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Culture

“Ovelha Negra”: A trajetória de contestações políticas e sociais de Rita Lee

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This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

No dia 08 de maio (segunda-feira), o mundo se despediu de uma das maiores cantoras e compositoras brasileiras. Rita Lee faleceu aos 75 anos e lutava contra um câncer de pulmão, diagnosticado em 2021.

Considerada a Rainha do Rock no Brasil, Rita foi uma das artistas mais influentes do gênero por suas criações e pela sua versatilidade musical. Além de seu talento, uma das marcas principais da cantora foi sua opinião forte. Para muitos, Rita era rebelde – rótulo que inspirou um de seus maiores sucessos, “Ovelha Negra”. Assim, durante toda a vida, a cantora usou sua voz para protestar incisivamente sobre temas sociais e políticos.

Ditadura Militar: a luta pela Liberdade

A carreira de Rita teve início na década de 1960, com a entrada no grupo Os Mutantes, ao lado de Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. O grupo se consolidou como uma das facetas mais notórias do movimento de contracultura no Brasil, às margens da difusão latente da cultura hippie. Dessa forma, atuaram na contestação do conservadorismo vigente na época da ditadura militar no país.

Em 1968, fizeram parte do emblemático disco da música popular brasileira, o Tropicália ou Panis et Circenses, ao lado de vozes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Tom Zé. Na faixa “Panis et Circenses”, o grupo critica a alienação de parte da sociedade.

Eu quis cantar/ Minha canção iluminada de sol/ Soltei os panos/ Sobre os mastros no ar/ Soltei os tigres/ E leões nos quintais/ Mas as pessoas da sala de jantar/São ocupadas em nascer e morrer.

Mesmo após sua saída do grupo Os Mutantes, em 1972, Rita Lee ainda manteve suas convicções e postura política. A cantora foi uma das mais afetadas pela censura da ditadura, com dezenas de músicas e até um álbum inteiro – o Bombom – proibidos pelo crivo militar. Suas músicas eram consideradas “contrárias à moral e aos bons costumes”. Uma das faixas que recebeu intervenção foi “Arrombou o Cofre” – que além de ter críticas a políticos, possuía o que foi considerado pelos censores como “incitação à rebelião”. 

Oh, oh, Brasil/ Quem te vê e quem te viu/ Pra frente, pra frente que até caiu/ Chega desse nhém, nhém, nhém/Bye bye Brazil’s vintém/ Moratória é a moral da história […] Cabeças vão rolar, que tal a gente apostar?/ Incêndio, incêndio, incêndio!/ Pegou fogo o berço esplêndido!

Trechos de “Arrombou o Cofre”.

“Gente Fina” também é um exemplo de música que não foi liberada pelos censores e nunca foi lançada oficialmente. Eles afirmavam que tal canção tinha um caráter disruptivo aos jovens, na medida que continha princípios de revolta e críticas mordazes aos costumes.

Além disso, Rita foi presa em 1976. A cantora, que foi acusada e condenada por porte ilegal de maconha, alegou que, por estar grávida de seu primeiro filho com Roberto de Carvalho, o Beto Lee, não estava fazendo o uso de drogas. Segundo ela, as provas foram plantadas pela polícia em sua residência, para que ela servisse como exemplo ao movimento hippie – que contestava os valores propostos pelos militares e estavam sob vigia do sistema. 

Em seu primeiro show após ser liberada da prisão, Rita apareceu vestindo trajes que remetiam aos de prisioneiros. Tal ato foi considerado uma declaração pública e política da artista. 

A Causa Animal 

Rita Lee afirmava que a causa animal era parte dela desde sempre e era adepta ao vegetarianismo. Dentre gatos, cachorros e pássaros, a cantora já foi tutora de inúmeros animais – até mesmo de uma jaguatirica, que ela roubou de uma loja por reconhecer que o animal vivia em situação de maus-tratos. 

Nos anos 1980 e 90, a série Dr. Alex, lançada por Rita, foi um verdadeiro sucesso – tanto que foi relançada em 2019. Os livros contam a história do Dr. Alex, que se transforma em um ratinho para defender os animais e a flora.

Uma vez, adotei um ratinho lindo. Papo vai, papo vem, ele me contou toda a sua história. E me disse que já havia sido gente! E mais: que se transformou em um rato para defender os bichos e a natureza. Gostei tanto que vou contar para vocês as aventuras de Alex.

Revelo Rita Lee, sobre a série “Dr. Alex”.

Também em 2019, Rita lançou um outro livro infantil – que aborda os direitos dos animais. Amiga Ursa foi baseado na história real de Rowena, a “ursa mais triste do mundo”. 

Ela foi trazida da Rússia para ser atração de circos brasileiros e sofreu com as temperaturas da região de Teresina, além de maus tratos e exaustão. Lee chegou a visitar Rowena no Santuário para o qual ela foi levada após seu resgate. 

Seu ativismo na causa animal não se limitou à escrita. Em 2005, a cantora produziu, em colaboração com Chico César, a música “Odeio Rodeio”. A canção foi lançada na mesma época em que a novela América, de Glória Perez. A trama, por sua vez, incluía rodeios e Rita Lee se manteve crítica à prática e à sua midiatização. 

Pauta Feminina 

Rita foi um exemplo de mulher que defendia o que acreditava e era o que queria ser. Era mulher em um núcleo majoritariamente masculino.

‘Para fazer rock’n’roll tem que ter culhão!’ Eu ouvia isso o tempo todo. Mas, acontece que o rock também tem ovários e útero! (…) Eu, sendo mulher, e desacatando a autoridade masculina, para mim, era o máximo.

Relatou a cantora em um trecho de Biograffiti, lançado em 2007.

Suas músicas defendiam o poder de ser mulher e a liberdade sexual feminina. Em uma época conservadora, Rita era vista como “outsider”. Lançou músicas como “Lança Perfume”, “Banho de espuma” e “Amor e Sexo” – que abordavam temáticas consideradas tabus para as mulheres.

Vivi intensamente a minha época sem pensar que futuramente seria considerada revolucionária. Acho que abri, sim, estradas, ruas e avenidas. E vejo que hoje as garotas desfilam por elas, o que me faz sentir um certo orgulho. Ser pioneira teve um preço, mas também fez escola. Naquele tempo eu não tinha distanciamento histórico para me perceber como feminista, libertária, quebradora de tabus.

Declarou Rita em entrevista ao portal Hysteria. 

Rita deixou sua marca a partir de sua carreira musical e de seus ideais. Nunca deixou de defender o que acreditava. Por isso, foi Rita Lee ao extremo! 

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O artigo acima foi editado por Fernanda Alves.

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Isabela Munhoz da Luz

Casper Libero '25

A journalism student, who loves writing and telling stories. I also believe that we can change the world with words and information :)