O Palmeiras tem mundial?
Essa fatídica pergunta sempre traz à tona debates infindáveis sobre o assunto. Para uns, esse título ainda falta na história alviverde. Já para outros, não só tem, como é o primeiro da história. No meio de tantas polêmicas, uma coisa é fato: é inegável o valor gigantesco que o título de 51 teve na história do futebol.
Entendendo melhor o contexto histórico
Para entender melhor o que foi esse torneio, também chamado de Copa Rio, é necessário contextualizar o momento do país e do mundo, ressaltando a importância do evento não só para o clube, mas para o futebol brasileiro.
Aquele era um momento pós-guerra em que os alemães, semi destruídos, desistiram de se candidatar para serem o país sede da Copa. Com isso, o Brasil ganhou permissão e sediou o evento em 1950. O evento tinha um clima de união para superar o trauma da Segunda Guerra Mundial, visando trazer alegria para torcedores do mundo todo.
Para o Brasil, foi uma Copa inesquecível. Mas não do jeito que queríamos. A derrota na final para o Uruguai diante de milhares de pessoas foi frustrante. O Maracanã, construído como grande palco para o evento, ficou calado. A derrota, embalada com um silêncio ensurdecedor, entrava para a história como um fantasma terrível: o “Maracanazzo”.
Era nítido que as dolorosas marcas da derrota não seriam esquecidas tão cedo. O “complexo de vira-lata”, termo citado pelo escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, tomou conta dos torcedores brasileiros, que precisavam de um novo motivo para voltar a sorrir. E esse motivo veio no ano seguinte, em 1951. Veio com tudo, esbanjando garra e força de vontade. Mais do que isso, veio com nome: Palmeiras.
Com o sucesso da Copa do Mundo de 1950, o Torneio Internacional de Clubes Campeões de 1951 reuniu os principais campeões nacionais da Europa e da América do Sul. Na época, o Brasil não tinha um campeonato nacional, então o estadual foi o critério de escolha. Palmeiras e Vasco, vencedores dos campeonatos paulista e carioca, respectivamente, foram as equipes selecionadas.
A competição e atuação do alviverde
O torneio, que ocorreu entre 30 de junho e 22 de julho, funcionou da seguinte maneira: oito equipes, divididas em dois grupos de quatro, se enfrentaram entre si. Os dois primeiros de cada grupo se classificaram para a semifinal (ida e volta). O primeiro de uma chave, pegou o segundo da outra, e o vencedor garantiu vaga na final (também decidida em dois jogos).
No Grupo Carioca, Vasco e Áustria Viena se classificaram para a semifinal depois de eliminarem Nacional-URU e Sporting. Já no Grupo Paulista, Juventus e Palmeiras foram os classificados, após eliminarem Estrela Vermelha e Nice. Na semifinal, o Palmeiras ganhou o primeiro jogo por 2 a 1 do Vasco, que era um dos favoritos ao título. Já no segundo jogo, o resultado foi um empate em 0 a 0. Já do outro lado, Juventus e Áustria Viena empatam o primeiro jogo em 3 a 3, e na volta a equipe italiana se classifica para a final com uma vitória por 3 a 1.
Na fase de grupos, o Palmeiras levou uma goleada por 4 a 0 da Juventus. E agora, estava prestes a enfrentá-la na final. Após o balde de água fria na primeira fase, como o alviverde chegaria para o último duelo?
Além disso, a cabeça dos torcedores brasileiros sofria um “flashback”. Depois da a eliminação do Vasco, o Palmeiras era o único representante brasileiro na competição. E o palco da decisão mundial? O Maracanã. Brasileiros, estádio carioca, final mundial… só se lembrava da tristeza sofrida na Copa do Mundo. E agora? Seria insuportável a dor de perder mais um título, relembrando 1950. Isso não podia acontecer novamente. Como ficaria a história do futebol brasileiro?
Mas dessa vez foi diferente. Agora, os jogadores brasileiros vestiam verde e ostentavam no peito, juntamente a bandeira do Brasil, um escudo com a letra “P”. P de paixão, P de persistência, P de Palmeiras. Era a nossa chance de elevarmos o Brasil para o lugar mais alto do pódio pela primeira vez.
No primeiro jogo, o apoio da torcida foi fundamental para a equipe alviverde, que com o gol de Rodrigues, venceu por 1 a 0.
E finalmente chegou o grande dia. 22 de julho de 1951. No domingo, a euforia transbordava no Rio de Janeiro. No Maracanã, os torcedores não gritavam apenas pelo Palmeiras, gritavam pelo Brasil. “Quando surge o Alviverde Imponente, no gramado em que a luta o aguarda”. E surgiu. Surgiu carregando a bandeira brasileira, relembrando o fim do Palestra Itália e o início do Palmeiras, time nacional brasileiro.
O Alviverde perdia por 2 a 1 até os 30 minutos do segundo tempo, e foi aí que Liminha trouxe novamente a esperança palmeirense, empatando o jogo em 2 a 2 e garantindo o título. Nos gritos da torcida, o som do apito final tocou e o futebol brasileiro ganhou um final feliz em sua história. Palmeiras, campeão mundial de 51!
Não eram apenas os palmeirenses que celebravam. Era o Brasil todo. O país parou para comemorar o título. A vitória era a manchete de todos os jornais: “Palmeiras, campeão do mundo!”. Quando chegaram à capital paulista, os jogadores foram recebidos por uma multidão que acompanharam os campeões até o Palestra Itália.
Afinal, o Palmeiras tem ou não mundial?
Alerta de opinião polêmica e impopular: tem sim!
A FIFA diz isso em sua matéria Superheroes in green. Como podemos desconsiderar um título que foi tão importante não só para o clube, mas para o país? A Copa Rio de 1951 foi o mundial da época e o Palmeiras foi o primeiro campeão.
É claro que não é o mesmo mundial disputado agora, nos anos 2000. Se levarmos em consideração apenas o modelo atual, é um título que ainda falta para o alviverde. Não podemos dizer que o Palmeiras tem um Mundial de Clubes FIFA, porque não é o mesmo torneio. Na época, a FIFA aprovou a Copa Rio, mas não a administrou como faz atualmente. Porém, não podemos esquecer que o futebol tem uma história gigantesca e passou por muitas mudanças.
Não é fácil se basear somente no que a FIFA diz ou deixa de dizer, visto que a própria federação já considerou e desconsiderou muitas vezes esse campeonato e outros antes dos anos 2000. Ao longo dos anos, a FIFA deixou no esquecimento as competições intercontinentais. Foi o Palmeiras que preparou um dossiê visando resgatar a importância do torneio. É uma parte histórica da entidade que não pode ser esquecida ou ignorada.
Sabemos que as brincadeiras e as polêmicas não vão acabar, independentemente do que a FIFA falar. Muitas vezes, a própria federação alimenta essa discussão, com sua mudança de posicionamento. Mas uma coisa é fato, tendo seu título reconhecido ou não, o Palmeiras continua sendo gigante. Tem o primeiro título mundial, e representando não só o alviverde, mas o Brasil todo. Feito esse que ninguém terá igual. Enquanto os rivais choram por um título antigo, o Palmeiras segue empilhando taças e mais taças. Avanti Palestra!
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O texto acima foi editado por Izabella Giannola.
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