Sobrancelhas descoloridas, smokey eye, delineado preto marcado e pele pálida com contorno acentuado – esses elementos compõem a “succubus” girl aesthetic, que tem viralizado nas redes sociais como sinônimo de um visual gótico glamuroso.
A tendência surgiu para evidenciar o lado “dark feminine”, ou seja, a energia misteriosa e sedutora do sexo feminino, tomando o lugar da “clean girl aesthetic”. Com essa trend, mulheres optam por posar com cabeça baixa, olhar impactante e aura enigmática, vestindo looks com renda, couro, cetim e seda, geralmente em tons escuros e marcantes.
Apesar da tendência resgatar elementos fashion dos anos 2000 e revitalizar o visual gótico, o impacto dessa aparência não se mostra tão positivo. O estilo teve o nome originado a partir de um demônio com aparência feminina, que seduzia os homens em seus sonhos. Cruzou o limite da elegância, transformando o que era para ser sinistro e encantador, em uma aparência cadavérica que só corrobora com a contínua sexualização do sexo feminino.
AS INSPIRAÇÕES
Antes das polêmicas que surgiram sobre o visual, o “succubus chic” foi moda nos anos 2000. A inspiração para o visual foi a atriz Angelina Jolie, que com o ensaio intitulado “Born to be Wild”, produzido para a revista Elle, fez com que outfits em couro, tatuagens, camisa branca com blazer, batom nude e esfumado preto formassem parte das tendências da época.
A atriz de Lara Croft: Tomb Raider foi inspiração fashion durante décadas, papel que hoje, também é ocupado pela influenciadora Kylie Jenner. A modelo é pivô de diversas trends recentes, como é o caso da também conhecida como “voguish vampire”. Em cliques recentes, a empresária apareceu em um visual all black rendado, fazendo nome a outra tendência que se liga diretamente a estética succubus: os “siren eyes”. Basta olhar para a fotografia que já se entende que seu objetivo é a sedução e o aspecto de mistério.
Outras famosas também serviram como referência para a “goth girl aesthetic” – Cara Delevingne,Gabbriette Bechtel e Alexa Demie são alguns nomes que fazem alusão imediata a visuais elegantes que representam com efeito a “dark feminine energy”.
USO DE DROGAS E OBSESSÃO COM A MAGREZA
A “succubus girl aesthetic” viralizou por valorizar elementos intensos e de caráter gótico, que até então haviam sido deixados de lado, para dar a vez a “clean girl aesthetic”. Estética essa que prioriza um aspecto de suavidade, delicadeza e minimalismo através das peças, acessórios e maquiagens.
Logo, a ascensão de uma estética com um teor oposto a essa, fez com que concepções equivocadas fossem associadas a “goth girl” e, por consequência, aderidas pelos usuários das redes que desejavam fazer parte da tendência. O visual cadavérico difundido nas postagens, por exemplo, trouxe a ideia de que a magreza e a palidez seriam parte da imagem. Em uma sociedade em que padrões de beleza são incessantemente impostos e, com isso, casos de distúrbios alimentares se mostram crescentes, idolatrar uma aparência esquelética trouxe uma questão problemática acerca da trend.
Vale ressaltar que a polêmica se intensifica, uma vez que essa condição de magreza exposta nas fotos seria oriunda também do possível uso de drogas. O efeito colateral da perda de peso a partir do uso das substâncias passou a ser visto como meta para aquelas que se inspiram na estética, apelando para o uso de tóxicos no intuito de alcançar a aparência estimada.
É importante ressaltar que essas discussões não estão relacionadas diretamente às fotografias ou influenciadoras que compartilharam conteúdos aderindo a estética. O problema se concentrou no modo como a estética foi disseminada nas redes sociais, que ao invés de compreender o valor da energia “dark” feminina, conduziu para que esta fosse associada às controvérsias mencionadas.
CONSEQUÊNCIAS DA SEXUALIZAÇÃO
Dado que as polêmicas não foram suscitadas pelas influenciadoras, levanta-se o questionamento de que fatores teriam convertido uma estética que enaltece o glamour e poder feminino, para um mecanismo de idolatria a magreza extrema e uso de entorpecentes. A resposta é clichê, porém se revela como mais uma prova da luta das mulheres por seus direitos e pela defesa de sua dignidade na sociedade – a sexualização.
Tanto o ensaio de Angelina Jolie quanto as postagens de Kylie Jenner foram divulgadas com o intuito de valorizar os elementos de seu visual. A composição dos looks foi feita de modo a abraçar a “gótica interior” das musas e, com isso, inspirar outras mulheres a valorizarem essa energia, no lugar de almejar atingir a “clean girl aesthetic”, mencionada anteriormente. Aquelas que não se identificavam com a sutileza dessa, teriam um espaço para validar seu poder de sedução. No entanto, esse espaço foi convertido em uma abertura para homens julgarem a aparência feminina e se apropriarem dela para fetichização.
Aquelas que aderiram a “succubus girl aesthetic” passaram a ser vistas como demasiadamente sexuais, e se tornaram alvos de comentários que defendem a escolha dessa aparência como intuito de apreciação masculina. Essas concepções errôneas levaram o resgate do “voguish vampire” para um lado completamente antagônico à proposta inicial. Devido a isso, a trend tem gradualmente perdido espaço, uma vez que a decisão de postar uma foto com as características do visual, pode ser sexualizada ao invés de vista como uma manifestação de moda.
———————-
O artigo acima foi editado por Juliana Santos.
Gosta desse tipo de conteúdo? Confira a página inicial da Her Campus Cásper Líbero para mais!