Em termos gerais, bissexualidade é quando um indivíduo se sente atraído, de forma romântica ou/e sexual, por mais de um gênero, incluindo pessoas não binárias. No entanto é comum pessoas bisseuxais ouvirem que “são confusos”, “bissexuais estão em cima do muro, são indecisos”, “bissexuais têm medo de se assumirem como gays/lésbicas”, “bissexuais são promíscuos”.
A taxação e estereotipização de bissexuais como pessoas promíscuas, confusas e indecisas é uma forma de invalidar e inviabilizar a letra B da comunidade LGBTQ. Para Ana Laura Ferrari, estudante de jornalismo, é comum ouvir frases como “você curte um a 3″, “deve ser ruim namorar uma menina bi, dupla chance de ser traído”, “você deve ser super promíscua”. Todas essas frases, na verdade, são uma forma de reforçar estereótipos. Entretanto, a letra B existe e resiste.
A estudante de jornalismo se descobriu bissexual depois de muitos questionamentos e de ter seu sentimento visto como algo “impuro”, já que também gostava de meninos. Essa é uma história recorrente na vida de indivíduos bissexuais, pois, apesar da sigla oficial ter o B, ela é invisibilizada. “Eu fui numa festinha de uma amiga da minha irmã, quando eu tinha uns 15 anos, e aí uma amiga dessa amiga veio me perguntar se eu era hétero, porque uma menina na festa queria ficar comigo. Na hora eu fiquei meio assim e respondi não, mas depois comecei a me questionar. Comecei a lembrar de todas as vezes que senti atração por outras meninas e me senti ‘impura’, porque eu gostava de meninos também. Sabe quando a gente é pequena e não conhece essas possibilidades? Aí, questionamento vai, questionamento vem, comecei a normalizar isso para mim mesma”, conta Ana Laura.
O dia 28 de junho é reconhecido mundialmente como o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA e tem como objetivo conscientizar a população sobre o combate a LGBTfobia, a fim de uma sociedade mais livre e com diversidade. Mas, e quando a bifobia, termo utilizado para designar atos ou falas discriminatórias contra pessoas bissexuais, vem de dentro da própria comunidade LGBTQIA + ?
Ana Laura conta que quando se assumiu bissexual foi vítima de preconceito não só da sociedade como um todo, mas também da própria comunidade. “Ouvi falarem que eu era indecisa, que logo eu me assumia lésbica ou que era só farra, que eu não gostava de mulher de verdade. Bom, a gente é sempre excluído tanto do mundo hétero, quanto do homo”.
Um dos casos mais recentes de bifobia foi no Big Brother Brasil deste ano, quando houve o primeiro beijo entre homens, protagonizado pelo ator Lucas Penteado e o economista Gilberto Nogueira, na madrugada do dia 7 de fevereiro. Alguns participantes, entre eles LGBTs, acusaram o ator de estar usando sua orientação sexual como forma de estratégia de jogo. Na manhã seguinte, Lucas desistiu do programa, com uma única preocupação: como seria aceito por sua comunidade, se entre os próprios participantes LGBTs não houve essa aceitação?
No entanto Lucas não é o único. De acordo com um estudo realizado pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, publicado na revista científica Journal of Public Health, as mulheres são quem mais sofrem. Como consta no estudo, as mulheres bissexuais são mais vítimas de problemas de saúde mental do que as mulheres lésbicas. O estudo ainda mostrou que as bissexuais são mais marginalizadas, inclusive na comunidade LGBTI+. De acordo com a pesquisa, as bissexuais têm 64% mais chance de enfrentar distúrbios alimentares do que as lésbicas; 37% a mais de chance de praticarem automutilação; e são 26% mais propensas a sofrer com quadros de depressão. Segundo o pesquisador Ford Hickson, “as pessoas bissexuais têm um risco particular de sofrer invisibilidade e serem marginalizadas nas comunidades gays e lésbicas, assim como no resto da sociedade”.
A pesquisa ainda identificou que mulheres bissexuais são menos dispostas a contar sobre sua orientação sexual a familiares e amigos. Hickson alerta que “apesar de as mulheres bissexuais de nosso estudo terem sofrido menos discriminação de gênero do que as lésbicas, isto não significou um benefício para sua saúde mental”.
O estudo se baseia na análise de dados obtidos em 2007 a partir de testemunhos de 5.706 mulheres bissexuais e lésbicas com mais de 14 anos que residem no Reino Unido. Porém a pesquisa serve de parâmetro para o Brasil.
Já um outro estudo feito nos Estados Unidos, o BiNetUSA, Bisexual Resource Center e Movement Advancement Project (MAP), divulgou que pessoas bissexuais têm até seis vezes mais chance de esconder sua orientação sexual em relação a gays e lésbicas. Segundo o levantamento, somente 28% dos bissexuais afirmaram que as pessoas mais próximas sabiam sobre sua orientação sexual. Isso em comparação com 77% para gays e 71% para lésbicas.
O B de LGBTQAI+ é de bissexual. Os bissexuais não são confusos, não são indecisos e não são promíscuos. Eles existem e lutam diariamente contra a bifobia dentro da própria comunidade que deveria os acolher.
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O artigo acima foi editado por Helena Figueroa.
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