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Skins UK: o limite entre a representação e a romantização

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

A frequente produção de séries sobre dramas adolescentes tem se mostrado rentável e popular entre o público atualmente – como observado com o lançamento e a renovação de Euphoria. No entanto, muito antes dessas produções virem ao ar, um dos seriados pioneiros na retratação dos dilemas enfrentados pelos jovens foi Skins UK. Ausente de censura ou pudor, a trama abordava temáticas relevantes para o debate social, como transtornos psicológicos, problemas familiares e uso indiscriminado de drogas lícitas e ilícitas, além de questões de gênero e sexualidade.

Contudo, a perda do limite entre a representação e a romantização fez com que Skins migrasse para uma atmosfera mais sombria, deixando de alertar o público sobre os perigos de situações extremas e passando a incentivar não somente uma legião inteira de fãs, mas também o próprio elenco, a práticas que arriscariam suas vidas, assim como afirmado por April Pearson, uma das ex-integrantes do elenco de Skins.

Um pouquinho de história

Skins é um seriado televisivo lançado em 2007, possuindo 7 temporadas e classificação etária de 18 anos. Idealizado e produzido por Bryan Elsley e Jamie Brittain, a história é ambientada na cidade de Bristol, na Inglaterra, e narra os dramas vividos por adolescentes nos dois últimos anos do ensino médio.

Contando com uma renovação do elenco há cada duas temporadas, o projeto iniciou apenas como um seriado besteirol que retratava a adolescência sem limites como algo engraçado. Porém, esse caráter cômico perdeu-se com o passar do tempo, após o enredo começar a tratar do uso de drogas lícitas e ilícitas, conteúdo sexual explícito e violência como algo normal, explorando assim os jovens atores e causando um sentimento de insatisfação por parte do público por não viver situações semelhantes.

A verdade sensível que não é evitada

Como dito previamente, a relativização – ou até mesmo preconceito- acerca de algumas temáticas que permeiam a sociedade contribui para a marginalização de assuntos que deveriam ser debatidos tanto nas esferas públicas, quanto no ambiente familiar. Assim, Skins e a sua crueza arrebatadora trazem à tona as dores, à exemplo da dor provocada pela descoberta de um câncer terminal e, consequentemente, o peso do luto, do afastamento familiar em função de conflitos, e do uso excessivo de drogas e entorpecentes pode levar a um vício incurável.

Dentre uma das discussões sensíveis que marcam a série, é possível citar o processo de recuperação do personagem Tony (Nicholas Hoult), o qual precisa buscar apoio psicológico devido à depressão desencadeada por um acidente – responsável por fazê-lo perder a coordenação motora. Por meio do desenvolvimento emocional do personagem que iniciou a trama como frio e arrogante, o enredo tece uma narrativa pautada na resiliência e superação do ego para aceitar a ajuda de amigos, familiares e profissionais no tratamento de enfermidades psicológicas.

Assim, o incentivo à realização de sessões terapêuticas para a compreensão dos distúrbios que nos cercam, como a depressão e a ansiedade, mostrou-se como uma das quebras de estigmas por parte da série, aproximando o público destas situações e fazendo-o sentir-se acolhido e compreendido.

Além disso, outras temáticas levantadas são as dificuldades enfrentadas nos relacionamentos interpessoais e a alteridade, como o dilema vivido pelo personagem Anwar Kaharral (Devi Patel), visto que este encontra-se dividido entre manter a sua amizade com Maxxie (Mitch Hewer), o qual é homossexual, ou seguir os ensinamentos de sua religião – que não reconhece a homossexualidade. Ao longo dos episódios, a questão da empatia é trabalhada através desta linda amizade que nos mostra que todos apresentam o direito inalienável de existência, sem que ninguém renuncie de seus princípios e liberdade para viver em sociedade.

Da denúncia ao incentivo

Como tratado previamente, o objetivo inicial da obra era a abordagem de assuntos sensíveis sem censura, porém os exageros cometidos na história pelos diretores e produtores conduziu a série para uma sequência de episódios sem o encadeamento das narrativas, contando apenas com a representação de festas e o consumo desenfreado de entorpecentes.

A ausência de limites para o desenvolvimento da trama foi responsável por trazer inúmeros danos físicos e psicológicos para os artistas – geralmente na faixa de 14 a 17 anos – que trabalhavam em Skins, assim como afirmado por Kaya Scodelario, que interpreta Effy Stonem, em entrevista a NME, após comparar a situação dos atores de Skins e Euphoria, “No começo eu pensava ‘nossa, espero que os atores sejam bem cuidados’ e dizia sobre o quanto achava aqueles atores corajosos nas cenas de sexo e drogas, mas aí eu lembrei que fiz tudo isso com 14 anos e não tive ninguém para cuidar de mim”.

Além disso, é válido ressaltar que os danos psicológicos causados pela série não afetaram apenas os artistas, já que a popularidade da obra na época tornava-a influente sobre o público. Assim, a existência de personagens como Cassie (Hannah Murray), que sofria de anorexia nervosa e ensinava estratégias de como fingir que você se alimentou ou para disfarçar a perda de peso, levou a criação de inúmeras páginas na internet nas quais os fãs trocavam dicas de dieta para atingirem o mesmo nível de magreza e padrão corporal da personagem.

Outro limite cruzado entre a representação e a romantização é a pauta do alcoolismo e consumo de opioides, os quais não eram apresentados ao público com o devido cuidado, mas sim como objetos de diversão irrestrita. Uma das personagens que se destacou nesse âmbito foi Effy Stonem (Kaya Scodelario), a qual era enaltecida pelos fãs por ser dona de si e fazer o que bem entendia, por isso a sua despreocupação com o abuso das drogas levou-a a uma overdose. Com isso, o público, em sua maioria adolescente, tornava-se vulnerável e intrigado acerca do uso dessas substâncias, podendo desencadear a dependência química ou, em casos mais graves, episódios de overdose semelhantes ao de Effy.

Assim, o seriado juvenil que percorreu os caminhos da comédia, representação e tragédia, terminou no abismo que separa a conscientização social do incentivo ao definhamento de nossos jovens.

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O artigo acima foi editado por Larissa Gabriel.

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Ana Ribeiro

Casper Libero '27

Jornalista em formação pela Faculdade Cásper Líbero. Interessada por livros, escrita e no aprendizado contínuo sobre a sociedade, principalmente nos eixos político, cultural e educacional ;)