Em 23 de junho de 2021, a marca de fast-food, Burger King, lançou a campanha “Como explicar?”, em prol do mês do orgulho LGBTQIA+. A campanha começa com a frase: “Não sabe como explicar LGBTQIA+ para crianças?” e, logo em seguida, apresenta crianças, que expressam o seu entendimento sobre a comunidade. As opiniões dos pequenos chamam a atenção porque mostram que, desde cedo, as crianças conhecem a diversidade das identidades de gênero, convivem em famílias homoafetivas, ou aprendem sobre elas.
Entretanto, o lançamento da campanha publicitária gerou grande repercussão, e a marca passou a receber diversos comentários negativos, que incluem questões como, a sexualização das crianças — como se a intenção do Burger King fosse influenciar a orientação sexual delas, ou impor identidades de gênero a elas.
É evidente que a sociedade em que vivemos foi moldada em um sistema patriarcal. Acredito que a questão religiosa também apresente grande influência na formação desse sistema, uma vez que a Igreja Católica rejeita qualquer casamento que esteja fora da heteronormatividade. A partir disso, os indivíduos acabaram se moldando nesse viés, renunciando qualquer outra forma de união afetiva.
Nesse contexto, é possível relacionar esses fatores ao desenvolvimento das crianças, observando detalhes que durante a infância, apenas concretizam e colaboram com o sistema conservador da sociedade. Por exemplo, os desenhos infantis que contam as histórias dos contos de fadas, que mais uma vez, retratam apenas casais heteronormativos. Além dos brinquedos infantis, que também seguem a mesma problemática, pois são sempre divididos nas lojas por departamentos, de acordo com os gêneros padronizados.
Os questionamentos negativos advindos dos pais e responsáveis, que perguntam como poderia ser normal explicar esse assunto para as crianças, apenas mostra que o problema não são elas. Ensinar às crianças sobre pessoas LGBTQIA+ é extremamente necessário, não é sobre influenciar a orientação ou impor uma identidade de gênero a elas, mas sim, explicar que assim como elas, todos e todas, são livres para ser quem são e amar quem quiserem, independente dos padrões impostos pela sociedade. Dessa forma, elas crescerão com mais força e segurança para expressar seus pensamentos.
Em minha concepção, o Burger King não teve a intenção de sexualizar ou objetificar as crianças apresentadas no vídeo. E na realidade, é extremamente importante que marcas tão grandes, assim como o BK, coloquem essa temática em pauta, afinal, a comunicação gerada por elas, além do consumo, alcança grande parte do público. Espero que outras marcas e empresas também passem a impulsionar e fortalecer questões tão importantes dentro de suas campanhas, assim como essa.