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Culture

“O país é de todos”: o uso da bandeira brasileira na Parada LGBTQ+ 2024

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

No dia 2 de junho, aconteceu a Parada LGBT+ 2024 em São Paulo, dando abertura ao mês do orgulho. Sendo a maior parada do mundo, a 28a edição do evento foi marcada por uma movimentação muito importante: o resgate da bandeira brasileira como um ícone da população de forma geral, e não exclusivo a um único grupo de pessoas.

‘SENTIMENTO DE UNIÃO NACIONAL’

O movimento começou depois dos shows da Madonna, que tomaram a orla de Copacabana no final de maio. No caso, a cantora e drag queen Pabllo Vittar fez sua participação no evento utilizando a camisa brasileira como figurino. A escolha chamou atenção pois, desde 2018, a camisa foi tomada como símbolo de apoio pelos eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro – que, além de outras questões, já fez comentários homofóbicos publicamente.

A camisa verde e amarela passou a ser vista como uma figura clássica de apoio à extrema-direita, e é exatamente essa ideia que os apoiadores do evento procuraram combater. “Foram anos de um pseudopatriotismo e nacionalismo que sempre vão tentar pregar a exclusão. Por isso, vamos chamar a população LGBT+ para levar a bandeira para a rua e restabelecer o sentimento de união nacional”, disse Nelson Matias, presidente da ParadaSP, em entrevista a CartaCapital.

MANIFESTAÇÕES E SÍMBOLOS POLÍTICOS

Os protestos de 2013 marcaram um ponto de virada na história recente do Brasil. Inicialmente desencadeados por um aumento nas tarifas de transporte público, as manifestações rapidamente cresceram, abrangendo uma variedade de causas, como corrupção e melhorias nos serviços públicos. Durante esses eventos, a bandeira nacional e a camisa verde e amarela foram amplamente usadas pelos manifestantes, simbolizando a luta por um Brasil melhor e mais justo.

No entanto, com o tempo, grupos com diferentes agendas políticas começaram a se apropriar desses símbolos. Movimentos de direita e extrema-direita viram nas cores nacionais uma oportunidade de afirmar suas posições, distanciando-se dos partidos de esquerda que dominavam a política brasileira na época. Assim, a camisa verde e amarela começou a ser associada a uma postura mais conservadora e crítica ao governo vigente.

O ápice dessa transformação ocorreu durante as eleições de 2018. Jair Bolsonaro, candidato da extrema direita, fez uso massivo das cores nacionais em sua campanha. Seus apoiadores adotaram a camisa verde e amarela como um uniforme informal, presente em comícios, manifestações e nas redes sociais. Este uso constante reforçou a associação entre o símbolo nacional e a candidatura de Bolsonaro, que se apresentava como uma alternativa ao establishment (grupo social dominante) político e ao Partido dos Trabalhadores (PT).

A vitória de Bolsonaro consolidou essa relação. A camisa verde e amarela, outrora um símbolo de orgulho nacional, passou a representar uma identidade política específica. A polarização do cenário político brasileiro intensificou essa associação, com muitos eleitores de esquerda evitando o uso das cores nacionais em contextos públicos, enquanto os apoiadores de Bolsonaro as exibiam com fervor.

ALÉM DO PATRIOTISMO

Hoje, a camisa verde e amarela carrega um significado que vai além do patriotismo. Ela é vista como um marcador de posição política, especialmente em um contexto onde a polarização continua a crescer. Eventos públicos, como manifestações e celebrações esportivas, tornaram-se arenas de disputa simbólica, onde a escolha de vestir ou não a camisa verde e amarela pode ser interpretada como uma declaração política. E foi justamente essa realidade que a Parada 2024 buscou combater.

A bandeira é nossa“, entoavam os cerca de 73 mil participantes no início da caminhada, por volta das 13h30. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, marcou presença no evento e, em seu discurso, enfatizou que “a Parada LGBT é um momento para ressaltar e realçar a unidade nacional, onde todos os brasileiros e brasileiras devem ser respeitados”. Ele foi acompanhado pela secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat.

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O artigo acima foi editado por Larissa Gabriel.

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Clarissa Palácio

Casper Libero '25

Paulistana nata, feminista, leonina e apaixonada por rosas, sou fotógrafa formada e escrevo desde os 7 anos de idade. Comecei com poesia, histórias de fantasia, depois música e, aos 13, descobri o jornalismo – aí não teve jeito, foi paixão à primeira vista. Já passei pelo Estadão, Uol, Repórter Brasil e, atualmente, Forbes. Quero poder escrever sobre tudo e deixar o mundo um pouquinho melhor para quem vem - e já está - por aí!