Com a pandemia e, consequentemente, com o isolamento social, o tempo livre e as limitadas possibilidades de se manter ocupado requereu das pessoas criatividade para o desenvolvimento de novas atividades e hobbies. Desta forma, surgiram em diversas redes sociais, principalmente TikTok e Twitter, vários novos artistas que começaram a se aventurar no ramo. E para quem está começando agora, os desafios são diversos.
- Conheça a artista
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Pepper (@pepper.arte) é o nome artístico da ilustradora de 34 anos com quem conversamos sobre o processo de criação. Ela conta que desde sempre desenha, mas começou profissionalmente aos 23 anos de idade, apesar de já ter feito alguns trabalhos antes.
- Como desenvolver um estilo próprio e qual é a sua importância?
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Quando falamos do processo de criação, a artista comenta que seu desenvolvimento começa com um quadro de inspiração, o que é, basicamente, um conjunto de referências visuais que ela acredita combinarem entre si, gerando uma ideia interessante. No que se refere a trabalhos comerciais, o quadro é montado a partir do briefing com o cliente, mas ao se tratar de trabalhos pessoais, o processo acontece de forma mais solta e instintiva.
Além disso, durante a criação, o desenvolvimento da técnica e do seu próprio traço se tornam fundamentais, ter o próprio traço é uma demanda que varia de acordo com o lugar e o tipo de trabalho no qual o artista deseja atuar. “No Brasil, por muito tempo, se exigia de um ilustrador a capacidade de desenhar em estilos preestabelecidos pelo cliente. Hoje, o cenário é um pouco diferente e mais favorável àqueles que querem desenvolver um trabalho autoral”, conta Pepper.
No trabalho autoral, é fundamental que o artista passe a ser reconhecido pelo seu estilo. “Reconhecimento é, muitas vezes, sinônimo de melhores remunerações”, afirma a artista. Para ela, construir um estilo é um fator tão importante para o artista, quanto construir uma marca é para uma empresa. Com o tempo, esse artista começa a ser procurado especificamente por suas qualidades e não como um faz tudo.
Desenvolver o próprio estilo é um longo caminho de autoconhecimento, que envolve uma mistura de gostos pessoais com influências artísticas. “Sempre digo para os meus alunos que, antes de desenvolver um traço, é necessário estudar todos os fundamentos, pois o estilo nada mais é do que as regras que você escolhe quebrar”, comenta Pepper. É justamente nesse conhecimento técnico e pessoal que reside a diferença entre desenhar errado e ter seu estilo. Em resumo, o processo ideal é estudar os fundamentos, experimentar suas influências e conhecer seus próprios gostos.
- Bloqueio criativo x Fuga da zona de conforto
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Como professora, Pepper desenvolve com seus alunos a capacidade de observação e reprodução, os fundamentos e técnicas artísticas e, ao chegarem a um determinado ponto de maturidade, iniciam a exploração dos seus gostos artísticos e a experimentação com maior liberdade. Para isso, ela trabalha com dois processos criativos: o instintivo e o metodológico. O instintivo é mais livre, mas também está sujeito a bloqueios, por isso são ensinadas algumas técnicas aos alunos.
O bloqueio criativo é muito comum durante as produções, porém, nesses momentos o ideal é não forçar. “Eu acredito em dois tipos de bloqueio. O emocional/psicológico, que exige uma pausa, um descanso por parte do artista, e o bloqueio por falta de repertório técnico ou de inspiração. Para esse segundo caso, meu conselho é deixar as criações de lado um pouco e focar em estudos de técnica e observação, bem como consumir outras formas de arte, como músicas, séries, filmes, etc”, conta Pepper.
No entanto, as dificuldades não param por aí. Para a artista, um dos maiores desafios durante o processo de técnica e criação é se permitir sair da zona de conforto e ter humildade para continuar aprendendo. “Estou nessa área há muitos anos e vejo, todos os dias, que tenho um mundo à frente de coisas que não sei e preciso aprender. Às vezes, a ansiedade e o orgulho travam o artista em um ponto em que ele se acha bom o suficiente e ele acaba desperdiçando um tempo que poderia ser investido em evolução”, conclui.
Já como profissão, o maior desafio tem sido a desvalorização da arte. Em uma sociedade que enxerga a arte apenas como um quadro a ser exibido em uma sala ou em um museu, ela não reconhece que a arte permeia em todas as esferas sociais e nas vidas dos indivíduos. E, justamente por isso, o trabalho acaba sendo desvalorizado.
Porém, em um mundo cada vez mais imagético e visual, o artista tem ganhado mais espaço, tendo a internet como seu palco de inspiração e de divulgação. Com séries em alta, jogos de vídeo game, quadrinhos ou animações de sucessos, as pessoas buscam aquilo que gostam para consumir e se inspirar. Promovendo uma grande oportunidade para artistas e ilustradores.
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O artigo acima foi editado por Vivian Cerri.
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