota.
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The article above was edited by Safira L.M.