Uma pesquisa do Trust Barometer da Eldeman verificou que com a pandemia do novo coronavírus os veículos tradicionais de imprensa tiveram um crescimento de credibilidade. Os dados foram apurados nos dias 6 e 10 de março em entrevistas na África do Sul, Canadá, Estados Unidos, Brasil, França, Itália, Japão, Alemanha, Coréia do Sul e Reino Unido. Cerca de 64% dos entrevistados declararam considerar o trabalho da grande imprensa a fonte de informação mais confiável no contexto atual e 74% se disseram preocupados com a disseminação de notícias falsas.
De acordo com Maria Elisabete Antonioli, pós doutora em comunicação pela USP e coordenadora de jornalismo na ESPM-SP, devido à Covid-19 o jornalismo está recebendo um maior reconhecimento: “a sociedade passou a valorizar mais a profissão, que tem desempenhado um papel relevante ao levar a população diversas informações, quer sejam orientações para prevenção, entrevistas com especialistas e dados sobre a evolução do coronavírus. Então, consequentemente a audiência da população cresce e esse fato é muito bom para todos”.
No Brasil, segundo o Datafolha, 61% buscam notícias para se informar em programas jornalísticos de emissoras e 56% em jornais impressos. Enquanto isso, o Facebook e WhatsApp tem uma confiança de 12%.
“Há inegável credibilidade dos cibermeios jornalísticos de referência. Isso se traduz na estrutura que esses jornais têm para produzir e distribuir informação jornalística”, afirma Gerson Martins, coordenador de pesquisa em ciberjornalismo na UFMS.
O psicólogo e filósofo com pós-doutorado em Ciberjonalismo pela Universidade Autônoma de Barcelona, também ressalta que as “Fake News” contribuíram para isso “A avalanche de notícias falsas determinou a busca de credibilidade e, portanto, o ceticismo em relação às informações veiculadas nas mídias sociais”.
A Associação Nacional de Jornais registrou um aumento no público dos jornais e sites de 40% durante a crise do novo coronavírus. O resultado da pesquisa do Kantar Ibope seguiu na mesma linha, mostrando que o tempo médio que o brasileiro gasta assistindo televisão chega a ser nesse momento de quase 8 horas, houve um crescimento de 1 hora e 20 minutos em comparação com os dados de antes da pandemia.
No entanto, proporcionalmente ao crescimento de público dos veículos de comunicação tradicionais ocorre a ampliação dos desafios para o jornalismo, entre eles o risco à saúde. “Os jornalistas, entre outros profissionais, estão mais vulneráveis ao coronavírus, principalmente os repórteres que não conseguem fazer o distanciamento físico no exercício da profissão. É importante que as empresas ofereçam as melhores condições de trabalho”, explica Maria Elisabete.
Outro problema que afeta a imprensa nesse período, em especial os veículos menores, é a perda de anunciantes, causada pela crise econômica, uma das consequências da Covid-19. Muitos jornalistas, mesmo com a maior demanda de trabalho, têm sofrido com cortes salariais e demissões. Maria Elisabete reconhece a gravidade do problema “Não é possível desconsiderar os problemas financeiros, esse é um momento de muitas incertezas, precisamos ter cautela”.
Todavia, Gerson Martins avalia que empresas compreenderam o papel importante em anunciar de forma social “Não se vende mais feijão, arroz, roupas, vende-se nos anúncios responsabilidade social, cooperação, saúde, ou seja, neste momento a publicidade é uma publicidade com alto cunho social”.
Além disso, apesar da mídia estar tendo um maior reconhecimento, ainda há uma porção de pessoas que hostiliza a profissão. “Nos últimos anos intensificaram ataques a imprensa, seja por autoridades, seja por cidadãos. Com a pandemia essa situação não mudou. Agora, pelo menos, como pode ser constatado por meio de pesquisas, uma grande parte da população respeita e acredita no jornalismo ”
Mesmo assim, em um futuro, pós pandemia a entrevistada acredita que o saldo será positivo para a profissão “Os altos níveis de audiência fortalecem o jornalismo, que tem demonstrado o tempo todo a sua relevância junto à sociedade, e que como sempre está a serviço do interesse público”.
Gerson Martins concorda que a crise do coronavírus pode abrir espaço para uma maior valorização e reafirmação da importância do campo. “A mídia em geral não pode perder a oportunidade de prestar um serviço relevante para a sociedade nesse contexto. E ainda completou “Considero a atividade jornalística como imprescindível no contexto social e fundamental na preservação da democracia”.
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The article above was edited by Vivian Souza.
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